16 de julho de 2017

PREFÁCIO DO LIVRO “HISTÓRIA DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ – 1923 – 1990”, DE MIGUEL SARAIVA

Falar e, principalmente, escrever sobre o Sporting Clube da Covilhã (SCC), é sinónimo de que algo existe de intrínseco entre o escritor e a instituição pela qual sente empatia, aquele vendaval de ideias dispostas a ser transpostas para o papel (sempre o papel, independentemente do digital), para que outros memorizem, ou os mais novos venham a ter conhecimento, sem que daí também se deixe uma achega para que os vindouros possam recolher informações que, de outra forma, se dissimulariam no esfumar dos tempos. Muito se teria perdido se não houvesse alguém que se dedicasse de alma e coração à recolha das estórias para a história dos seus clubes, como no caso em apreço.
Conheci o autor desta interessante e importante obra, há uns anos atrás, quando se dirigiu ao meu escritório, juntamente com um amigo, animado de idêntico entusiasmo pelo Clube da sua Terra, para que me encarregasse de dinamizar a página da Internet sobre o SCC, do qual eram dirigentes; e, posteriormente, numa amizade germinada aquando da apresentação do meu quarto e último livro sobre os Leões da Serra, assim como uma exposição temática apresentada na altura no Museu de Arte e Cultura.
Nestes dois últimos atos, ocorridos há uma década, logo me apercebi que o Carlos Miguel Saraiva, ainda jovem, já denotava uma forte inclinação para aprofundar a história do Sporting Clube da Covilhã, mormente na vertente das suas inúmeras figuras (jogadores, dirigentes, e outros ligados ao Clube dos seus amores), esses obreiros da construção do grande baluarte do deporto da Beira Interior, histórico por excelência.
E, não é que o seu blogue, como coordenador e fundador, se vê forçado a passar a sitewww.historiasscc.com – face ao grande número de aderentes. Depois, algumas exposições fotográficas de antigos atletas, treinadores e dirigentes do mundo dos Leões da Serra, para além de homenagens organizadas, por via de jantares, por sua iniciativa, ou coordenadas com o clube serrano, das figuras do SCC. Foi ainda o autor da Galeria dos Presidentes e Fundadores do Sporting da Covilhã, que se encontram na sede social do clube. Realizou um colóquio na Biblioteca Municipal da Covilhã sobre “Vivência entre o passado e o presente da história do Sporting Clube da Covilhã”. E, entre outras organizações, tive o privilégio de o ver ter aceite um meu convite para, em conjunto, realizarmos um colóquio no Museu da Universidade da Beira Interior – “Monumentos e Sítios” que, da minha parte me coube a tese “Sporting Clube da Covilhã e os lanifícios”, e o Carlos Miguel Saraiva “Algumas das principais figuras do Sp. Covilhã”. Tiveram ainda uma participação neste colóquio, Pedro Martins, diretor e proprietário da Tribuna Desportiva; o Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã, Dr. Jorge Torrão; e o Diretor do Museu de Lanifícios, que coordenou e me havia convidado, Prof. Dr. António dos Santos Pereira.
E, nestas andanças de muitas ocasiões de diálogo empático, incluindo algumas deslocações para visitar alguns antigos atletas serranos, vim a tomar conhecimento da intenção do Carlos Miguel Saraiva de levar por diante a história do Sporting Clube da Covilhã, inicialmente em digital, de todos os antigos atletas e dirigentes, assim como as equipas, época por época, desde o nascimento do clube serrano, há 94 anos, até onde lhe fosse possível chegar.
Sei quanto trabalho isto representa, de horas ilimitadas, subtraídas ao sossego do lar e aos momentos de ócio que deixam de existir, para que uma obra deste jaez venha a lume. Por isso, incitei o Carlos Miguel a transpor a sua publicação para papel, reconhecendo as enormes dificuldades económicas que isso representam. Mas, como é meu lema “Fazer primeiro e pedir depois”, como algumas vezes lhe transmiti, a obra, de excelência, aí está, merecedora de leitura atenta.
Mas vamos à “HISTÓRIA DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ – 1923 – 1990”. Depois do trabalho minucioso, de vários anos de pesquisas, permitiu que este livro trouxesse coisas novas sobre o  clube, inserido na sua Cidade que lhe dá o nome, se bem que além de serem memórias do passado para as novas gerações, trazem a descoberto informações muito interessantes que já  só as gentes de idade avançada se recordam, e que, entretanto, se encontravam bem reservadas ao baú das recordações.
