Para a página de âmbito desportivo deste número, hei por bem
inserir um texto que se encontrava arquivado nos meus documentos antigos e que
se destinava a ser publicado, em 1998, no 3.º número d’ “O Refugiense”, volvida então uma dúzia de anos após o surgimento
do último número. Fora um convite do então Presidente da Direção daquela
Coletividade de prestígio da Cidade Covilhanense, João Torrão, e de outro
amigo, Vitor Fazendeiro, mas o jornalinho acabaria por não sair.
Recordo assim, n’ ”O
Combatente da Estrela”, alguns momentos altos por que também passava, nessa
altura, o nosso SPORTING CLUBE DA COVILHÃ,
com a presença amiga de alguns antigos e valorosos atletas dos “Leões da Serra”, os quais já partiram
para o outro lado da vida.
E, então, referia que em janeiro de 1998 li um artigo do
jornalista Pedro Rolo Duarte, na revista do
Diário de Notícias, versando o tema “mudança
de formato”.
E dizia: “Tudo muda de
tamanho. Começou com o “mini” a revolucionar a indústria automóvel e nunca mais
parou (…). Reconheço que há razões objetivas para “encurtar” objetos. Mas não
me obriguem a dizer que gosto de ver uma obra de arte enfiada numa caixa
quadrada de plástico com doze centímetros de lado (…). Os formatos mudam como muda
o tempo: de repente, aí estão garrafas de bebidas “formatadas” pela Europa com
menos cinco centilitros de capacidade. A vodka, o whisky ou o vinho do Porto
custam o mesmo, ou custam mais, mas trazem menos (…). Mas a tragédia não fica
por aqui. Mudam diariamente os formatos dos telemóveis, muda o formato das
fotografias, mudam os tamanhos dos comprimidos e a espessura dos relógios.
Adaptamo-nos a tudo. Está em marcha a campanha que nos levará a adotar teclados
ditos ergonómicos para os computadores, ratos sofisticados com formatos que se
assemelham mais a porcos do que a ratos, e não tarda nada mudam-nos o formato
da televisão (…). Há três semanas mudou o formato de mais um jornal. Chegou a
vez do “Jornal de Notícias”. Já antes tinha sido assim com “A Bola” e, antes
ainda, com este mesmo “Diário de Notícias” que tenho na mãos (…). Mas, que
querem, cada vez que vejo mudar o formato de um jornal, como cada vez que
assisto a uma reedição em CD de obras que só havia em vinil? Sinto-me perdido.
Fico triste, tenho saudades. Sinto-me isolado. Só eu gosto de abrir um jornal
broadsheet e tirar-lhe o vinco que o dobra ao meio. Só eu gosto de ficar com
dores nos braços depois de ler o “Expresso”. No futuro, mudam o formato dos
Homens, que podem deixar de ser “ao alto” para passarem a ser “ao baixo”, e
posso arrumar as botas. Depois dos clones, vão arranjar maneira de fazer
criaturas transportáveis, pessoas que se arrumam facilmente numa pasta de
tamanho A4 (…). Não gosto do que vejo. Sou contra a mudança do formato (…) e,
“cuidado: um dia mudam-lhe o formato…”
É do domínio público que o Refúgio, e o seu “Refugiense”, é uma das franjas da
Cidade que tem gente dinâmica, simples e humilde, que sente a amizade do
“tamanho” de uma montanha e o reconhecimento por quem outrora deu nome à Cidade
Covilhanense, do “formato” da Lua Cheia.
Vem isto a propósito da receção que um grupo de amigos
refugienses prestou a duas Velhas Glórias do Sporting Clube da Covilhã, na
manhã do dia 6 de junho de 1998, aquando do encerramento das Bodas de Diamante
daquele clube leonino.
Passo a respigar parte da página 224 do livro que uns dias
mais tarde saiu, sob o título “Sporting
Clube da Covilhã – Passado e Presente”, a saber:
“ (…) No Grupo
Recreativo Refugiense, calorosa receção por um grupo de entusiastas; 6 de junho
de 1998. Já passava das 13 horas. Um grupo de calorosos amigos do SCC, refugienses,
e não só, conforme previamente combinado, aguardou a chegada dos antigos
atletas, para o almoço-convite. O grupo era pequeno porque muitos, com muita
pena de não poderem participar, tinham já compromisso assumido no almoço do
Núcleo Sportinguista da Covilhã, que inaugurava a sua sede, com a presença do
presidente do Sporting Clube de Portugal. Toca o nosso telemóvel. É o Suarez
que informa já se encontrar no Pelourinho, vindo de Vigo, acompanhado do seu
simpático amigo, Avelino Villar Pineda. De seguida, surge Fernando Cabrita,
acompanhado de seu genro, António Livramento. São os cumprimentos e os abraços,
a recordação de alguns amigos e de antigos colegas. Chegada a hora do repasto,
num restaurante do Refúgio, vem dar um abraço a estas duas velhas glórias, com
surpresa dos mesmos, outra velha glória serrana, João Lanzinha, que acabaria,
por atenção aos seus colegas, ir ao jantar de encerramento do SCC.
Mataram-se saudades,
memorizaram-se tempos de outrora, do Sporting e da Cidade, curvando-se no
respeito pela memória dos que recentemente haviam partido e perguntaram por
muitos antigos colegas, valorosos como eles no tempo da I Divisão, nos Leões da
Serra (alguns até residiam na Covilhã), e estranhavam por que não estavam ali,
para poderem participar no jantar de encerramento das Bodas de Diamante do
Sporting da Covilhã, clube que tão bem representaram noutros tempos. Na vida,
por vezes, surgem algumas omissões, talvez incompreensões, quiçá
esquecimentos.”
Os horizontes de visão no reconhecimento pelas figuras
marcantes de uma coletividade de prestígio da Cidade, como é o SCC, têm “tamanhos” ou “formatos” diferentes, conforme as maneiras de sentir ou de ver
pelos dirigentes.
Os refugienses souberam entretanto dizer Presente! Ainda nos lembramos de vós!
Aproveitamos para, através deste espaço e deste local,
enviar os parabéns ao Sporting Clube da Covilhã pelo brilhantismo e entusiasmo
com que terminaram a época finda de 2014/2015 e que, só por um triz não subiu à
I Liga do Futebol Nacional.
Boa sorte para a próxima época!
João de Jesus Nunes
(In "O Combatente da Estrela", n.º 99, de julho a setembro de 2015)