Falar e, principalmente,
escrever sobre o Sporting Clube da Covilhã (SCC), é sinónimo de que algo existe
de intrínseco entre o escritor e a instituição pela qual sente empatia, aquele
vendaval de ideias dispostas a ser transpostas para o papel (sempre o papel,
independentemente do digital), para que outros memorizem, ou os mais novos
venham a ter conhecimento, sem que daí também se deixe uma achega para que os vindouros
possam recolher informações que, de outra forma, se dissimulariam no esfumar
dos tempos. Muito se teria perdido se não houvesse alguém que se dedicasse de
alma e coração à recolha das estórias para a história dos seus clubes, como no
caso em apreço.
Conheci o autor desta
interessante e importante obra, há uns anos atrás, quando se dirigiu ao meu
escritório, juntamente com um amigo, animado de idêntico entusiasmo pelo Clube
da sua Terra, para que me encarregasse de dinamizar a página da Internet sobre o
SCC, do qual eram dirigentes; e, posteriormente, numa amizade germinada aquando
da apresentação do meu quarto e último livro sobre os Leões da Serra, assim
como uma exposição temática apresentada na altura no Museu de Arte e Cultura.
Nestes dois últimos atos,
ocorridos há uma década, logo me apercebi que o Carlos Miguel Saraiva, ainda
jovem, já denotava uma forte inclinação para aprofundar a história do Sporting
Clube da Covilhã, mormente na vertente das suas inúmeras figuras (jogadores,
dirigentes, e outros ligados ao Clube dos seus amores), esses obreiros da
construção do grande baluarte do deporto da Beira Interior, histórico por
excelência.
E, não é que o seu blogue,
como coordenador e fundador, se vê forçado a passar a site – www.historiasscc.com
– face ao grande número de aderentes. Depois, algumas exposições fotográficas de
antigos atletas, treinadores e dirigentes do mundo dos Leões da Serra, para
além de homenagens organizadas, por via de jantares, por sua iniciativa, ou
coordenadas com o clube serrano, das figuras do SCC. Foi ainda o autor da
Galeria dos Presidentes e Fundadores do Sporting da Covilhã, que se encontram
na sede social do clube. Realizou um colóquio na Biblioteca Municipal da
Covilhã sobre “Vivência entre o passado e
o presente da história do Sporting Clube da Covilhã”. E, entre outras organizações,
tive o privilégio de o ver ter aceite um meu convite para, em conjunto,
realizarmos um colóquio no Museu da Universidade da Beira Interior – “Monumentos
e Sítios” que, da minha parte me coube a tese “Sporting Clube da Covilhã e os lanifícios”, e o Carlos Miguel
Saraiva “Algumas das principais figuras
do Sp. Covilhã”. Tiveram ainda uma participação neste colóquio, Pedro
Martins, diretor e proprietário da Tribuna Desportiva; o Vereador da Cultura da
Câmara Municipal da Covilhã, Dr. Jorge Torrão; e o Diretor do Museu de
Lanifícios, que coordenou e me havia convidado, Prof. Dr. António dos Santos
Pereira.
E, nestas andanças de muitas
ocasiões de diálogo empático, incluindo algumas deslocações para visitar alguns
antigos atletas serranos, vim a tomar conhecimento da intenção do Carlos Miguel
Saraiva de levar por diante a história do Sporting Clube da Covilhã,
inicialmente em digital, de todos os antigos atletas e dirigentes, assim como
as equipas, época por época, desde o nascimento do clube serrano, há 94 anos,
até onde lhe fosse possível chegar.
Sei quanto trabalho isto
representa, de horas ilimitadas, subtraídas ao sossego do lar e aos momentos de
ócio que deixam de existir, para que uma obra deste jaez venha a lume. Por
isso, incitei o Carlos Miguel a transpor a sua publicação para papel,
reconhecendo as enormes dificuldades económicas que isso representam. Mas, como
é meu lema “Fazer primeiro e pedir
depois”, como algumas vezes lhe transmiti, a obra, de excelência, aí está,
merecedora de leitura atenta.
Mas vamos à “HISTÓRIA DO SPORTING CLUBE DA COVILHÃ –
1923 – 1990”. Depois do trabalho minucioso, de vários anos de pesquisas, permitiu
que este livro trouxesse coisas novas sobre o clube, inserido na sua Cidade que lhe dá o
nome, se bem que além de serem memórias do passado para as novas gerações, trazem
a descoberto informações muito interessantes que já só as gentes de idade avançada se recordam, e
que, entretanto, se encontravam bem reservadas ao baú das recordações.
Este livro, página a página, o
equivalente a época a época do Sporting Clube da Covilhã, entenda-se, desde a
sua génese, até ao ano que foi possível pesquisar – 1990, é um resgatar da
memória de alguns, para uma memória coletiva que devemos preservar.