Este livro, página a página, o equivalente a época a época do Sporting Clube da Covilhã, entenda-se, desde a sua génese, até ao ano que foi possível pesquisar – 1990, é um resgatar da memória de alguns, para uma memória coletiva que devemos preservar.
Por outro lado, esta obra é também um esforço significativo de reunir memórias dispersas, para que ganhem um só corpo e permitam reconstituir; a par dos quatro livros já existentes sobre a coletividade serrana; o passado de uma grande instituição, para que, no presente, projetemos o futuro com grande orgulho dos Leões da Serra, como embaixadores não só da Covilhã, mas de toda região beirã.
Ao embrenharmo-nos na leitura deste livro é conveniente que saibamos compreender o trabalho profícuo dum autodidata, como o Carlos Miguel Saraiva, que estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, assistente de direção de um hotel, de 46 anos, viúvo e com dois filhos, somente com alguns apoios publicitários, mas sem subsídios, e sem outro motivo para além do seu amor ao clube, que se lançou num trabalho complexo e moroso de completar um pouco mais a história do Sporting Clube da Covilhã, pois ela não termina, continua enquanto a instituição existir.
Como já tive, e continuo a ter, trabalhos semelhantes, quando olho para esta obra, reconheço a quantidade de horas dedicadas a este projeto, a quantidade de noites despendidas após um normal dia de trabalho, a quantidade de horas a ler velhos livros, a consultar jornais antigos, documentação que se encontrava sepultada entre o pó de sótãos ou arrecadações. Assim como a rever e a tentar reconstituir antigas fotos, além de conversar com muita gente ligada ao clube serrano.
Por isso, a Cidade e o Clube devem reconhecer e agradecer este esforço. Esta obra orgulha o seu autor, indubitavelmente, mas também o Sporting Clube da Covilhã, e a Cidade que o viu nascer.
A atenção e consequente observação/informação para o leitor, de inserir as figuras adequadas, alusivas à época, e todos as informações de surgimento de novas coletividades nos primórdios do futebol na Covilhã, e, depois tudo o que foi sendo trabalho de cada direção, é um deleite para o folhear de cada página, enobrecida pela cor.
Não se trata de nenhum romance, nenhuma facto-ficção, mas tão só de importantes páginas da História do Sporting Clube da Covilhã, que, como já referi, vêm completar, ou acrescentar algo mais às publicações já existentes, com um rosto mais apelativo, face à qualidade da obra, publicação que na estante de qualquer biblioteca (não esquecer a do SCC) a engrandece.
Com esta obra, completam-se cinco livros sobre a História do Sporting Clube da Covilhã, invejável para qualquer Clube que se preze, pois não existe tão elevado número de publicações sobre a mesma coletividade para além dos chamados clubes grandes, e, neste caso, o Benfica, F. C. Porto, S.C. Portugal, e, penso que não estaremos abaixo de Os Belenenses. Isto quase que significa que, em termos culturais, o SCC já se encontra dentro dos da Primeira Divisão.
Outros clubes certamente gostariam de ter uma obra assim, mas não têm quem a escreva. E quando tiverem alguém disposto a este trabalho vão ter dificuldades em encontrar documentação. Muitos dos que poderiam contar as estórias, ou ceder material, já terão desaparecido, para além de espólio fotográfico perdido. Por isso, este livro, ainda que se reportando até ao ano 1990, vem em boa hora.
Quando escrevi o 4.º e último livro sobre o SCC – “Sporting Clube da Covilhã na Taça de Portugal – Cinquentenário da sua participação na final – 02/06/2007”, na página 18, no antepenúltimo parágrafo registei o seguinte: “Ficarão, assim, como lacunas para a história, no rigor duma pesquisa global, mas que envolve muito tempo, a participação do SCC nas 2ªs e 3.ªs Divisões Nacionais”, ainda que não deixassem de ser feitas referências aos factos principais, e às suas figuras. Ora, o Carlos Miguel Saraiva, no seu livro “HISTÓRIA DO SPORTING CLJUBE DA COVILHÃ – 1923 – 1990” dá-nos essa oportunidade de podermos ler, e consultar sempre que tal desiderato surja, as figuras, os plantéis, as direções, e outros pormenores quão oportunos, época a época.
Muito mais teria a dizer no desfolhar das 312 páginas que constituem os 53 capítulos desta obra, mas para Prefácio já vai longo. Uma palavra final de agradecimento ao Carlos Miguel Saraiva pelo convite que me fez, não só para prefaciar este livro, como também para fazer a sua apresentação no próximo dia 15 de julho, o que me deixa deveras honrado.



Covilhã, 08/06/2017

João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com


Sem comentários: