8 de dezembro de 2018

A CAMINHO DO CICLO DO NATAL


Este número d’O Combatente da Estrela vai sair na data em que se aproxima, a passos largos, o Natal.
Para as nossas crianças é a alegria das prendas, um período de férias mais prolongado para muitas outras, mas também o frenesim pelas notas escolares.
Para os jovens à procura de emprego, concluídos os seus cursos, licenciaturas, mestrados ou doutoramentos é a agitação para posteriormente poderem concorrer a esta ou aquela empresa, instituição ou estabelecimento de ensino, enviando currículos e mais currículos, cadastrarem-se no LinkedIn, e, alguns até, mandando o Brexit à fava, sonhando com recurso ao estrangeiro, mesmo na zona onde se constata a tentação ilusória e perigosa de repor fronteiras onde elas  deixaram de fazer sentido. Se para uns já existiam as dificuldades, para outros iniciam-se agora.
Para os reformados de menores posses, a esperança de que venha depressa o subsídio de Natal, agora que já não é por duodécimos.
Não falo de muitos dos abastados que são por vezes os que mais aferrolham preferindo chupar por um caroço, como sói dizer-se.
E há os verdadeiramente necessitados, alguns de pobreza envergonhada, que aguardam pelo bolo de Natal e um saco mais reforçado das instituições de solidariedade social. Ai se não fossem estas, como estaria este país?... Nesta Covilhã também há alguns sem-abrigo, lamentavelmente.
Depois existem os remediados, os da classe média, com predominância da baixa, para darem vida às atividades económicas, encherem de compras os hipermercados mormente neste período de Natal, integrarem as instituições e o associativismo no voluntariado de uma sã convivência, em vários domínios.
Se já durante o ano há os almoços e jantares comemorativos, nesta altura não falha, dias não são dias, são os jantares de Natal, por todos os recantos e com os seus encantos.
E venham de lá mais umas raspadinhas, que as há para todos os gostos, o euromilhões, e não esquecer a lotaria natalícia.
É também o desejado período de reunir as famílias, dar um abraço aos amigos que só por esta altura ocasionalmente se cruzam connosco, já que os habituais estão registados para as Boas-Festas. Amigos são amigos.
E a grande avalanche de aposentados, deste país envelhecido, mormente daqueles que já começam a pesar-lhes os anos, mas que não ficam parados a ver a banda passar, antes procuram manter as portas abertas duma associação, em movimento, por exemplo, ainda que com algumas interrupções momentâneas dos seus obreiros enquanto “motoristas” dos seus netos, mas com alegria, dão cartas na prossecução de tarefas, sem compensação, das quais algumas deveriam ser de obrigação do Estado.
Tenho vindo a falar sobre as pessoas, nos últimos números deste O Combatente da Estrela, e é neste âmbito que não posso descurar os sacrifícios por que muitos de nós, antigos Combatentes, passámos, alheios ao desconhecimento das últimas gerações, agora que se comemorou o centenário do Armistício da  Primeira Guerra Mundial, onde muitos jovens covilhanenses e da região beirã, para já não falar de milhares e milhares de jovens portugueses de então, vieram a deixar o mundo dos vivos, furados pelas balas do inimigo nas trincheiras.
Depois haveria de surgir uma outra, ainda pior, a Segunda Grande Guerra, em pouco mais de duas décadas.
E para nós, antigos Combatentes, chegaria a nossa vez, através das malditas guerras do Ultramar, guerras subversivas como os governantes de então a apelidavam. Muitos sofrem ainda o malfadado stress pós-traumático, tantas vezes aqui referido.
A Liga dos Combatentes, então criada, de cujo Núcleo da Covilhã, donde emergiu “O Combatente da Estrela”, não tem dado tréguas a várias ações em prol dos seus associados, e não só, em várias vertentes, tão sobejamente referidas neste órgão ao longo das suas páginas trimestrais.
As várias atividades desenvolvidas todos os anos, como no presente, são bem o testemunho duma casa acolhedora a todos os seus membros. E para isso, a atual Direção, que tomou posse em 27 de abril de 2018, é a continuadora do que acima foi referido, duma associação em movimento.
Sobre as guerras por que a nossa geração (os nascidos nos anos 30 a 50) passou, muitos em pleno teatro de guerra, vale a pena ler os testemunhos inseridos nos textos das pessoas que ainda têm paciência para recordar várias facetas desses terríveis tempos, e que aqui vamos registando, porque felizmente não pereceram.
Vale a pena também a atenção especial para o texto do antigo Combatente, Eduardo Tendeiro, que mencionamos na rubrica “Conte-nos a sua história”, ele um dos que integrou a guerra do Ultramar nos seus primórdios (foi meu professor em 1957/58, muito antes de ser chamado para o serviço militar obrigatório).
E, neste contexto, conforme foi referido no último número, jamais consigo aceitar a exuberância com que alguns apregoam aos sete ventos, mormente em atos públicos de apresentação das suas obras, que foram exilados deste país, porque não aceitavam as ideias ditatoriais do regime nem as guerras em que estava envolvido o país, quando, na verdade, foram tão só os fugitivos da Nação, tendo regressado após o 25 de Abril, incólumes, quando deveriam responder pelos seus atos pusilânimes de fugir à responsabilidade patriótica, ainda que com a mesma não concordassem. Em vez de se manterem caladinhos, surgem vitimizados e ufanos, sem coerência na sua razão de patriotismo.
Na esperança de continuarmos a prosseguir com o mesmo entusiasmo no próximo ano, desejamos a todos os Antigos Combatentes, Associados e suas Famílias, assim como aos prezados Leitores, um Santo Natal e um Feliz Ano 2019.


(In "O Combatente da Estrela", n.º 113, de dezembro de 2018)

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