Neste mês de setembro temos o
término das férias da generalidade das gentes das nossas gentes, e das outras
gentes a viver por este país fora, quer seja no Continente ou nas Regiões
Autónomas, depois de um calor abrasador, apesar de flores coloridas que nos foram
rodeando.
É o regresso às tarefas
profissionais para uns, enquanto, para outros, além do retorno às aulas nas
escolas, é também a azáfama de encontrar casas ou quartos para os que entram
pela primeira vez nas universidades. As
preocupações económicas com os gastos acrescidos, são agora mais patentes, enquanto
as ações governativas tendentes a serem encontradas, em devido tempo, soluções
para estes problemas, é, mais uma vez, numa de assobiar para o lado.
Os partidos políticos, em vez da
sua união em prol dos verdadeiros interesses dos cidadãos, vão-se guerreando, na
pretensão de fazer desfraldar as suas bandeiras mais que as outras,
aproveitando a agitação de alguns ventos, assobiando para o lado quando o grito
de revolta dos prejudicados, e dos mais necessitados, se faz sentir.
Mas isto já não é de agora, é de
sempre. As promessas vãs, entre as quais se sobressaem a irrevogabilidade das
palavras ditas, cujo substantivo, certamente saído traiçoeiramente da voz de
quem o pronunciou, acaba, quantas vezes adornado de outra forma de anular a
decisão tomada. Basta assobiar para o lado.
Recentemente foi a fuga de cinco
reclusos perigosos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, um local
considerado altamente seguro, mas, talvez em situações de assobiar para o lado nas
decisões ou cautelas acrescidas a tomar, vimos que “de alta segurança” transformou-se
numa escada “de alta descida” dos presos que assim se aproveitaram da
“incompetência” e “cadeia sucessiva de erros e falhas” nas palavras da ministra
da Justiça, Rita Alarcão Júdice.
E que dizer da corrupção que cada
vez mais portugueses a consideram como prática comum no nosso país? Se não se
assobiasse tanto para o lado e se de frente se enfrentassem os problemas com
eficácia, numa severidade na aplicação das penas, em tempo célere como noutros
países e não naquele coçar da cabeça, deixando que os processos sejam anulados
por terem ultrapassado o prazo, certamente tudo seria mais fácil, mandando à
fava a nossa peculiaridade dos brandos costumes.
Não estou a incitar à violência,
nem a olvidar a tolerância, mas o que é certo e verdade é que a paciência tem
limites quando aos nossos olhos se nos depararam com tanto casos de rebeldia
profissional numa só de exigência de direitos ocultando os deveres para com o
cidadão, muitas vezes envoltos na manta da vitimização.
Fico por aqui, neste âmbito, para
evitar más interpretações. No entanto, na edição de 2023 do Índice de Perceção
da Corrupção, publicado anualmente pela Transparency International, revela que
o combate à corrupção em Portugal continua a não avançar e tem falhas ao nível da
integridade na política. Portugal, que é avaliado no conjunto dos países da
Europa Ocidental e União Europeia, obteve 61 pontos, fixando-se na 34ª posição
em 180 países.
A corrupção é vista como prática
generalizada no nosso país por parte de 96% dos portugueses, um número que
coloca Portugal como o segundo país da União Europeia (UE) onde a perceção deste crime é maior, de acordo
com o mais recente Eurobarómetro.
Terminado o mês de agosto, os
emigrantes viram chegar o fim das suas visitas à terra, familiares e amigos.
Fizeram-no numa época em que o termo migração é mais europeu e atual do que
nunca. Porém, na memória coletiva, as experiências migratórias permanecem
abafadas, naquele assobiar para o lado. O silêncio em torno do 60º aniversário
do tratado laboral entre Portugal e a Alemanha, assinado a 17 de março de 1964,
que serviu de enquadramento legal para a emigração de milhares de portugueses para
um dos principais destinos diaspórios do pós-guerra é sintomático disso,
segundo nos narra Clara Ervedosa, no Público de 23-8-2024. “A Alemanha e
Portugal são países com uma geografia, história e cultura distintas: Portugal
fica no extremo sudoeste da Europa e as suas fronteiras são as mais antigas do
continente. Possui uma identidade nacional estável e absorve facilmente o que é
estrangeiro. A Alemanha define-se como país situado ‘no coração da Europa’,
está rodeada de nove países com quem disputou fronteiras, tendo a última
alteração territorial ocorrido há apenas 33 anos”, com a reunificação alemã em
1980, que marcou o fim da divisão entre Alemanha Ocidental (República Federal
da Alemanha) e Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) que existiam
separadamente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A reunificação
oficial aconteceu em 3 de outubro, após a queda do Muro de Berlim em novembro
de 1989. Como se devem recordar, este processo trouxe a integração dos
territórios da Alemanha Oriental à República Federal da Alemanha, resultando no
que hoje é o território unificado da Alemanha.
E porque desta vez quis salientar
a apatia que vai existindo em muito boa gente deste país, naquele de assobiar
para o lado, qual Lucília Gago, atual Procuradora-Geral da República, no final
do seu mandato, mas na saudade da recentemente falecida, Joana Marques Vidal,
não posso deixar de recordar um meu artigo publicado no Notícias da Covilhã, em
24-12-2004, já lá vão 20 anos, sob o título “O ‘OH!’ E O ‘AH!’”, sobre a
corrupção.
Para ultimar este texto, que já
vai longo, e pegando exclusivamente nas duas interjeições atrás referidas,
quero com elas retificar o último parágrafo do meu artigo do último número d’ “O
Combatente da Estrela’”, nº. 135, JUL/2024, sob o título “Tempo de férias mas
também de reflexão”, numa mea culpa pelo lapso ocorrido sobre Luís de Camões,
onde referi: “E assim termina a vida de Luís
de Camões, mas fica na imortalidade de Portugal e do Mundo, em que o seu
linguajar literário foi sempre reconhecido como erudito. Ele não escrevera para
ignorantes”. Deveria ser, mais ou
menos neste sentido, que aquela parte deverá substituir: “E assim termina a vida de Luís de Camões,
mas ele permanece na imortalidade de Portugal e do mundo, onde sua linguagem
literária sempre foi reconhecida como erudita. Ele não escrevia para
ignorantes”.
(Este texto foi escrito na noite do dia 12-09-2024)
João de Jesus Nunes
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