3 de junho de 2015

A FORÇA DOS VENTOS

A força dos ventos supera as nossas próprias vontades. São muitas vezes expressos de acordo com a sua força e a direção de onde eles estão soprando. Há os de rajada, de lufada, a brisa, tempestades, furacão, tufão e tornados.
Ventos definem assim um equilíbrio de forças físicas que são utilizadas para decomposição e análise do perfil do vento. E, dentre eles, há ainda os ventos de Oeste, ciclones, anticiclones, ventos de monção, e ainda os de montanha. Alguns destes ventos quase que se confundem.
Entre ventos e ventanias, sempre há o bom e o mau; da possibilidade do aproveitamento da energia eólica à fustigação de terrenos, árvores, telhados e outros bens.
Já antes das eólicas havia os moinhos, com leis desde o século V ao XV. E da utilização dos ventos, os barcos à vela já existiam no Egipto 2.800 anos a. C.
Muito mais poderíamos falar dos ventos, incluindo das relações luso-espanholas, donde se ironizou que “De Espanha nem bom vento nem bom casamento”.
Com ventos e marés nós vamos passando as nossas vidas, e, na parte que nos diz respeito, muitos de nós já começamos a ficar na linha da frente de partida. Salvam-nos os ventos de mudança com o aumento do tempo de vida.
As nossas gerações eram de gente humilde, da aldeia ou da urbe, filhos do trabalho ao cheiro lanífero das fábricas, ou então dos suarentos dias na faina dos campos agrícolas de então.
As novas gerações nem fazem ideia como sopravam os ventos das nossas eras: lugares e aldeias do concelho sem saneamento básico; sem água potável nem eletricidade; à luz de candeeiros de petróleo e braseiras de brasas, com moinha e uma prata por cima, para o aquecimento de inverno; as carnes colocadas no sal por inexistência de refrigeração; a água para consumo, em cântaros, obtida em minas por falta de fontenários; e por aí fora.
No entanto, era gente com palavra, que a mesma fazia lei, nem era preciso ser levada a escrito. A solidariedade não era palavra vã. Durante a longa caminhada, ouvimos dizer que éramos um País em vias de desenvolvimento, e, depois, passámos a um País desenvolvido. Conseguimos sentarmo-nos na mesa dos comensais da União Europeia. O vinho, então distribuído, foi à fartazana. E, como que no milagre dos pães e dos peixes, os cestos das sobras eram bastantes.
O mestre-sala da Organização manda então regar todas as estradas poeirentas com asfalto, e rasgar outras, e outras, e outras.
Alguns velhos do Restelo, de cigarro de onça na ponta dos lábios, preocupam-se com o dia de amanhã, mas os novos do leme, esfregam as mãos, na contagem de tanta massa, que vai chegando numa fresquidão dos tempos.
Entretanto, Chico Buarque já havia profetizado: “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor. A minha gente sofrida despediu-se da dor pra ver a banda passar cantando coisas de amor. O homem sério que contava dinheiro parou, o faroleiro que contava vantagem parou, a namorada que contava as estrelas para ver, ouvir e dar passagem. A moça triste que vivia calada sorriu, a rosa triste que vivia fechada se abriu. E a meninada toda se assanhou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou que ainda era moço pra sair no terraço e dançou. A moça feia debruçou na janela pensando que a banda tocava pra ela. A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu. A lua cheia que vivia escondida surgiu. Minha cidade toda se enfeitou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. Mas para meu desencanto o que era doce acabou, tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor”.

Volvidos 41 anos do 25 de abril, depois da banda passar, o que temos nós? Lisboa com todas as suas decisões e o interior do país deserto, abandonado e esquecido. Um país de doutores no esquecimento dos valores, sem interessar o que se defende mas sim o que se promete. Um país sem justiça em que não interessa o meio para atingir o fim. E tantas ocasiões de ventos ciclónicos que passam a brisas, com políticos a enriquecer sem problemas ou alguém que questione suas fortunas. Bancos que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar. Um país sem educação. Quem semeia ventos colhe tempestades. Quando a sociedade global exige níveis de educação altamente sofisticados, em Portugal a educação é o que é, não se podendo reprovar meninos mimados ou malcriados. Uma variedade de ventos indesejáveis que sopram da governação e presidência portuguesa. Oiçam ainda Eduardo Nascimento, porque “o vento mudou e ela não voltou, as aves partiram, as folhas caíram. Ela quis viver e o mundo a correr prometeu voltar se o vento mudar. E o vento mudou e ela não voltou, sei que ela mentiu, p’ra sempre fugiu. Vento, por favor, traz-me o seu amor, vê que eu vou morrer se não mais a ter. Nuvens tenham dó que eu estou tão só, batam-lhe à janela, chorem sobre ela. E as nuvens juraram e quando voltaram soube que mentira, p’ra sempre fugira. Nuvens por favor cubram minha dor já que eu vou morrer se não mais a ter”.

(In "Notícias da Covilhã", de 04.06.2015)

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