Neste último número d’ “O Combatente da Estrela”, do ano 2024, trazemos ao conhecimento dos prezados leitores uma figura amplamente conhecida desta cidade laneira, hoje marcada por forte ambiente universitário, e que nasceu na Covilhã em 5 de novembro de 1943 – o Rui Pinto.
Como muita gente do seu tempo, iniciou a sua atividade profissional na indústria de lanifícios, onde foi tecelão, até ser chamado para cumprir o serviço militar obrigatório.
Tendo ainda frequentado a Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, como amante da música, foi, nas horas livres, vocalista no conjunto “Manchester”.
Chegado o momento de ter de entrar nas fileiras do Exército, fez a recruta no CICA3 em Elvas, com início em 19 de outubro de 1964, ou seja, há sessenta anos. Seguiu depois para o RI 16, no Porto, onde tirou a adaptação à especialidade de condutor auto. Posteriormente o seu destino foi o RI 2, em Abrantes, já com a sina da sua mobilização para Angola. Veio a embarcar no Vera Cruz em 20 de abril de 1965 para desembarcar em Luanda em 8 de maio.
Em Angola, depois de chegado ao Grafanil, foi destacado para a Fazenda Maria Fernanda, na Zona de Zemba, uma das mais perigosas da altura. Daqui foi para Cambambe e depois Ambriz, já perto de Luanda, onde aqui viria aguardar o seu regresso à Metrópole, embarcando novamente no Vera Cruz, em Luanda, no dia 22 de maio de 1967, tendo desembarcado em Lisboa no dia 3 de junho.
Felizmente, no seu percurso em terras angolanas na guerra subversiva, embora o Rui Pinto andasse com uma GMC para rebentamento de minas, não teve qualquer situação problemática. Conta-nos que, em dado percurso, onde há já muito tempo não tinha havido conhecimento de agitações do inimigo, mas havia que ter a certeza de que as estradas não se encontravam minadas, o Comandante da Companhia deu-lhe ordens para fazer esse percurso, eventualmente perigoso. O Rui Pinto, coberto de medo, começou a chorar e o Comandante, vendo esta conduta, colocou-se ao seu lado a fim de lhe dar ânimo, com estas palavras: “Vamos, Rui, se morreres também morro eu!” E assim se cumpriu a determinação do Comandante, sem que houvesse qualquer problema de rebentamento de minas.
O condutor Rui Pinto era ainda o responsável por colocar o gerador de luz a trabalhar e bombear a água para todo o acampamento.
Mas a parte interessante e que deixou Rui Pinto muito orgulhoso foi o louvor que se insere abaixo, do Comandante da Companhia, sem contar com outros que lhe foram atribuídos, porquanto continuou a dedicar-se à música, mesmo em “teatro de guerra”, junto dos seus camaradas. Da sua caderneta militar extraímos o seguinte: “Louvado pelo Comandante da Companhia de Caçadores 768, Batalhão 770, porque fazendo parte do conjunto musical do Batalhão de Caçadores 770 em acumulação com as funções normais de serviço, contribuiu para a melhoria da moral do pessoal não só do Batalhão mas também de outras unidades, integrado como último recurso * no conjunto musical há cerca de 5 meses e de salientar a sua actividade entusiasta e muito dedicado sem a qual aquele conjunto teria de ser extinto (Ordem de Serviço nº. 83).”
*Esta integração, substituindo o anterior baterista, deveu-se ao facto de este ter desertado, continuando o Rui Pinto como vocalista e simultaneamente baterista.
Rui Luciano Mendes Pinto, cumprido o serviço militar obrigatório, veio a integrar os órgãos sociais deste Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes e passou a exercer nova atividade profissional na área das vendas, tendo sido vendedor em várias empresas, como a Tricogom, Lanofabril com os Fios Tricot e, por último, a Delta Cafés.
João de Jesus Nunes
(In “O Combatente da Estrela”, nº. 137-DEZ/2024)
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