Os portugueses têm vindo a
respirar dum certo alívio daqueles momentos de constrangimento por que
passaram, daquele sufoco com que foram afastados da esperança de melhores
tempos, então lançados num futuro cada vez mais incerto.
Caminhando ao contrário do
desejável pelos homens e mulheres deste Portugal rumo aos nove séculos de existência,
com a responsabilidade emanada dos senhores das governações precedentes, uma onda
de indignação vinha surgindo na trajetória entre Passos e o esbanjador Cavaco.
Dos restantes também há memórias
sulcadas de ventos e marés, onde o nosso país se posicionou em situações
angustiantes com três “ajudas” externas, os lamentos em desabafos nas
expressões pejorativas de que Portugal está de “tanga”, num “pântano” ou “para
nos afundarmos mais no buraco que nos cavaram”, como o “monstro”, de Cavaco, para
além de casos em que a justiça envolveu líderes políticos.
Em 43 anos de democracia, esta foi
tantas vezes vilipendiada por um mundo desejoso mais na condução dos seus
interesses exclusivos: partidos políticos, candidatos a candidatos do exercício
do poder em nome do povo, mas com vídeo-algibeiras; sindicatos, organizações
sem fim, os políticos de circo, e por aí fora.
Se atentarmos no espaço que
medeia duas décadas, entre o ano 1997 e 2017, os consumidores portugueses estão
mais otimistas do que nunca, pois o Instituto Nacional de Estatística (INE) o
explica: “O indicador de confiança dos consumidores aumentou em maio,
prolongando a trajetória positiva observada desde o início de 2013 e atingindo
o valor máximo da série iniciada em novembro de 1997”. Este regresso ao final
de 1997 procura perceber o que se mantem – e o que inevitavelmente mudou – nas
razões que sustentam a confiança dos portugueses. Uma delas evidencia-se – o emprego. O desemprego está a descer e
atinge valores semelhantes aos de 2009, antes do pico da crise.
Há 20 anos havia, contudo, mais
razões para otimismo. O país aproximava-se de um objetivo ambicioso: o pleno emprego. A Expo 98 recebia 26
milhões de visitantes. Só em 1997
venderam-se, segundo a revista Visão, 230
mil casas em Portugal, proporcionando a que 45% das pessoas tivessem “casa
própria” impulsionadas pelo crédito barato. No futebol, os nortenhos festejavam
nos Aliados, o tetra, muito antes do agora celebrado pelo Benfica no Marquês.
Já muito mais cedo também o havia atingido o Sporting (aliás, foi o primeiro).
Ainda em 1997, Marcelo Rebelo de
Sousa era o sorridente líder da oposição. Ainda não se havia notabilizado pelas
selfies. Os telemóveis (quatro
milhões de utilizadores há 20 anos, sexto lugar no ranking europeu…) só faziam
e recebiam chamadas…
Seguiram-se depois más notícias e
o pessimismo, como nos termos atrás referidos, que teve um período de 14 anos.
Entretanto, com o atual governo,
a confiança dos consumidores bate novo máximo de quase 20 anos. Voltou a
aumentar em junho para um novo máximo desde novembro de 1997, e o clima
económico continuou também a subir para o máximo desde junho de 2002, divulgou
o INE.
Ainda segundo este instituto, em
junho, os indicadores de confiança aumentaram na indústria transformadora, na
construção e obras públicas e no comércio, tendo diminuído nos serviços.
A evolução do indicador de
confiança dos consumidores no último mês resultou do “contributo positivo” das
expetativas relativas à evolução do desemprego, da situação económica do país e
da situação financeira do agregado familiar, tendo as expetativas sobre a
evolução da poupança contribuído negativamente.
No entanto, a grande catástrofe
de incêndios no interior do País, com evidência em Pedrógão Grande, não evitou
que a 50 Km da cosmopolita Coimbra, como exemplo, em pleno século XXI, morressem
64 portugueses, tão desprotegidos e abandonados como se vivêssemos ainda no
século XIX, para além das perdas patrimoniais e milhões de prejuízos.
Ainda o País vivia o trauma desta
catástrofe, quando surge o ridículo furto de armamento do Campo Militar de
Tancos.
Comentários para quê, depois de
já terem desaparecido 50 armas Glock de
uma arrecadação da Direção Nacional da PSP, em Lisboa? Vêm agora os serviços de
segurança apontar para crime organizado.
Poderão explicar-nos por que a
videovigilância se encontrava em baixo? Os sensores inutilizados? As vedações
estragadas? As rondas feitas com intervalos de 20 horas? Estas coisas,
combinando entre si, não combinam com o país que, como se referiu no início
deste texto, tem vindo a respirar dum certo alívio na vida da maioria de cada
um de nós, que parece estar no bom caminho, mas, paradoxalmente, com estes
meandros que sulcam o bom trabalho que tem vindo a ser desempenhado na vertente
económica e financeira.
No otimismo de colecionar boas
notícias, como vinha acontecendo, no devaneio daquele golo do Eder no futebol, à
campeã canção europeia sem maus cheiros; ao nosso Ronaldo, melhor do mundo;
esquecendo o andarmos sempre cabisbaixos aquando da troika; consolados por não ter vindo o diabo, torna-se agora
imperativo que este otimismo não venha a ser esmorecido pelas condutas
inoperacionais de alguns comandantes das unidades do palácio governamental.
(In "fórum Covilhã", de 11/07/2017)
Sem comentários:
Enviar um comentário