Depois de um período de paz
entre nações de quase oito décadas, que resistiu até a terramotos políticos
como o colapso do mundo soviético ou às sequelas da guerra civil nos Balcãs, a
Europa assiste incrédula, assustada e preocupada a uma nova violação de
fronteiras.
Os tambores de guerra vão
sobrepor-se à prioridade mundial do combate à crise ambiental e climática, que
exige uma necessária e urgente cooperação forçada entre todas as grandes
potências.
Desde 1945 e o fim da Segunda
Guerra Mundial que a Europa tinha atravessado um período de paz. Com exceção de
alguns conflitos localizados que resultaram da independência de novos Estados
após o já aludido colapso da União Soviética, nos últimos 77 anos não houve
guerra na Europa.
As gerações de europeus que
nasceram e viveram neste período nunca conheceram outra situação que não fosse
a paz. Para aqueles que nasceram depois do fim da Segunda Guerra Mundial a paz
é um dado praticamente adquirido.
O conflito militar aberto
entre a Rússia e a Ucrânia, com o possível envolvimento dos países ocidentais,
vem alertar o Mundo para as consequências dramáticas do fim da paz na Europa, e,
quiçá, do Mundo.
Além da insegurança, da perda
de vidas humanas e da destruição, há efeitos económicos imediatos que já se
fazem sentir com as sanções aplicadas, a suspensão de trocas comerciais e a
redução dos investimentos.
No ano transato comemoraram-se
os cem anos da fundação da Liga dos Combatentes ao serviço de Portugal e de
seus gloriosos Combatentes; e também sessenta anos do início das guerras
coloniais em que os portugueses foram envolvidos por força da teimosia dum
regime ditatorial que, felizmente, teve os seus últimos dias em 1974 com a
Revolução dos Cravos.
Sem olvidar o tempo difícil
por que certamente iremos passar, fruto também de um assassino ditador russo,
desejoso do imperialismo e saudosista da URSS, derrubada em 1991, sabemos que,
em 1974, havia 150 mil jovens portugueses compulsivamente a prestar serviço nas
Forças Armadas, a maior parte das quais em Angola, Guiné e Moçambique e que a
guerra colonial sorveu, em 13 anos, mais de 90% da juventude masculina,
obrigada ao serviço militar de dois a quatro anos. Segundo dados do EMGFA, dos
8831 militares portugueses mortos devido a várias causas, 4027 perderam a vida
em combate e a guerra provocou ferimentos e deficiências físicas em cerca de
vinte mil, dos quais 520 com grau superior a 60%. Relativamente aos portugueses
que foram psicologicamente afetados, com stress pós-traumático, que
atingiu ex-combatentes e famílias inteiras, embora o número seja contestado,
contabilizaram-se 140.000, segundo informação do Público.
Com base no mesmo periódico,
ainda está por calcular o verdadeiro número de compelidos, refratários e
desertores portugueses, cujo papel, tal como o da emigração, contou tanto
contra o esforço de guerra colonial, como para o 25 de Abril de 1974.
Sobretudo, estão por contabilizar quantos africanos, civis e dos movimentos de
libertação morreram, ficaram feridos e com stress pós-traumático. Os
mortos africanos terão chegado pelo menos aos cem mil.
Escrevi estas linhas no dia 8
de março, dedicado ao Dia Internacional da Mulher. Não podemos também esquecer
a Mulher em tempos de guerras. Como temos sobejamente presenciado, vemo-la a
carregar o peso de deixar o marido para trás e levar pela mão os filhos
pequenos, a caminho de um país que acolha os refugiados da Ucrânia. É a maior
prova de fogo a que milhares de mulheres europeias estão sujeitas. O mesmo já
aconteceu na Síria, no Afeganistão. Desta vez toca-nos mais perto. É no Velho
Continente, conforme refere Rosália Amorim, in DN, que parece ter esquecido as feridas profundas da
Segunda Guerra Mundial, que eclodiu o conflito que dilacera as famílias.
Ainda sem termos saído de uma
outra guerra – a pandemia Covid 19 – que também as nossas gerações não haviam
conhecido, faltava-nos a crueldade de um ser humano, se é humano que assim se
possa chamar, a esse tétrico Putin, qual novo Hitler, amante de uma nova
guerra.
Resta-nos, pois, afirmar gritantemente:
NÃO QUEREMOS MAIS GUERRAS!
João de Jesus Nunes
(In “O
Combatente da Estrela”, nº 126 – ABR/2022)
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