5 de abril de 2023

GENTILICAMENTE FALANDO

De passagem pelos diários online todas as manhãs, o tempo remanescente vai preencher os compromissos, em termos de prazos solicitados, com as publicações nos periódicos que me dão a honra de reservar um espaço para os meus textos.

Sim, é uma honra ter um espaço próprio, o que me leva a fazer algum esforço para que, no desenvolvimento cognitivo, a memória deixe de me pregar partidas com a sua indolência. De facto, é já a oxidação impregnada pelos anos da nossa vivência neste planeta.

Não se pode agradar a gregos e a troianos, mas o pluralismo de opiniões deve ser respeitado. Já me têm perguntado onde vou encontrar assuntos para tantas crónicas diferentes, dispersas por várias publicações, respondendo-lhes que se deve à organização que cada um imprime à sua maneira de trabalhar, e da observação que se faz do interesse do Leitor, ele, que se reveste na personalidade mais importante de uma publicação.

Os responsáveis pela minha veia da escrita foram, em primeiro lugar, meu Pai, então na antiga Biblioteca Municipal da Covilhã, ao Jardim; e, depois, professores de excelência que tive, in illo tempore dos anos 50 e 60 do século XX, no “Português”, que me marcaram, como foi o Dr. Manuel de Castro Martins, que dá o nome a uma das ruas desta Cidade. Também não posso esquecer que, no “Francês”, foi sua esposa, Drª. Edite Castro Martins, a minha melhor professora, para, no “Inglês”, se evidenciarem os dotes de ensino da Drª. Maria Leitoa Cerdeira.

Vários pequenos pormenores destes Mestres do Ensino ficaram assinalados na minha memória para sempre, o que me levou, por algumas vezes, no seguimento da vertente de várias facetas, a publicá-los ao longo de quase 60 anos de escrita.

É segunda-feira e sento-me para escrever a minha crónica para entregar até sexta-feira, já que acabei de enviar a que me pediram, para o quinzenário algarvio sair no dia 1 de abril.

Comecei manhã cedo, entre uns raios de sol que sorridentemente entravam pelo meu escritório, sobrepondo-se à palmeira do quintal.

Os pássaros ainda não se veem e já os teclados do computador são silenciosos em contraste com as antigas máquinas de escrever, que utilizava para os primeiros textos das décadas de 60 a 90 do século passado.

Está um tempo convidativo para uns passeios pelos encantos deste nosso País, onde a gastronomia marca pontos. Neste contexto, não me apraz escrever sobre as crises atuais, às quais já dei algum desenvolvimento em números anteriores. Escrevo, antes, sobre um tema mais prosaico – os gentílicos.

E isto vem a propósito de há uns anos, num almoço proveniente de uma confraternização em Fátima em que nos encontramos na mesma mesa com um casal desconhecido, fomos perguntando a proveniência de cada um, tendo esse casal dito que era calipolense. Alguns não sabiam que o calipolense é o natural de Vila Viçosa.

Já Bagão Félix se referia num seu artigo de 2017, in Público, que “Os substantivos gentílicos (se adjetivos igualmente conhecidos por adjetivos pátrios) são as palavras que designam uma pessoa de acordo com o seu local de nascimento ou de residência. Se observarmos a maioria dos gentílicos, verificamos que nem seguem um padrão escrito para as suas terminações, antes variam de uma maneira tão alargada que torna a coisa complicada, mas divertida. Alguns são até independentes dos nomes com que estão relacionados. Por exemplo, carioca do Rio de Janeiro (se cidade) e fluminense (se Estado), gaúcho do Rio Grande do Sul”.

Do meu tempo de escola já se conheciam os nomes gentílicos: flaviense (Chaves), escalabitano (Santarém), albicastrense (Castelo Branco), egitaniense (da Guarda ou de Idanha-a-Velha), nabantino (de Tomar, também chamados tomarenses). Existe ainda o coliponense, relativo á cidade de Leiria, com o sinónimo geral leiriense. Já salaciano é o natural ou habitante de Alcácer do Sal. O cubense (mas não cubano, nem cubista) de Cuba no Alentejo. Lacobrigense ou lacobricense é o natural de Lagos; o senense, de Seia; o amarantino, de Amarante, assim como o barranquenho é o natural Barrancos.

Gosto também do sistema duplo de alguns gentílicos menos conhecidos: em Cartaxo, cartaxeiro ou cartaxense; em Minde, minderico; em Penaguião, penaguiense e penaguiota; no Pico, picuense e picaroto.

Esta é uma pequena amostra gentílica, pois muito mais haveria a dizer, por exemplo no que concerne a cidades estrangeiras.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 05-04-2023)

 

 

Sem comentários: