Longe vão os tempos em que alguns jornais – os grandes jornais – eram quase
como que uns pequenos “lençóis” em papel que, de certo modo, dificultavam a
leitura de cada página na sua íntegra, fosse numa biblioteca municipal ou numa
coletividade, ou em casa para os poucos que os adquiriam; ou, então, numa
viagem de comboio ou de avião, em que havia necessidade de encolher os braços a
fim de não incomodar o parceiro de viagem, para já não referir nos bancos do
jardim, que, para voltar uma página, com um pouco mais de aragem, era o enrolar
delas. Mas, nas décadas de 40 a 60 do século XX, no final da leitura do jornal,
das gordas ou daquele título mais apelativo, por vezes mais sensacionalista que
realista, em vez de terem o destino do lixo, ou servirem para embrulhar os
sapatos que levaram meias-solas, ou as castanhas assadas em seu tempo, ainda
eram muito úteis para acautelar peças em vidro. A venda do papel usado tinha
preços míseros pelo que hoje se traduz nalgum aproveitamento para instituições
de solidariedade social. Já as crianças se divertiam a fazer aviões ou
barquinhos de papel de jornal, para além das cartolas, enfim, entretenimentos
de outros tempos que já lá vão.
No entanto, não deixava de ser um deleite ver também as fotos de figuras
importantes, entre a leitura daquelas enormes páginas, repletas de fotografias meio
desnudadas para a época, como acontecia nos jornais O Século e o Diário
Popular e as beldades na revista Flama.
Hoje, tudo se modificou, se bem que na maioria dos casos para melhor, mas
ainda existem jornais, mais pela via dos semanários, em que se nota a
fragilidade da escassez de leitores, obrigando alguns deles a reduzir páginas,
a desvalorizar a qualidade do papel, numa contribuição para o afastamento dos
leitores, e seguindo, alguns, na tentativa de renascerem das cinzas, a via do
jornal gratuito. Isto leva a que
as bancas se desinteressem da sua distribuição, colocando-os quase escondidos,
e as autarquias a suportarem esses encargos, para que o nome da terra não deixe
de encabeçar o jornal, entrando, quantas vezes, em desnecessárias polémicas de
concorrência desleal.
A qualidade dum jornal vê-se também pelo elevado número dos seus
colaboradores permanentes com os seus artigos de opinião, o que acontece com o
Jornal Olhanense, e o Jornal Fórum Covilhã, só para dar dois exemplos
de um quinzenário e dum semanário do sul e do centro-norte do país,
respetivamente. Mas há mais.
Qual terá sido o primeiro jornal da história? Não era de papel. Nem
estava nas bancas...porque não as havia. O precursor do que viria a ser um
jornal foi o romano Acta Diurna (“Atos Diários”, em latim). Lançado em
59 a. C. Era esculpido em pedra ou metal, dependendo da época, e ficava exposto
em locais públicos, como o Fórum de Roma. Apresentava desde avisos oficiais do
império, como decretos do imperador, decisões do Senado e de magistrados, até
eventos da sociedade: nascimentos, casamentos e óbitos de cidadãos notáveis.
Foi criado por ordem de Júlio César (100 a. C – 44 a. C.). Ele era guardado
para fins de pesquisa e também tinha cópias enviadas para partes distantes do
Império Romano, de modo que os governadores ficassem a par de novas leis.
E o primeiro jornal português? Nasceu um ano depois de Portugal recuperar
a independência, a 1 de dezembro de 1640. A Gazeta da Restauração foi
acarinhada por D. João IV e seus apoiantes que viram neste periódico “um
excelente instrumento de propaganda” de legitimação do novo poder e uma forma
de denegrir os efeitos dos espanhóis.
O primeiro número da “Gazeta em Que Se Relatam as Novas Que houve
Nesta e Que vieram de Várias Partes” – que haveria de ficar conhecida como Gazeta
da Restauração – foi publicada em novembro de 1641 e posto a circular a 3
de dezembro do mesmo ano. Tinha 12 páginas.
A Gazeta de Lisboa foi o principal periódico de informação política
portuguesa entre 1715 e 1820, tendo algumas caraterísticas de um jornal
oficial. Funcionou como uma arma de propaganda durante as guerras com Castela
após a aclamação de D. João IV. Mas só se começou a publicar em 1715, durante o
reinado de D. João V, sendo considerado o primeiro jornal oficial português.
Mas já aqui começou a haver censura. Por ordem do Ministro Sebastião José
de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, o jornal esteve suspenso de junho
de 1762 a agosto de 1778, embora não se sabendo a causa imediata e concreta
desta suspensão, todos os estudiosos na matéria invocam o desagrado do ministro
com alguns artigos menos favoráveis à sua governação. O facto é que o jornal
não voltou a publicar-se durante o reinado de D. José. Dois meses depois de ter
sido suspensa, a Gazeta da Restauração, voltou a ser impressa..., mas com novas
orientações editoriais e novo cabeçalho. Foi assim que nasceu a “Gazeta Primeira do Mês de Outubro de Novas
Fora do Reino”.
No início do reinado de D. Maria I, no dia 4
de agosto de 1778, a “Gazeta de Lisboa” reapareceu,
conservando este título até 30 de dezembro de 1820.
Ao longo dos tempos, até aos dias de hoje,
muitas alterações houve nos jornais, e no âmbito da atividade jornalística. A
modernidade com as novas tecnologias a isso se deveu. O mundo não para de
girar.
Surgiram os diários digitais, sendo que o
designado Diário Digital – o primeiro jornal online português fechou após 17
anos. Ao fim de quase 18 anos a dar notícias, o jornal Diário
Digital encerrou numa sexta-feira, 30 de dezembro de 2016. Foi o primeiro
jornal de cobertura nacional totalmente online em Portugal, chegando a ter
cerca de 80 pessoas na redação.
Depois todos os jornais em papel tiveram
também a sua versão online, surgindo assinaturas para o conjunto das duas
versões ou só para cada uma delas.
Entretanto, apareceram os jornais gratuitos,
mormente nos grandes meios populacionais. Crê-se que o primeiro jornal diário
gratuito do mundo seja o Contra Costa Times, fundado em 1947
na Califórnia, EUA. A história da imprensa de distribuição gratuita que obedece
às regras do jornalismo é bastante mais recente. Na Europa, o primeiro foi o
sueco Metro, fundado em 1995.
Em Portugal, o Destak, fundado em 2004,
foi o primeiro diário gratuito português, tendo sido distribuído em 8 cidades.
O seu grande rival foi o Metro. Em setembro de 2007 foi lançado o Global
Notícias, extinto em 2010, tal como o Meia Hora. Na vertente económica, surgia o gratuito OJE.
Entre
outros, que tiveram um prematuro fim, na Covilhã havia surgido o Diário
XXI e
o mensário Já Agora.
A primeira vez que vi jornais gratuitos, colocados na via pública, foi no
ano de 2006, em Praga ou Viena de Áustria, já não me recordo. Por cá, em Lisboa
ou no Porto, era usual isso verificar-se. Hoje estão a perder de moda, penso
que não têm a aceitação dum jornal a ser adquirido nas bancas, ou por
assinatura, onde não são impostas tantas restrições ou seleção de
colaboradores, o que leva muita a gente a olhá-los de soslaio.
Para terminar, já que tenho abusado do espaço do jornal, fruto do
entusiasmo que à escrita devoto, lembro aos prezados Leitores, interessados
nesta curiosidade, algumas das várias alterações de formato dos jornais em
papel (na generalidade ainda não havia jornais online), e da configuração dos
títulos dos mesmos. Para uns deixou saudades, para outros nem tanto.
Consultados alguns primeiros e últimos números de edições jornalísticas, aqui
vão alguns exemplos:
- DIÁRIOS EXTINTOS: - “A Capital” e “O Comércio do Porto” ,
o último número, de cada um, reporta-se a 30-07-2005, e tinham o formato 40 x
29; “O Independente”, o último número é de 01-09-2006, com o mesmo
formato dos anteriores;
- DIÁRIOS QUE ALTERARAM O FORMATO: - “Expresso”, o último de
grande formato (57 x 35) foi, em 02-09-2006, substituído o formato para 49 x
29, na edição seguinte: 09-09-2006; “Diário de Notícias”, se em
15-04-1974 e 03-05-1974 mantinham o grande formato (58 x 39), já em 20-02-2006,
no seu número 50.000, tinha o formato reduzido para 40 x 38; o “Jornal de
Notícias”, em 17-01-1998 o seu formato era 57 x 38, passando em 18-01-1998
para 45 x 28. Nos desportivos, o Jornal “A Bola” sempre contrastou em
formato com o seu congénere “Record”. Enquanto que “A Bola” no
dia 09-01-1995 possuía as dimensões de 56 x 38, já na edição de 10-02-1995,
passou a optar pelo formato 40 x 27. O Jornal “Record” manteve quase
sempre a mesma linha de formato, entre 43 x 28 (17-11-1951). O Jornal mais
antigo do País – “Aurora do Lima”, na data do aniversário dos seus 150
anos, em 15-12-2005, possuía o formato 43 x 29. Os jornais “O Sol” e o “Público”
têm-se mantido no formato entre 40 x 27. A extinta revista “Flama” ,
muito lida, variava entre os formatos 32 x 23 e 30 x 21.
E por hoje é tudo, Caros Leitores. Não percam os hábitos de boas
leituras.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”,
de 01-04-2023)
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