Não, não me quero
contextualizar na obra de Dante Alighieri, nos seus poemas épicos na alegoria
ao Inferno, Purgatório e Paraíso. Nem tão pouco situar-me na Idade Média, para
o mesmo efeito, quando os três livros de Dante, do âmbito referido, podem muito
bem afigurar-se em muitos eventos ocorridos, na Idade Contemporânea, nos
séculos XVIII, XIX, XX e XXI. Vejamos alguns exemplos:
No século XVIII, a Revolução
Francesa, as Guerras Napoleónicas e a Revolução Industrial; no século XIX, a
Independência do Brasil, Neocolonialismo, Conferência de Berlim, Partilha de
África, Guerra Civil dos Estados Unidos, Unificação da Itália, Unificação da
Alemanha; no século XX, Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Crise de
1929, Modernismo, Comunismo, Fascismo, Nazismo, Guerra Civil Espanhola, Segunda
Grande Guerra, Conflito Árabe-Israelita, Guerra Fria, Descolonização da África,
Revolução Cubana, Revoluções de 1989, Dissolução da URSS, Consolidação e Expansão
da União Europeia, Globalização. Já no século XXI, temos, por exemplo, a Guerra
ao Terrorismo, a Revolução Digital, a Grande Recessão, a Primavera Árabe, a
Guerra conta o Estado Islâmico e a Pandemia COVID-19.
Tendo em conta este ano de
2020 severamente atípico, jamais sentido pelas atuais gerações, de análogo
somente o que a história nos reza. De maior semelhança, o que grassou pelo
mundo foi há um século. Jornais com relatos daquela vivência, e alguns vídeos,
sobejam pelas redações jornalística, pelas bibliotecas, e por via da Internet.
Mas, destas narrativas, foi o maior tema de muitos de nós neste milénio de dois
mil, acrescido de duas décadas em número redondo, depois de Cristo.
Este ano que ficará de triste
memória, as fake news vieram acrescentar algo mais à perplexidade que já
existia em muitas mentes, na sua forma de atuar em várias vertentes das suas
vidas. Em quem confiar?
Este mesmo ano que vai
terminar, sem saudade, fez avivar aquela força indómita de quem serve, com
assaz mérito, por via das suas atividades profissionais, os que de si dependem
as próprias vidas, e, para muitos, o lenitivo nas suas aflições hospitalares. Para
um formigueiro de gente, a marca vincada dum voluntariado fervoroso da
solidariedade, reforçada, inventando e reinventando-se em modos de suprir
dificuldades dos agonizantes na fome, e não só. Há anjos que no caminho do Céu
se encontram na Terra. Também outros souberam, tanto quanto lhes foi possível,
agarrar com forte empenho a mais pequena oportunidade de prover às necessidades
do pecúlio que, entretanto, se lhes dissipou.
Como habitualmente, neste
Planeta ocorrem fortes alterações climáticas, muito por culpa do bicho-homem,
ou outras catástrofes, a que 2020 não ficou indiferente.
Se logo no primeiro
dia do ano surgiram mortes e deslocados devido a inundações repentinas
na capital da Indonésia, no segundo dia foram os grandes incêndios na
Austrália, contrastando entre a água e o fogo. O nosso país também sentiria
algumas dessas nefastas fases que ocorrem no tempo. Depois os assassinatos e
acidentes por via da política mundial (caso das mortes do general iraniano e do
comandante iraquiano, pelos EUA) e as 176 mortes por engano do míssil iraniano.