Por outro lado, esta obra é
também um esforço significativo de reunir memórias dispersas, para que ganhem
um só corpo e permitam reconstituir; a par dos quatro livros já existentes sobre
a coletividade serrana; o passado de uma grande instituição, para que, no
presente, projetemos o futuro com grande orgulho dos Leões da Serra, como
embaixadores não só da Covilhã, mas de toda região beirã.
Ao embrenharmo-nos na leitura
deste livro é conveniente que saibamos compreender o trabalho profícuo dum
autodidata, como o Carlos Miguel Saraiva, que estudou na Escola Industrial e
Comercial Campos Melo da Covilhã, assistente de direção de um hotel, de 46
anos, viúvo e com dois filhos, somente com alguns apoios publicitários, mas sem
subsídios, e sem outro motivo para além do seu amor ao clube, que se lançou num
trabalho complexo e moroso de completar um pouco mais a história do Sporting
Clube da Covilhã, pois ela não termina, continua enquanto a instituição
existir.
Como já tive, e continuo a
ter, trabalhos semelhantes, quando olho para esta obra, reconheço a quantidade
de horas dedicadas a este projeto, a quantidade de noites despendidas após um
normal dia de trabalho, a quantidade de horas a ler velhos livros, a consultar
jornais antigos, documentação que se encontrava sepultada entre o pó de sótãos
ou arrecadações. Assim como a rever e a tentar reconstituir antigas fotos, além
de conversar com muita gente ligada ao clube serrano.
Por isso, a Cidade e o Clube
devem reconhecer e agradecer este esforço. Esta obra orgulha o seu autor,
indubitavelmente, mas também o Sporting Clube da Covilhã, e a Cidade que o viu
nascer.
A atenção e consequente
observação/informação para o leitor, de inserir as figuras adequadas, alusivas
à época, e todos as informações de surgimento de novas coletividades nos primórdios
do futebol na Covilhã, e, depois tudo o que foi sendo trabalho de cada direção,
é um deleite para o folhear de cada página, enobrecida pela cor.
Não se trata de nenhum
romance, nenhuma facto-ficção, mas tão só de importantes páginas da História do
Sporting Clube da Covilhã, que, como já referi, vêm completar, ou acrescentar
algo mais às publicações já existentes, com um rosto mais apelativo, face à qualidade
da obra, publicação que na estante de qualquer biblioteca (não esquecer a do
SCC) a engrandece.
Com esta obra, completam-se
cinco livros sobre a História do Sporting Clube da Covilhã, invejável para
qualquer Clube que se preze, pois não existe tão elevado número de publicações
sobre a mesma coletividade para além dos chamados clubes grandes, e, neste
caso, o Benfica, F. C. Porto, S.C. Portugal, e, penso que não estaremos abaixo
de Os Belenenses. Isto quase que significa que, em termos culturais, o SCC já
se encontra dentro dos da Primeira Divisão.
Outros clubes certamente
gostariam de ter uma obra assim, mas não têm quem a escreva. E quando tiverem
alguém disposto a este trabalho vão ter dificuldades em encontrar documentação.
Muitos dos que poderiam contar as estórias, ou ceder material, já terão
desaparecido, para além de espólio fotográfico perdido. Por isso, este livro,
ainda que se reportando até ao ano 1990, vem em boa hora.
Quando escrevi o 4.º e último
livro sobre o SCC – “Sporting Clube da Covilhã
na Taça de Portugal – Cinquentenário da sua participação na final –
02/06/2007”, na página 18, no antepenúltimo parágrafo registei o seguinte: “Ficarão, assim, como lacunas para a
história, no rigor duma pesquisa global, mas que envolve muito tempo, a
participação do SCC nas 2ªs e 3.ªs Divisões Nacionais”, ainda que não
deixassem de ser feitas referências aos factos principais, e às suas figuras.
Ora, o Carlos Miguel Saraiva, no seu livro “HISTÓRIA
DO SPORTING CLJUBE DA COVILHÃ – 1923 – 1990” dá-nos essa oportunidade de
podermos ler, e consultar sempre que tal desiderato surja, as figuras, os
plantéis, as direções, e outros pormenores quão oportunos, época a época.
Muito mais teria a dizer no
desfolhar das 312 páginas que constituem os 53 capítulos desta obra, mas para
Prefácio já vai longo. Uma palavra final de agradecimento ao Carlos Miguel
Saraiva pelo convite que me fez, não só para prefaciar este livro, como também
para fazer a sua apresentação no próximo dia 15 de julho, o que me deixa
deveras honrado.
Covilhã, 08/06/2017
João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com
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