De passagem pelos diários online todas
as manhãs, o tempo remanescente vai preencher os compromissos, em termos de
prazos solicitados, com as publicações nos periódicos que me dão a honra de
reservar um espaço para os meus textos.
Sim, é uma honra ter um espaço
próprio, o que me leva a fazer algum esforço para que, no desenvolvimento
cognitivo, a memória deixe de me pregar partidas com a sua indolência. De
facto, é já a oxidação impregnada pelos anos da nossa vivência neste planeta.
Não se pode agradar a gregos e a troianos,
mas o pluralismo de opiniões deve ser respeitado. Já me têm perguntado onde vou
encontrar assuntos para tantas crónicas diferentes, dispersas por várias
publicações, respondendo-lhes que se deve à organização que cada um imprime à
sua maneira de trabalhar, e da observação que se faz do interesse do Leitor, ele,
que se reveste na personalidade mais importante de uma publicação.
Os responsáveis pela minha veia
da escrita foram, em primeiro lugar, meu Pai, então na antiga Biblioteca
Municipal da Covilhã, ao Jardim; e, depois, professores de excelência que tive,
in illo tempore dos anos 50 e 60 do
século XX, no “Português”, que me
marcaram, como foi o Dr. Manuel de Castro Martins, que dá o nome a uma das ruas
desta Cidade. Também não posso esquecer que, no “Francês”, foi sua esposa, Drª. Edite Castro Martins, a minha
melhor professora, para, no “Inglês”,
se evidenciarem os dotes de ensino da Drª. Maria Leitoa Cerdeira.
Vários pequenos pormenores destes
Mestres do Ensino ficaram assinalados na minha memória para sempre, o que me
levou, por algumas vezes, no seguimento da vertente de várias facetas, a publicá-los
ao longo de quase 60 anos de escrita.
É segunda-feira e sento-me para
escrever a minha crónica para entregar até sexta-feira, já que acabei de enviar
a que me pediram, para o quinzenário algarvio sair no dia 1 de abril.
Comecei manhã cedo, entre uns
raios de sol que sorridentemente entravam pelo meu escritório, sobrepondo-se à
palmeira do quintal.
Os pássaros ainda não se veem e
já os teclados do computador são silenciosos em contraste com as antigas
máquinas de escrever, que utilizava para os primeiros textos das décadas de 60
a 90 do século passado.
Está um tempo convidativo para
uns passeios pelos encantos deste nosso País, onde a gastronomia marca pontos.
Neste contexto, não me apraz escrever sobre as crises atuais, às quais já dei
algum desenvolvimento em números anteriores. Escrevo, antes, sobre um tema mais
prosaico – os gentílicos.
E isto vem a propósito de há uns
anos, num almoço proveniente de uma confraternização em Fátima em que nos
encontramos na mesma mesa com um casal desconhecido, fomos perguntando a proveniência
de cada um, tendo esse casal dito que era calipolense. Alguns não sabiam que o
calipolense é o natural de Vila Viçosa.
Já Bagão Félix se referia num seu
artigo de 2017, in Público, que “Os substantivos gentílicos (se
adjetivos igualmente conhecidos por adjetivos pátrios) são as palavras que
designam uma pessoa de acordo com o seu local de nascimento ou de residência.
Se observarmos a maioria dos gentílicos, verificamos que nem seguem um padrão
escrito para as suas terminações, antes variam de uma maneira tão alargada que
torna a coisa complicada, mas divertida. Alguns são até independentes dos nomes
com que estão relacionados. Por exemplo, carioca do Rio de Janeiro (se cidade)
e fluminense (se Estado), gaúcho do Rio Grande do Sul”.
Do meu tempo de escola já se
conheciam os nomes gentílicos: flaviense (Chaves), escalabitano (Santarém),
albicastrense (Castelo Branco), egitaniense (da Guarda ou de Idanha-a-Velha),
nabantino (de Tomar, também chamados tomarenses). Existe ainda o coliponense, relativo
á cidade de Leiria, com o sinónimo geral leiriense. Já salaciano é o natural ou
habitante de Alcácer do Sal. O cubense (mas não cubano, nem cubista) de Cuba no
Alentejo. Lacobrigense ou lacobricense é o natural de Lagos; o senense, de
Seia; o amarantino, de Amarante, assim como o barranquenho é o natural
Barrancos.
Gosto também do sistema duplo de
alguns gentílicos menos conhecidos: em Cartaxo, cartaxeiro ou cartaxense; em
Minde, minderico; em Penaguião, penaguiense e penaguiota; no Pico, picuense e
picaroto.
Esta é uma pequena amostra
gentílica, pois muito mais haveria a dizer, por exemplo no que concerne a
cidades estrangeiras.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
05-04-2023)
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