Em 11 de janeiro a China reportava a primeira morte causada por Pneumonia viral
causada por novo coronavírus e espalhar-se-ia por todos os cantos do Mundo até
aos dias de hoje. Fevereiro, o mês em que os Estados Unidos e Talibã assinaram um
acordo que estabelece uma estrutura para finalizar a guerra no Afeganistão. Março,
com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar como pandemia a doença do
surto do novo coronavírus no mundo. Abril, com o ciclone Harold a
atingir as Ilhas Salomão, Vanuatu, Fiji e Tonga, matando dezenas de pessoas. Maio,
a trazer-nos astrónomos a anunciarem a descoberta do primeiro buraco negro
localizado num sistema estelar visível a olho nu. Junho, consegue a China,
entre protestos, aprovar a lei de segurança nacional, ignorando o Conselho
Legislativo de Hong Kong. Julho, o lançamento da missão
Perseverance da Nasa para estudar a habitabilidade de Marte em preparação para
futuras missões humanas. Agosto, com Israel e os Emirados
Árabes Unidos a conciliarem-se através dum tratado de paz para normalizar as
relações entre ambos os países; e África é declarada livre da poliomielite
selvagem, o segundo vírus a ser erradicado do continente desde a varíola, 40
anos antes. Setembro, dá-nos conta que que astrónomos relatam a deteção de
fosfina, uma possível assinatura da vida orgânica, na atmosfera de Vénus. Outubro, reporta que foram
anunciados os laureados de 2020 com Nobel de Fisiologia e Medicina, Física,
Química, Literatura, Paz e Ciências Económicas. Novembro, logo no segundo
dia, tiroteios em Viena, Áustria, matando cindo pessoas e ferindo mais de
quinze. No dia seguinte, o Furacão Eta atingia a Nicarágua como furacão de
categoria 4, matando mais de 200 pessoas. No dia 7 deste mês, Joe Biden vence a
eleição presidencial, enquanto Kamala Harris elege-se a primeira mulher
vice-presidente dos Estados Unidos. No
automobilismo, Lewis Hamilton sagra-se campeão mundial de Fórmula 1 pela sétima
vez. O SpaceX Crew-1 é lançado com quatro astronautas. No dia 25, a “divindade”
do futebol mundial, argentino Diego Maradona, morre aos 60 anos. Mas, já antes,
em Portugal, no dia 11, morria o Arquiteto Paisagista e antigo Ministro de
Estado e da Qualidade de Vida, Gonçalo Ribeiro Teles. Dezembro, é altura de o endeusado
Donald Trump; que na sua comédia de quatro anos à frente dos destinos dos
Estados Unidos da América enfureceu o Mundo; deixar os seus “divinos” palanques
dourados, e reconhecer que não é nenhum profeta, nenhum faraó, nenhuma
divindade, e que as mentiras que não conseguiu vomitar do seu interior, não
foram o suficiente para fazer eliminar a democracia, mas mancharam a sua
integridade na pequenez do seu caráter.
Neste 1º de dezembro
respeitado, novamente entre os Portugueses, símbolo do fim da opressão
estranja, do regresso à independência de Portugal, com a sua restauração, vai a
nossa esperança para que, também neste Natal diferente possa haver entre as
famílias, das formas mais bem conseguidas, saúde, paz e amor. Ainda no dia 1 de
dezembro, o beirão Eduardo Lourenço, professor, filósofo, escritor, crítico
literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido,
um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, falecia em Lisboa,
aos 97 anos.
Um final de ano, com o Natal
fora do normal e Ano Novo presumivelmente sem festas, desafiando-se o presente
e pensando-se no futuro, com o regulador britânico a aprovar a vacina Pfizer após “análises rigorosas”. À data
de 2 de dezembro o número de infetados pelo novo coronavírus já ultrapassava
63,8 milhões no Mundo, com 1,4 milhões de mortes e 41 milhões de recuperados da
doença. Mas haveriam de existir os “comediantes” presidentes da Hungria e Polónia
a manterem o bloqueio à “bazuca” de apoios da União Europeia; de Boris Johnson
com o Brexit por resolver e de vários atores hilariantes no orçamento português
para 2021. Também neste ano houve mais mortes e menos nascimentos, registando
Portugal o maior saldo natural negativo do século.
Mantenhamos a esperança para que
no próximo ano nos possamos ver livres das correntes pandémicas que ainda nos
afetam. E seria bom que a lição ficasse bem descortinada em todos nós.
Festas Felizes!
(In "Jornal fórum Covilhã", de 09-12-2020)
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