29 de junho de 2015

TUDO MUDA DE TAMANHO

Para a página de âmbito desportivo deste número, hei por bem inserir um texto que se encontrava arquivado nos meus documentos antigos e que se destinava a ser publicado, em 1998, no 3.º número d’ “O Refugiense”, volvida então uma dúzia de anos após o surgimento do último número. Fora um convite do então Presidente da Direção daquela Coletividade de prestígio da Cidade Covilhanense, João Torrão, e de outro amigo, Vitor Fazendeiro, mas o jornalinho acabaria por não sair.
Recordo assim, n’ ”O Combatente da Estrela”, alguns momentos altos por que também passava, nessa altura, o nosso SPORTING CLUBE DA COVILHÃ, com a presença amiga de alguns antigos e valorosos atletas dos “Leões da Serra”, os quais já partiram para o outro lado da vida.
E, então, referia que em janeiro de 1998 li um artigo do jornalista Pedro Rolo Duarte, na revista do Diário de Notícias, versando o tema “mudança de formato”.
E dizia: “Tudo muda de tamanho. Começou com o “mini” a revolucionar a indústria automóvel e nunca mais parou (…). Reconheço que há razões objetivas para “encurtar” objetos. Mas não me obriguem a dizer que gosto de ver uma obra de arte enfiada numa caixa quadrada de plástico com doze centímetros de lado (…). Os formatos mudam como muda o tempo: de repente, aí estão garrafas de bebidas “formatadas” pela Europa com menos cinco centilitros de capacidade. A vodka, o whisky ou o vinho do Porto custam o mesmo, ou custam mais, mas trazem menos (…). Mas a tragédia não fica por aqui. Mudam diariamente os formatos dos telemóveis, muda o formato das fotografias, mudam os tamanhos dos comprimidos e a espessura dos relógios. Adaptamo-nos a tudo. Está em marcha a campanha que nos levará a adotar teclados ditos ergonómicos para os computadores, ratos sofisticados com formatos que se assemelham mais a porcos do que a ratos, e não tarda nada mudam-nos o formato da televisão (…). Há três semanas mudou o formato de mais um jornal. Chegou a vez do “Jornal de Notícias”. Já antes tinha sido assim com “A Bola” e, antes ainda, com este mesmo “Diário de Notícias” que tenho na mãos (…). Mas, que querem, cada vez que vejo mudar o formato de um jornal, como cada vez que assisto a uma reedição em CD de obras que só havia em vinil? Sinto-me perdido. Fico triste, tenho saudades. Sinto-me isolado. Só eu gosto de abrir um jornal broadsheet e tirar-lhe o vinco que o dobra ao meio. Só eu gosto de ficar com dores nos braços depois de ler o “Expresso”. No futuro, mudam o formato dos Homens, que podem deixar de ser “ao alto” para passarem a ser “ao baixo”, e posso arrumar as botas. Depois dos clones, vão arranjar maneira de fazer criaturas transportáveis, pessoas que se arrumam facilmente numa pasta de tamanho A4 (…). Não gosto do que vejo. Sou contra a mudança do formato (…) e, “cuidado: um dia mudam-lhe o formato…”
É do domínio público que o Refúgio, e o seu “Refugiense”, é uma das franjas da Cidade que tem gente dinâmica, simples e humilde, que sente a amizade do “tamanho” de uma montanha e o reconhecimento por quem outrora deu nome à Cidade Covilhanense, do “formato” da Lua Cheia.
Vem isto a propósito da receção que um grupo de amigos refugienses prestou a duas Velhas Glórias do Sporting Clube da Covilhã, na manhã do dia 6 de junho de 1998, aquando do encerramento das Bodas de Diamante daquele clube leonino.
Passo a respigar parte da página 224 do livro que uns dias mais tarde saiu, sob o título “Sporting Clube da Covilhã – Passado e Presente”, a saber:
“ (…) No Grupo Recreativo Refugiense, calorosa receção por um grupo de entusiastas; 6 de junho de 1998. Já passava das 13 horas. Um grupo de calorosos amigos do SCC, refugienses, e não só, conforme previamente combinado, aguardou a chegada dos antigos atletas, para o almoço-convite. O grupo era pequeno porque muitos, com muita pena de não poderem participar, tinham já compromisso assumido no almoço do Núcleo Sportinguista da Covilhã, que inaugurava a sua sede, com a presença do presidente do Sporting Clube de Portugal. Toca o nosso telemóvel. É o Suarez que informa já se encontrar no Pelourinho, vindo de Vigo, acompanhado do seu simpático amigo, Avelino Villar Pineda. De seguida, surge Fernando Cabrita, acompanhado de seu genro, António Livramento. São os cumprimentos e os abraços, a recordação de alguns amigos e de antigos colegas. Chegada a hora do repasto, num restaurante do Refúgio, vem dar um abraço a estas duas velhas glórias, com surpresa dos mesmos, outra velha glória serrana, João Lanzinha, que acabaria, por atenção aos seus colegas, ir ao jantar de encerramento do SCC.
Mataram-se saudades, memorizaram-se tempos de outrora, do Sporting e da Cidade, curvando-se no respeito pela memória dos que recentemente haviam partido e perguntaram por muitos antigos colegas, valorosos como eles no tempo da I Divisão, nos Leões da Serra (alguns até residiam na Covilhã), e estranhavam por que não estavam ali, para poderem participar no jantar de encerramento das Bodas de Diamante do Sporting da Covilhã, clube que tão bem representaram noutros tempos. Na vida, por vezes, surgem algumas omissões, talvez incompreensões, quiçá esquecimentos.”
Os horizontes de visão no reconhecimento pelas figuras marcantes de uma coletividade de prestígio da Cidade, como é o SCC, têm “tamanhos” ou “formatos” diferentes, conforme as maneiras de sentir ou de ver pelos dirigentes.
Os refugienses souberam entretanto dizer Presente! Ainda nos lembramos de vós!
Aproveitamos para, através deste espaço e deste local, enviar os parabéns ao Sporting Clube da Covilhã pelo brilhantismo e entusiasmo com que terminaram a época finda de 2014/2015 e que, só por um triz não subiu à I Liga do Futebol Nacional.
Boa sorte para a próxima época!

João de Jesus Nunes

 (In "O Combatente da Estrela", n.º 99, de julho a setembro de 2015)

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