1 de abril de 2022

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA - JOSÉ ALBERTO FERREIRA AZEVEDO

 






Corria o dia 16 de novembro de 1941, em plena II Grande Guerra, quando nasceu o covilhanense, nosso entrevistado para este número do CE. Pessoa dotada duma extraordinária simpatia, amigo do seu amigo, que reúne no companheirismo muitos em seu redor.

Se ao ver a luz do dia, pela primeira vez, existiam fortes nuvens bélicas no Mundo de então, o seu destino, como tantos milhares de portugueses, seria o de se ver também obrigado a participar, longe da sua Terra, numa guerra subversiva, como então se designava, nos já longínquos anos de sessenta do século XX, para as bandas do continente africano.


Depois de, na tranquilidade desafogada, mesmo em tempo de racionamento, viver com os pais na Quinta Nova, no Refúgio, onde trabalhava na agricultura, feita a instrução primária, rumou, como tantos outros, para prolongar os estudos na Escola Industrial e Comercial Campos Melo. Aqui, volvidos três anos ficaria precocemente sem o pai, pelo que decidiu concluí-los no período noturno já que a quinta, com trabalhadores, necessitava então do seu apoio, assim como sua irmã e a mãe.

Tendo sido chamado para o serviço militar, cuja inspeção foi aos 19 anos, tentou ainda ser considerado “amparo de mãe”, a fim de se libertar daquela obrigação militar, o que não lhe foi concedida. Chegou mesmo a omitir as habilitações escolares, mas em vão.

É então incorporado no RI 10 em Aveiro no dia 14 de agosto de 1962, um ano após o início da chamada Guerra do Ultramar.

Como o mesmo reporta, “nessa altura do início da guerra colonial não havia condições logísticas decentes”. E conta algumas partes interessantes quão também de horripilantes que, face à sua extensão, não cabem nesta página mas que é interessante ouvir-lhe contar.

Em 14 de outubro do mesmo ano foi tirar a especialidade de armas pesadas metralhadora Breda, no RI 2 em Abrantes. Em 28 de novembro passou ainda pelo BC 6 em Castelo Branco e em 3 de setembro de 1963, estando de férias, recebeu ordem de mobilização, apresentando-se em Tomar, seguindo depois para Santa Margarida. Em 5 de dezembro de 1963, já com 16 meses de tropa, e como 1º. Cabo, embarcou com destino a Angola ao enclave de Cabinda, no paquete Vera Cruz. Foi incorporado no Batalhão 554 Companhia 553, chegando a Cabinda a 14 do mesmo mês, assumindo a responsabilidade operacional da Z A em 26 de dezembro. Aqui tiveram bastante atividade, felizmente sem qualquer baixa. A 12 de junho de 1964 seguiram mais para leste, uma zona mais ativa do inimigo (IN) onde sofreram a única baixa em combate. Em outubro de 1964 coube ao Batalhão assegurar a integridade da zona conhecida por Alto do Maiombe. “Aqui, tínhamos grupos de combate em Sanga Planície, em pleno Alto do Maiombe. Numa zona tão extensa só lhe foi atribuída uma Subunidade, que exigia patrulhamentos apeados da ordem dos 130 Km em ambos os sentidos. (…) Os reabastecimentos eram quase na totalidade feitos por meios aéreos e paraquedas. A acrescentar ao esforço físico despendido tinham ainda que reabastecer a pé um destacamento a 13 Km, transportando os géneros às costas, e dedicar o resto das energias na construção de edificações. Neste trabalho duro, a ação do IN fez-se sentir, como na Ponte do Lombe e emboscada em Sanga Miconge. Fizeram-se diversas operações entre elas a Caça Grossa onde destruímos um acampamento do IN – ‘Vale das Pacaças’, na fronteira com o Congo onde foi capturado 1 guerrilheiro e diverso material. O IN foi apanhado de surpresa e ainda ofereceu alguma resistência, mas acabou por sair em debandada já em território do Congo”.

De Cabinda ainda se deslocou para Tando Zinze, Prata, Pangamongo, Miconje, Caio Guembo, Malembo, Tchinzaze, Belize.

O dia mais marcante para o nosso entrevistado foi no dia 6 de dezembro de 1965 em que duas minas anticarro mataram 11 camaradas de uma Companhia que estava adida ao seu Batalhão.

Depois deste “resumo muito breve” – como nos conta José Alberto Azevedo, de muitas estórias “da história que tem do Ultramar”, embarcou em Luanda em 24 de março de 1966 chegando a Lisboa em 6 de abril, seguindo para Tomar, e daqui para a Covilhã, onde finalmente chegou no dia 8 de abril de 1966.

Passou então a exercer a sua atividade profissional de debuxo na indústria de lanifícios, na Covilhã, onde se aposentou.

 

(In “O Combatente da Estrela”, nº 126 – ABR/2022)

Sem comentários: