A Covilhã integra o concelho com o maior número de agentes
culturais do distrito de Castelo Branco e um dos maiores do País, neste âmbito.
Vou falar duma associação cultural e recreativa, sedeada na Covilhã,
no coração da cidade, que foi a primeira, do género, a ser criada em Portugal,
segundo as palavras do então Ministro da Educação, Augusto Seabra, já falecido.
Isto porque integra não só antigos professores e alunos, como também
empregados, ou sejam, todo o universo de obreiros desta catedral da cultura;
por muitos considerada a primeira universidade da Covilhã.
Refiro-me obviamente à Associação de Antigos Professores, Alunos e
Empregados da Escola Campos Melo
da Covilhã (antiga Escola Industrial e Comercial Campos
Melo), mais conhecida pela sigla “APAE Campos Melo”.
Fundada oficialmente em 15 de Junho de 1984 por um grupo de
antigos alunos e professores, fruto da saudade dos tempos da Escola Industrial
e Comercial Campos Melo
da Covilhã , que depois passou a denominar-se Escola Técnica
Campos Melo e, actualmente, Escola Secundária Campos Melo, surgiu assim esta
associação.
Em 1995, data em que tive o orgulho de ser o segundo Presidente da
Direcção, registava já setecentos associados.
Para quem quiser ficar com a noção fidedigna de quem foram,
efectivamente, os verdadeiros fundadores, aqui deixo o registo deste facto.
Assim, antes da sua formação e após o primeiro Jantar-Convívio,
sob o tema “Recordar é Viver”,
realizado em 26 de Março de 1983, na cantina da Escola Campos Melo, já lá vão
quase três décadas, começaram a fervilhar as ideias da formação oficial duma
associação de “antigos”, abrangendo “todos” aqueles que ao longo das várias
gerações passaram pela Escola Industrial.
Já aquando da festa de homenagem ao antigo director, Eng.º Ernesto
de Campos Mello e Castro, pela sua despedida, em 1966, surgiu a primeira ideia
de constituição de uma associação de antigos alunos, tendo, inclusive, sido
alvitrado o seu início com a nomeação espontânea do sócio n.º 1, Afonso da Cruz
e Silva, já falecido, que não se haveria de concretizar, e, este mesmo antigo
aluno, viria a integrar-se no grupo dos sócios fundadores da APAE.
Ao mesmo tempo, haviam que se preparar de imediato as comemorações
do primeiro centenário da Escola, a surgir no ano seguinte – 1984.
Se bem que foram os antigos alunos, professores e alguns
empregados que aderiram, num ápice, à formação duma associação, com palavras
emolduradas de grande fervor associativo; e de amizades impregnadas de memórias
dos tempos de estudantes; foram mais tarde considerados 184 sócios fundadores,
ou seja, aqueles que vieram a aderir até à realização da respectiva escritura.
Mas, na verdade, os reais fundadores foram quantos, desde a primeira hora,
tomaram a iniciativa, e participaram nas várias reuniões de trabalho. Foram
frequentes sessões, na biblioteca e sala do Conselho Directivo da Escola Campos
Melo, labutando duma forma afincada como Comissão Pró-Associação, na preparação
das Comemorações do Centenário da Escola, e na constituição da novel
associação.
São eles: Francisco Fazendeiro Geraldes (principal impulsionador,
sócio n.º 1 e primeiro Presidente da Direcção da APAE); Dr.ª Maria Ascensão
Simões (Presidente do Conselho Directivo da Escola, da altura, e sócia n.º 2 e
que viria a ser a primeira Presidente da Assembleia Geral da APAE); Maria
Noémia Gomes Lopes, responsável na Comissão Pró-Associação e dirigente da APAE
desde a sua fundação, tendo sido o 3.º Presidente da Direcção, sócia n.º 3);
Maria Luísa Fonseca Freire Pires, já falecida (integrando o elenco da APAE
desde a sua fundação, antiga tesoureira da Comissão Pró-Associação e da 1.ª
Direcção, sócia n.º 4); Manuel Vaz Correia, Mário Monteiro Carriço, João de Jesus Nunes, João
José Silva Coelho ,
Alfredo Monteiro Pires (falecido), Carlos Alberto Ruivo (falecido), Maria Luísa
Pedro, Carlos Alberto Rodrigues, António Manuel Silva
Coelho , Maria José Fino e Maria Astrigilda Gonçalves. Destas
duas últimas colegas partiu a conversa, em Lisboa, para uma reunião de convívio,
das décadas de cinquenta e sessenta, através de um almoço, com antigos colegas,
para memorizarem bons velhos tempos de estudantes, e não só. Estendendo-se o
pedido da dinamização desta ideia a outros antigos colegas, logo se transformou
em entusiasmos retumbantes.
E partiu-se para uma associação, de “antigos”, oficial, depois
daquele Jantar-Convívio de 26.03.1983. Assim, começou a germinar, com a
aderência de mais e mais antigos alunos, antigos professores e de alguns
antigos funcionários. Nos trabalhos de constituição surgem ainda como reais
fundadores, Isabel
Fernandes Raposo , Carma Maria Batista Cardona,
José Vicente Milhano (que viria a doar as instalações onde se situa a Sede da
APAE, falecido em Junho de 1994); Professor Ricarte de Matos, Eng.º Luís Filipe
Mesquita Nunes, já falecido (que seria o 1.º Presidente do Conselho Fiscal da
APAE); Manuel Macedo Campos Costa, Eng. Francisco Duarte Gabriel, Georgina Leitão Duarte Calheiros,
João José Cristóvão, Dr.ª Maria Celeste de Moura, já falecida; Maria Orlanda
Bicho Mineiro Correia, Maria
Teresa Fazendeiro Rodrigues, Vitor Manuel Alves Rodrigues e
Padre Acácio Marques
Santos , já falecido.
A estes 29 nomes ainda se deviam adicionar mais três que, há
muito, por motivos desconhecidos, e que só aos mesmos disse respeito, se haviam
de retirar do seio da Associação. Dois deles já faleceram.
Numa altura em que a cultura citadina não era nem de perto nem de
longe como nos dias de hoje, embora sempre houvesse figuras de relevo na
Covilhã, no âmbito das letras e do saber, a APAE Campos Melo, numa expressão
dum sócio da altura – “Primavera Cultural” – conseguiu, numa vontade indómita
das direcções constituídas, promover vários eventos culturais, entre os quais várias
exposições, fora e dentro da sua sede, como na sua antiga sala que se intitulou
Galeria de Arte da APAE, em pleno coração da cidade, nomeadamente:
08.01.1984 – Exposição de fotografias, desenhos e documentos das
duas primeiras décadas da Escola (no átrio da Escola Campos Melo).
27.01.1984 – Aproveitando a reportagem fotográfica das
comemorações do 1.º Centenário da Escola Campos Melo, e o que os jornais
disseram, também de desenhos de antigos alunos (no átrio da Câmara Municipal ).
26.01.1985 – Trabalhos de antigos e actuais alunos da Escola
Campos Melo, no encerramento das comemorações do centenário, sob a designação
“Trabalhos de ontem e de hoje” (no átrio da Câmara
Municipal ).
03.06.1989 – Retrospectiva das actividades da APAE, desde a sua
fundação e uma exposição de esculturas de madeira, em miniatura, de um sócio e
covilhanense, João
Manuel Proença Marques (na Sede da APAE).
20.10.1989 – Exposição sobre a Covilhã antiga (sede da APAE).
23.12.1989 – Exposição de um presépio artesanal, com figuras de
madeira em movimento, e, de novo, retrospectiva das actividades da APAE (sede
da APAE).
08.03.1990 – Exposição sobre algumas figuras notáveis da Covilhã,
no séc. XVI (sede da APAE).
13.04.1990 – Exposição de pintura “Do Neoclássico do
Curvilinismo”, do prof. Rodolfo Passaporte, falecido em 4.11.2012, com 85 anos
(sede da APAE).
24.04.1990 – Exposição “A Crítica Política no Tempo da Monarquia”,
por Rafael e Gustavo Robalo Pinheiro (sede da APAE).
02.06.1990 – Exposição de lavores das antigas alunas da Escola
Campos Melo (Sede da APAE).
15.06.1990 – Exposição de pintura, de Gina Calheiros (sede da
APAE).
Julho de 1990 – Exposição de todas as actividades conseguidas pela
APAE (na Covifeira).
20.10.1990 – Exposição histórico-documental sobre o fundador da
Escola, José Maria Veiga da Silva Campos Melo (sede da APAE).
25.05.1991 – Exposição histórico-documental sobre João Alves da Silva, membro
da 1.ª Comissão Administrativa e presidente da comissão executiva da Covilhã na
1.ª República (sede da APAE).
28.09.1991 – Exposição histórico-documental sobre o Sporting Clube
da Covilhã e objectos desportivos de clubes e federações de todo o mundo, de
João de Jesus Nunes ( sede
da APAE).
30.05.1992 –
Exposição de “Arte e Design” dos actuais e antigos professores e alunos da
Escola Campos Melo, da responsabilidade do grupo de artes visuais (sede da
APAE).
05.02.1993 –
Exposição de pintura de dois pintores covilhanenses: Sousa Amaral e João Manuel Salcedas
(sede da APAE).
28.05.1993 –
Exposição de trabalhos de expressão plástica, realizada pelas crianças das
Escolas do Concelho da Covilhã (sede da APAE).
04.06.1994 –
Exposição de arte sacra (sede da APAE).
17.06.1995 –
Exposição de quadros e peças sobre a arte e cultura de Timor (sede da APAE).
16.12.1995 –
Exposição de presépios executados por crianças de algumas escolas do Concelho.
E, muitas outras
se seguiram ao longo dos anos seguintes.
Esta associação cultural foi também palco de palestras e visitas
em actos solenes, por eminentes homens da cultura, da música e da arte,
nomeadamente os covilhanenses Dr. António Alçada Batista, Eng.º Melo e Castro,
Prof. Augusto Seabra, Geninha Melo e Castro, entre outros.
Daqui surgiu também a edição de dois livros, confrontando-se as
tipografias da região, pela primeira vez, com um volume e páginas a cores, a
que não estavam habituados, obviamente para aquela altura.
Surgiu também a criação de uma revista – “Ecos da APAE” – que é
distribuída aos sócios, anualmente, nas comemorações da Associação.
Deu-se lugar à vinda de grupos musicais e de dança de outras zonas
do País e de Espanha, como a Academia de Baile Flamenco, de Badajoz;
“Pão-de-Ló”, de Ovar; de um grupo da região de Póvoa de Varzim; e, também, na
vertente desportiva e cultural, homenagearam-se as “Velhas Glórias” do Sporting
Clube da Covilhã, com um grande número de participantes e algum alvoroço pela
comunicação social do País, sendo a primeira vez que alguma instituição,
incluindo a própria colectividade serrana, participasse com um evento tão empolgante.
Hoje, com um edifício-sede totalmente reconstruído pela edilidade
covilhanense, em pleno coração da cidade, pode continuar a ser azo para a
promoção cultural da cidade onde se insere.
Algumas facetas do entusiasmo e da história preambular desta
associação, e a sua envolvente de entusiasmo, podem ser consultada no livro “9
Anos de Actividades Culturais e Recreativas ao Serviço da Cidade e do Concelho
– 1963 – 1992” .
João de Jesus Nunes
Sócio Fundador
(In Revista "ECOS DA APAE" de Maio de 2013)
DEVIDO A LAPSO NA PUBLICAÇÃO DO TEXTO, REPETE-SE O MESMO, MANTENDO-SE AS FOTOS NO ANTERIOR
1 comentário:
Aceite,Amigo as minhas sinceras felicitações pelo artigo aqui inserido.Perpetua a memoria colectiva de todos nós,os fundadores e restantes associados que nunca olvidarão a sua ESCOLA"CAMPOS MELO",pois nos tornou verdadeiros homens (mulheres)e,nos preparou para as nossas tarefas profissionais.Hoje,uma grande parte estará reformada,outros,infelizmente falecidos mas,principalmente para estes ultimos a minha grande homenagem pela feliz companhia que nos proporcionaram.Abraço a todos.JORGE CORREIA.
Enviar um comentário