1 de abril de 2022

NÃO QUEREMOS MAIS GUERRAS

 

Depois de um período de paz entre nações de quase oito décadas, que resistiu até a terramotos políticos como o colapso do mundo soviético ou às sequelas da guerra civil nos Balcãs, a Europa assiste incrédula, assustada e preocupada a uma nova violação de fronteiras.

Os tambores de guerra vão sobrepor-se à prioridade mundial do combate à crise ambiental e climática, que exige uma necessária e urgente cooperação forçada entre todas as grandes potências.

Desde 1945 e o fim da Segunda Guerra Mundial que a Europa tinha atravessado um período de paz. Com exceção de alguns conflitos localizados que resultaram da independência de novos Estados após o já aludido colapso da União Soviética, nos últimos 77 anos não houve guerra na Europa.

As gerações de europeus que nasceram e viveram neste período nunca conheceram outra situação que não fosse a paz. Para aqueles que nasceram depois do fim da Segunda Guerra Mundial a paz é um dado praticamente adquirido.

O conflito militar aberto entre a Rússia e a Ucrânia, com o possível envolvimento dos países ocidentais, vem alertar o Mundo para as consequências dramáticas do fim da paz na Europa, e, quiçá, do Mundo.

Além da insegurança, da perda de vidas humanas e da destruição, há efeitos económicos imediatos que já se fazem sentir com as sanções aplicadas, a suspensão de trocas comerciais e a redução dos investimentos.

No ano transato comemoraram-se os cem anos da fundação da Liga dos Combatentes ao serviço de Portugal e de seus gloriosos Combatentes; e também sessenta anos do início das guerras coloniais em que os portugueses foram envolvidos por força da teimosia dum regime ditatorial que, felizmente, teve os seus últimos dias em 1974 com a Revolução dos Cravos.

Sem olvidar o tempo difícil por que certamente iremos passar, fruto também de um assassino ditador russo, desejoso do imperialismo e saudosista da URSS, derrubada em 1991, sabemos que, em 1974, havia 150 mil jovens portugueses compulsivamente a prestar serviço nas Forças Armadas, a maior parte das quais em Angola, Guiné e Moçambique e que a guerra colonial sorveu, em 13 anos, mais de 90% da juventude masculina, obrigada ao serviço militar de dois a quatro anos. Segundo dados do EMGFA, dos 8831 militares portugueses mortos devido a várias causas, 4027 perderam a vida em combate e a guerra provocou ferimentos e deficiências físicas em cerca de vinte mil, dos quais 520 com grau superior a 60%. Relativamente aos portugueses que foram psicologicamente afetados, com stress pós-traumático, que atingiu ex-combatentes e famílias inteiras, embora o número seja contestado, contabilizaram-se 140.000, segundo informação do Público.

Com base no mesmo periódico, ainda está por calcular o verdadeiro número de compelidos, refratários e desertores portugueses, cujo papel, tal como o da emigração, contou tanto contra o esforço de guerra colonial, como para o 25 de Abril de 1974. Sobretudo, estão por contabilizar quantos africanos, civis e dos movimentos de libertação morreram, ficaram feridos e com stress pós-traumático. Os mortos africanos terão chegado pelo menos aos cem mil.

Escrevi estas linhas no dia 8 de março, dedicado ao Dia Internacional da Mulher. Não podemos também esquecer a Mulher em tempos de guerras. Como temos sobejamente presenciado, vemo-la a carregar o peso de deixar o marido para trás e levar pela mão os filhos pequenos, a caminho de um país que acolha os refugiados da Ucrânia. É a maior prova de fogo a que milhares de mulheres europeias estão sujeitas. O mesmo já aconteceu na Síria, no Afeganistão. Desta vez toca-nos mais perto. É no Velho Continente, conforme refere Rosália Amorim, in DN, que parece ter esquecido as feridas profundas da Segunda Guerra Mundial, que eclodiu o conflito que dilacera as famílias.

Ainda sem termos saído de uma outra guerra – a pandemia Covid 19 – que também as nossas gerações não haviam conhecido, faltava-nos a crueldade de um ser humano, se é humano que assim se possa chamar, a esse tétrico Putin, qual novo Hitler, amante de uma nova guerra.

Resta-nos, pois, afirmar gritantemente: NÃO QUEREMOS MAIS GUERRAS!

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “O Combatente da Estrela”, nº 126 – ABR/2022)

 

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