Iniciei esta crónica na manhã do último dia de setembro, ainda sem saber como
lhe inserir um conteúdo que não fosse pessimista face aos tempos que correm,
mas antes encontrar uma dose de otimismo mais adequada no caminho daquele lenitivo
que necessitamos para os acontecimentos que nos chegam todos os dias.
Sobre a minha secretária, n’ “O Mensageiro”, de outubro 2024, na rubrica Sessão
com Arte, Isabel Maria Mónica em “Tecer de Verão o Tempo”, escreve “quando
damos por nós já estamos em modo de repetição desenfreada mal pensando nas
nossas ações e decisões diárias. Face a este ritmo acelerado, importa recordar
o verão com o coração agradecido e disponível”.
“O Papa Francisco foi o primeiro a dizer-nos que vivemos uma terceira
guerra mundial aos pedaços” – escreve a jornalista Rosário Salgueiro. O mês de
agosto alertou-nos que a crise atual ‘parece permanentemente imparável’.
Estamos todos cansados desta tensão, destes conflitos que, mais ou menos
longínquos, nos atingem a todos. Há nestes dias negros de guerras, um claro
“fracasso da política e da humanidade”.
Este verão começou lindo e tranquilo, terminou violentamente,
transformado em luto e trauma para várias famílias.
Olhando para a paisagem do mês de outubro, é este marcado pela mudança da
cor das folhas, que começam lentamente a cair com a chegada do outono. Vai
haver mudança de hora, marcando a diminuição das horas de sol. Como a vida é
feita de ciclos, alguns são de declínio, de debilidade e de fim.
Das memórias que vou trazendo para
os prezados Leitores, quer sejam da região serrana, com destaque a Covilhã, quer
de formulada opinião, podem ser lidas nos jornais ou online.
Folheando ocasionalmente uma das
minhas compilações, vieram-me à mão, do ano 1943, notícias de alguns acontecimentos
marcantes na vida da cidade laneira.
No dia 1 de maio de 1943, o
Notícias da Covilhã publicava no seu semanário, destacando o título “IGREJA DE SANTA
MARIA”: “Estão já em curso as obras de reparação de que carecia a sua Igreja
Paroquial”, que “bem se pode chamar a Igreja Matriz da Covilhã”. No entanto, no
mesmo semanário de 18-07-1943, a primeira página dava conta em grandes
parangonas –“Horrível Tragédia – A Covilhã Inteira de Luto –, que, no passado
dia 13, no preciso momento em que se concluía a Missa em honra de Nª Sª de
Fátima, desabou uma parte do teto da Igreja de Santa Maria, sepultando nos
escombros uma parte dos fiéis que assistindo ao piedoso ato, uma imprevidência
incompreensível e inexplicável do empreiteiro que tem a seu cargo as obras em
curso na dita Igreja, provocou grande desgraça que já custou a vida a sete
mulheres, havendo muitas dezenas de feridos mais ou menos graves. O pânico dos
feridos e o pânico muito maior das famílias que tinham membros na Igreja era
indiscritível na natural ansiedade em os procurar”.
No dia 17 de janeiro de 1943, o
Notícias da Covilhã dava notícia, na primeira página, que “O Exm.º Sr.
Engenheiro Duarte Pacheco é cidadão da Covilhã. O Sr. Ministro das Obras
Públicas aprovou o projeto da Praça do Município, e para a sua realização
concedeu a verba de 812 contos”. Entretanto, este ministro veio a falecer de
acidente de viação, em Setúbal, em 16 de novembro do mesmo ano. Em 28-11-1943,
a Câmara Municipal da Covilhã dignou-se promover os sufrágios que se realizaram
na Igreja da Misericórdia, no 7º. Dia do passamento do desventurado ministro. O
malogrado estadista louletano tratava a Covilhã com carinho e devoção
inexcedíveis, de que são expoentes as obras em curso, da Praça do Município, os
Bairros Económicos, a nova Cadeia e, no zénite de todas elas a Praça Fechada (designa-se
atualmente Mercado Municipal, tendo sido inaugurado no dia 08-12-1943).
Este Praça Fechada foi a primeira do País que o ilustre finado não teve tempo
de inaugurar.
Neste ano de 1943 (*) deu-se
também um grande incêndio no Tribunal Judicial, onde atualmente se situa a
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida por Igreja de S. Tiago, o
qual foi devorado pelo fogo a 27 de novembro de 1942 (**). Recuperado pelos Jesuítas
em 1947, o novo edifício reabriu ao culto a 10 de fevereiro de 1952.
Ainda o Notícias da Covilhã de 04
de janeiro de 1943 dava a notícia do novo Pároco de S. Pedro: “Sem receio de
contradita, podemos dizer, afoitamente, e até alegremente, que foi um
acontecimento citadino a posse do novo pároco de S. Pedro, Sr. Padre José
Domingues Carreto, aparentado como ilustre Reitor dos nossos seminários,
Monsenhor Santos Carreto, cujas virtudes herdou. A cerimónia estava marcada
para as 11,30 vendo-se a essa hora repleta de fiéis a pequena capela de S. João
de Malta, servindo atualmente de Paroquial”. Substituiu o Arcipreste, Padre
Gregório Lopes Arroz.
Por último, e porque falei da
Igreja de S. Tiago, recordo que no dia de Todos os Santos, um domingo de 1 de
novembro de 1953, faleceu, quando celebrava a Santa Missa, no momento da
homilia, o Padre Jesuíta José Moreira da Cunha, com 67 anos.
Também muitos ainda se devem
recordar do Irmão Tobias Gaspar (Jesuíta), falecido em 14-01-1996, com 85 anos.
Esteve na Companhia de Jesus 66 anos, e a maior parte deles vividos na Covilhã
(S. Tiago), durante quase 49 anos.
(*) Reportado no livro “Vida e Obra dos Bombeiros Voluntários
da Covilhã”, pág. 321, cujo ano do incêndio não coincide com o referido no
livro “História Urbana em Postais e Fotografias da Freguesia de São Pedro da
Covilhã (1890-2000)” (**), pág. 61, pelo que carece de mais informação, para o
cabal esclarecimento.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 09-10-2024)
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