Na altura em que escrevo esta
crónica está uma primavera muito fria. É a primeira estação do ano, depois de
virado o equinócio em 20 de março. Mas os primeiros dias de abril não têm
apresentado temperaturas amenas e agradáveis e aumento dos índices
pluviométricos. Os dias começam de facto a ficar mais longos e as noites passam
a ser mais curtas. O reflorescimento da flora terrestre começa a surgir. A
mudança de hábitos, agora no modo de vestir, ainda está acautelado para o frio
que não nos vai largando.
As televisões e os jornais
enchem-nos de notícias do terror russo, com u8m Putin hitleriano, numa amálgama
de nazi e jihadista, mas sobre este tema já muito me debrucei.
Como também já muito escrevi
sobre a Revolução dos Cravos, sujeito a repetir algo sobre o tema.
Mas este ano há uma data
insofismável que se reporta ao dia 24 de março de 2022. Conseguimos ultrapassar
a ditadura vivida, em número de dias. São já, nesta data, 17500 dias em
democracia, E a trombeta que assinala esta memorável data dá início às
comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril, que se assinala em 2024. A
efeméride é tão importante que as mesmas irão até 2026.
Outras datas também importantes
serão registadas. Em 24 de março assinalaram-se os 60 anos da crise académica
de 1962, quando o Estado Novo proibiu as comemorações do Dia do Estudante. Era
então líder estudantil, naquela altura, Jorge Sampaio, que chegou a afirmar,
por tal facto, que “o 25 de Abril começou a 24 de Março”. E é por isso que
arrancam aqui as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril.
Mas em 3 de abril também se
comemoram 30 anos da morte de Salgueiro Maia, o capitão que comandou a coluna
de blindados que veio de Santarém para vir cercar os ministérios do Ter4reiro
do Paço, que fez o ultimato a Marcelo Caetano e o levou à rendição perante o
general Spínola, e depois o escoltou até ao aeroporto de onde partiu para o
exílio. Tudo sem disparar um tiro.
Nem toda a obra é perfeita, nem
tudo se pensa que venha a surgir no âmbito dos nossos sonhos. Quem, como eu,
viveu longo tempo na ditadura, e sonhou com outros tempos que passariam a ser
risonhos, num horizonte de plena felicidade, apesar de a obra não ser perfeita,
jamais se contava com condutas conducentes aos tempos que se viveram em
ditadura, onde os pobres eram cada vez mais pobres, e os ricos com as
algibeiras cada vez mais carregadas do vil metal.
Comemorámos esta data do 25 de
Abril, algumas vezes já sem aquela força impulsora, intrínseca, indomável que
inebriava as nossas almas. Foram muitos os governantes que, tendo uma imagem de
homens e mulheres sérias, e até então honestas, por via do poder do dinheiro
fizeram por olvidar esta caraterística duma pessoa confiável, porque o poder do
dinheiro é mais forte que a robusta honestidade.
Apesar destas manchas que
surgiram na nossa democracia, incluindo o desaproveitamento dos fundos
europeus, e o seu esbanjamento em certos governos de Portugal, com o salto para
a ribalta política de jotas, boys e girls, que muitos
vieram prosseguir o caminho da governação, valeu a pena a Revolução dos Cravos.
O próprio antigo Presidente da
República Ramalho Eanes admitiu que, na altura do 25 de Abril de 1974 “esperava
mais”, afirmando que não foi feito o suficiente para se “politizar a
sociedade” e instituir uma “democracia
dinâmica, em que o povo resolvesse participar, em que o povo sentisse que ele é
efetivamente o dono da liberdade e o dono do país.”
João de Jesus Nunes
(In “Notícias da Covilhã” digital, de
14-04-2022)
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