4 de outubro de 2024

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA ANTÓNIO MANUEL LOPES MOREIRA



 

Inserimos neste número d’O Combatente da Estrela uma figura da sociedade covilhanense, Homem bom que dedicou toda a sua vida em prol do humanismo, multifacetado em várias vertentes como o associativismo, onde a sua terra – a Covilhã – é o cerne de todo seu bem fazer.

Tive o privilégio de o conhecer muito cedo e de ter passado por duas unidades militares aquando do serviço militar obrigatório onde ambos estivemos temporariamente: primeiro, viemos a encontrarmo-nos no RAL 4, em Leiria, onde o António Moreira tirava a especialidade de escriturário (fez a recruta em Beja, no RI 3) e eu, aí colocado, então promovido a 1º. cabo miliciano, dando formação de datilografia, viemos a partilhar um quarto, nos fins de semana, onde muitos outros covilhanenses e de outras paragens vieram a ficar, numa zona a caminho do hospital, atravessando uma ponte sobre o Rio Liz. Posteriormente, cada um foi obrigado a seguir o seu destino, tendo o António Moreira depois de frequentar o Curso de Operador Cripto, no BRT da Trafaria, seguido para o RI 12, na Guarda, onde foi mobilizado para Angola, em rendição individual. Também eu, acabei o meu serviço militar obrigatório no RI 12 – Guarda (tive a sorte de não ter sido mobilizado para o Ultramar), não tendo aqui oportunidade de me encontrar com o António Moreira. Acabei por passar à disponibilidade como furriel miliciano e já, na disponibilidade, promoveram-me a 2º. sargento miliciano.

Mas, afinal, quem é o António Moreira, tão falado, tão conhecido, dinâmico toda a sua vida, e que agora pretende repousar um pouco da sua frenética atividade empresarial na área das funerárias, que passou para seu filho? Aproveitámos uma altura em que o filho lhe pediu para o substituir a fim de poder gozar uns dias de férias, e é neste período que entrevistámos o António Moreira, memorizando um pouco do muitíssimo que tinha para nos contar que, segundo o mesmo referiu, não caberia numa página de jornal.

E é verdade! Não sei se na Cidade da Covilhã existe figura tão abrangente no associativismo.

Foi presidente da direção de vários Clubes, entre os quais o Grupo Educação e Recreio Campos Melo, o Grupo Desportivo da Mata, Banda da Covilhã, da qual atualmente é o seu presidente da assembleia geral há mais de 20 anos. Mostrou-me uma lista de 25 coletividades covilhanenses do qual é sócio (com quotas pagas), nalgumas das quais fez parte do seu elenco diretivo.

Foi jogador de basquetebol no Clube Desportivo da Covilhã (CDC), conjuntamente com antigos atletas de futebol do Sporting Clube da Covilhã, como os falecidos Nartanga, João Lanzinha, Espírito Santo, e outros conhecidos covilhanenses, já fora do mundo dos vivos, como o “Pena Branca” (funcionário bancário), o Manecas, o Bichinho, e alguns que felizmente ainda estão entre nós como o Francisco Trindade, João Lobo e Jojó.

Depois de uma conversa que se prolongou para além do tempo previsto, tal o entusiasmo que esta entrevista despertou, respigo algo que obtive deste camarada de outros tempos, a saber:

“As voltas que a vida dá” – António Moreira, pessoa bem conhecida na Covilhã e Região. Com várias distinções a nível regional e nacional: Medalha de Mérito Municipal (Prata), Medalha de Benemérito da Santa Casa da Misericórdia (Prata) e vários diplomas de mérito. Este ex-Combatente realça que muito ficou a dever à vida militar, onde aprendeu a ser Homem e a lutar por uma vida melhor, sempre com objetivos como na tropa. Cedo começou a vida militar com dificuldades: recruta em Beja. Depois, com alguma sorte tirou a especialidade de escriturário, como já referimos, sem que, no entanto, nunca tivesse visto uma máquina de escrever. A sua profissão era tecelão na indústria covilhanense – Fábrica Alberto Roseta. A sua surpresa foi ter ido para a sua segunda especialidade – Operador Cripto, terminando este curso com uma boa classificação, ficando em 32º lugar num universo de 220 instruendos. Lutou para não ir para o Ultramar mas quando não esperava, eis que é mobilizado para Angola, em rendição individual, sendo colocado no RI 20 de Luanda. Após três meses seguiu para o norte com uma companhia angolana, onde só estavam o António Moreira e mais outro operador do Continente. Foi uma vida nova. Era uma companhia com muitos jovens negros e mulatos. Para além desta surpresa conseguiu arranjar bons amigos, alguns dos quais ainda hoje se contactam.

Tendo regressado à Metrópole já na década de 70, emigrou para a Alemanha onde arranjou algum dinheiro com que adquiriu a funerária na Covilhã que fora de seu pai. Passou a nova empresa a adotar o nome de Agência Funerária Moreira tendo-lhe dado um cunho de desenvolvimento, sobejamente conhecido dos covilhanenses, tendo criado uma outra agência, com o mesmo nome, no Tortosendo.

Para além da empresa funerária, abriu também a Taberna Laranjinha, local muito concorrido na zona histórica da Covilhã.

Amante do desporto e da cultura, este carola covilhanense, do qual muito, mas muito mais haveria a narrar, foi ainda dirigente do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, juntamente com o atual presidente da Direção, João Azevedo, desde que em setembro de 1985 houve necessidade de renovação da Direção por impossibilidade da continuidade do Major Teixeira Lino. Este Núcleo da Covilhã foi inaugurado em 1926 e a nova Direção, então eleita, deslocou-se a Lisboa, que também integrou o António Moreira, naquele ano 1985, para falar com o Presidente da Liga dos Combatentes, General Almeida Viana, grande amigo deste Núcleo, dando luz verde para uma sede condigna. No entanto, esta acabou por se ir situando em vários locais, até aos dias de hoje.

O António Moreira, de 77 anos, casado e com dois filhos, é um autêntico Homem de ação e um exemplo a seguir.

J.J. Nunes

(In "O Combatente da Estrela", nº. 136-OUT2024)

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