3 de fevereiro de 2025

A FRAUDE EM SEGUROS

 

A fraude em seguros é um fenómeno que afeta profundamente o setor segurador e a sociedade em geral. Este problema, embora não seja novo, tem evoluído em sofisticação e impacto, exigindo ações cada vez mais coordenadas e eficazes para ser combatido. Falamos mais na fraude detetada mas esquecemo-nos da fraude executada. Nessa medida, o crescimento da fraude em Portugal pode ser mais acentuado na deteção.

Segundo dados da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) e do OBEGEF – Observatório de Economia e Gestão de Fraude (associação privada sem fins lucrativos, sediada na Faculdade de Economia da Universidade do Porto), o custo das fraudes identificadas representa uma percentagem significativa das despesas do setor, afetando diretamente os preços das apólices e a confiança dos consumidores. 

Conforme é referido no livro que publiquei em julho de 2018, sob o título “O Documento Antigo – Uma outra forma de ver os Seguros”, a fraude em seguros pode ocorrer em diversas formas, desde pequenas distorções de informações no momento da contratação até esquemas organizados que envolvem falsificação de sinistros. Um exemplo comum é o agravamento intencional de danos para obter indemnizações maiores, uma prática que, embora aparentemente inofensiva, tem impactos acumulativos que oneram todo o sistema. Em muitos casos, essas fraudes são facilitadas pela dificuldade de deteção e pela perceção de impunidade. 

A fraude não é apenas um problema financeiro, mas também ética, pois compromete a relação de confiança entre seguradoras e segurados. Este cenário torna-se ainda mais preocupante quando consideramos o papel das redes organizadas, que utilizam técnicas avançadas para explorar falhas nos sistemas de segurança e condescendência das empresas. 

Os efeitos da fraude em seguros vão além dos prejuízos financeiros diretos. Para os segurados, isso significa prémios mais elevados e uma maior desconfiança no sistema. Para as seguradoras, a fraude compromete a sua capacidade de oferecer produtos competitivos e sustentáveis. Em última instância, toda a sociedade é impactada, já que os recursos que poderiam ser investidos em inovação e em melhoria de serviços são canalizados para cobrir as perdas decorrentes de práticas fraudulentas.

É o caso das reparações efetuadas do ramo automóvel, onde existe a perceção de serviços de peritagem de algumas seguradoras se envolverem duma forma sub-reptícia por forma ardilosa de enganar o segurado lesado para benefício próprio.

Combater a fraude em seguros requer uma abordagem integrada que combine tecnologia, regulação eficaz e consciencialização. Ferramentas de análise de dados e inteligência artificial têm sido cada vez mais utilizadas para identificar padrões suspeitos e prevenir fraudes antes que elas ocorram. Além disso, o fortalecimento de legislação e a cooperação entre entidades públicas e privadas são fundamentais para criar um ambiente menos permissivo.

Outro aspeto crucial é a educação do público. Campanhas de consciencialização podem ajudar a esclarecer as consequências da fraude para os indivíduos e para o sistema como um todo, desestimulando comportamentos fraudulentos e promovendo uma cultura de transparência.

O cliente, que sempre agiu de boa-fé, e se vê enganado, no âmbito de um polvo que lhe dificulta todos os meios de defesa dos seus direitos, jamais pode ver a imagem da seguradora como sua defensora em situações de apuro, como é um sinistro. 

A fraude em seguros é um desafio complexo, mas não intransponível. Combinando tecnologia, regulação inabalável e um compromisso ético de todos os envolvidos, é possível reduzir significativamente o impacto deste problema. Como autor e estudioso da área, reafirmo a importância de um reforço coletivo para transformar o setor de seguros num exemplo de integridade e eficácia. Afinal, a confiança é o pilar fundamental que sustenta toda a estrutura deste mercado.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-02-2025)


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