Inserimos neste número d’O
Combatente da Estrela uma figura da sociedade covilhanense, Homem bom que
dedicou toda a sua vida em prol do humanismo, multifacetado em várias vertentes
como o associativismo, onde a sua terra – a Covilhã – é o cerne de todo seu bem
fazer.
Tive o privilégio de o
conhecer muito cedo e de ter passado por duas unidades militares aquando do
serviço militar obrigatório onde ambos estivemos temporariamente: primeiro,
viemos a encontrarmo-nos no RAL 4, em Leiria, onde o António Moreira tirava a
especialidade de escriturário (fez a recruta em Beja, no RI 3) e eu, aí
colocado, então promovido a 1º. cabo miliciano, dando formação de datilografia,
viemos a partilhar um quarto, nos fins de semana, onde muitos outros covilhanenses
e de outras paragens vieram a ficar, numa zona a caminho do hospital,
atravessando uma ponte sobre o Rio Liz. Posteriormente, cada um foi obrigado a
seguir o seu destino, tendo o António Moreira depois de frequentar o Curso de
Operador Cripto, no BRT da Trafaria, seguido para o RI 12, na Guarda, onde foi
mobilizado para Angola, em rendição individual. Também eu, acabei o meu serviço
militar obrigatório no RI 12 – Guarda (tive a sorte de não ter sido mobilizado
para o Ultramar), não tendo aqui oportunidade de me encontrar com o António
Moreira. Acabei por passar à disponibilidade como furriel miliciano e já, na
disponibilidade, promoveram-me a 2º. sargento miliciano.
Mas, afinal, quem é o António
Moreira, tão falado, tão conhecido, dinâmico toda a sua vida, e que agora
pretende repousar um pouco da sua frenética atividade empresarial na área das
funerárias, que passou para seu filho? Aproveitámos uma altura em que o filho
lhe pediu para o substituir a fim de poder gozar uns dias de férias, e é neste
período que entrevistámos o António Moreira, memorizando um pouco do muitíssimo
que tinha para nos contar que, segundo o mesmo referiu, não caberia numa página
de jornal.
E é verdade! Não sei se na
Cidade da Covilhã existe figura tão abrangente no associativismo.
Foi presidente da direção de vários
Clubes, entre os quais o Grupo Educação e Recreio Campos Melo, o Grupo
Desportivo da Mata, Banda da Covilhã, da qual atualmente é o seu presidente da assembleia
geral há mais de 20 anos. Mostrou-me uma lista de 25 coletividades
covilhanenses do qual é sócio (com quotas pagas), nalgumas das quais fez parte
do seu elenco diretivo.
Foi jogador de basquetebol no
Clube Desportivo da Covilhã (CDC), conjuntamente com antigos atletas de futebol
do Sporting Clube da Covilhã, como os falecidos Nartanga, João Lanzinha,
Espírito Santo, e outros conhecidos covilhanenses, já fora do mundo dos vivos,
como o “Pena Branca” (funcionário bancário), o Manecas, o Bichinho, e alguns
que felizmente ainda estão entre nós como o Francisco Trindade, João Lobo e Jojó.
Depois de uma conversa que se
prolongou para além do tempo previsto, tal o entusiasmo que esta entrevista
despertou, respigo algo que obtive deste camarada de outros tempos, a saber:
“As voltas que a vida dá” –
António Moreira, pessoa bem conhecida na Covilhã e Região. Com várias
distinções a nível regional e nacional: Medalha de Mérito Municipal (Prata),
Medalha de Benemérito da Santa Casa da Misericórdia (Prata) e vários diplomas
de mérito. Este ex-Combatente realça que muito ficou a dever à vida militar,
onde aprendeu a ser Homem e a lutar por uma vida melhor, sempre com objetivos
como na tropa. Cedo começou a vida militar com dificuldades: recruta em Beja.
Depois, com alguma sorte tirou a especialidade de escriturário, como já
referimos, sem que, no entanto, nunca tivesse visto uma máquina de escrever. A
sua profissão era tecelão na indústria covilhanense – Fábrica Alberto Roseta. A
sua surpresa foi ter ido para a sua segunda especialidade – Operador Cripto,
terminando este curso com uma boa classificação, ficando em 32º lugar num
universo de 220 instruendos. Lutou para não ir para o Ultramar mas quando não
esperava, eis que é mobilizado para Angola, em rendição individual, sendo
colocado no RI 20 de Luanda. Após três meses seguiu para o norte com uma
companhia angolana, onde só estavam o António Moreira e mais outro operador do
Continente. Foi uma vida nova. Era uma companhia com muitos jovens negros e
mulatos. Para além desta surpresa conseguiu arranjar bons amigos, alguns dos
quais ainda hoje se contactam.
Tendo regressado à Metrópole
já na década de 70, emigrou para a Alemanha onde arranjou algum dinheiro com
que adquiriu a funerária na Covilhã que fora de seu pai. Passou a nova empresa
a adotar o nome de Agência Funerária Moreira tendo-lhe dado um cunho de
desenvolvimento, sobejamente conhecido dos covilhanenses, tendo criado uma
outra agência, com o mesmo nome, no Tortosendo.
Para além da empresa
funerária, abriu também a Taberna Laranjinha, local muito concorrido na zona
histórica da Covilhã.
Amante do desporto e da
cultura, este carola covilhanense, do qual muito, mas muito mais haveria a
narrar, foi ainda dirigente do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes,
juntamente com o atual presidente da Direção, João Azevedo, desde que em setembro
de 1985 houve necessidade de renovação da Direção por impossibilidade da
continuidade do Major Teixeira Lino. Este Núcleo da Covilhã foi inaugurado em
1926 e a nova Direção, então eleita, deslocou-se a Lisboa, que também integrou
o António Moreira, naquele ano 1985, para falar com o Presidente da Liga dos
Combatentes, General Almeida Viana, grande amigo deste Núcleo, dando luz verde
para uma sede condigna. No entanto, esta acabou por se ir situando em vários
locais, até aos dias de hoje.
O António Moreira, de 77 anos,
casado e com dois filhos, é um autêntico Homem de ação e um exemplo a seguir.
J.J. Nunes
(In "O Combatente da Estrela", nº. 136-OUT2024)
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