Este número d’O Combatente da Estrela vai sair na data
em que se aproxima, a passos largos, o Natal.
Para as nossas crianças é a
alegria das prendas, um período de férias mais prolongado para muitas outras,
mas também o frenesim pelas notas escolares.
Para os jovens à procura de
emprego, concluídos os seus cursos, licenciaturas, mestrados ou doutoramentos é
a agitação para posteriormente poderem concorrer a esta ou aquela empresa, instituição
ou estabelecimento de ensino, enviando currículos e mais currículos, cadastrarem-se
no LinkedIn, e, alguns até, mandando
o Brexit à fava, sonhando com recurso
ao estrangeiro, mesmo na zona onde se constata a tentação ilusória e perigosa
de repor fronteiras onde elas deixaram
de fazer sentido. Se para uns já existiam as dificuldades, para outros
iniciam-se agora.
Para os reformados de menores
posses, a esperança de que venha depressa o subsídio de Natal, agora que já não
é por duodécimos.
Não falo de muitos dos abastados
que são por vezes os que mais aferrolham preferindo chupar por um caroço, como
sói dizer-se.
E há os verdadeiramente
necessitados, alguns de pobreza envergonhada, que aguardam pelo bolo de Natal e
um saco mais reforçado das instituições de solidariedade social. Ai se não
fossem estas, como estaria este país?... Nesta Covilhã também há alguns
sem-abrigo, lamentavelmente.
Depois existem os remediados, os
da classe média, com predominância da baixa, para darem vida às atividades
económicas, encherem de compras os hipermercados mormente neste período de
Natal, integrarem as instituições e o associativismo no voluntariado de uma sã
convivência, em vários domínios.
Se já durante o ano há os almoços
e jantares comemorativos, nesta altura não falha, dias não são dias, são os
jantares de Natal, por todos os recantos e com os seus encantos.
E venham de lá mais umas
raspadinhas, que as há para todos os gostos, o euromilhões, e não esquecer a
lotaria natalícia.
É também o desejado período de
reunir as famílias, dar um abraço aos amigos que só por esta altura
ocasionalmente se cruzam connosco, já que os habituais estão registados para as
Boas-Festas. Amigos são amigos.
E a grande avalanche de
aposentados, deste país envelhecido, mormente daqueles que já começam a
pesar-lhes os anos, mas que não ficam parados a ver a banda passar, antes
procuram manter as portas abertas duma associação, em movimento, por exemplo,
ainda que com algumas interrupções momentâneas dos seus obreiros enquanto “motoristas”
dos seus netos, mas com alegria, dão cartas na prossecução de tarefas, sem
compensação, das quais algumas deveriam ser de obrigação do Estado.
Tenho vindo a falar sobre as
pessoas, nos últimos números deste O
Combatente da Estrela, e é neste âmbito que não posso descurar os
sacrifícios por que muitos de nós, antigos Combatentes, passámos, alheios ao
desconhecimento das últimas gerações, agora que se comemorou o centenário do
Armistício da Primeira Guerra Mundial,
onde muitos jovens covilhanenses e da região beirã, para já não falar de
milhares e milhares de jovens portugueses de então, vieram a deixar o mundo dos
vivos, furados pelas balas do inimigo nas trincheiras.
Depois haveria de surgir uma
outra, ainda pior, a Segunda Grande Guerra, em pouco mais de duas décadas.
E para nós, antigos Combatentes,
chegaria a nossa vez, através das malditas guerras do Ultramar, guerras
subversivas como os governantes de então a apelidavam. Muitos sofrem ainda o
malfadado stress pós-traumático, tantas vezes aqui referido.
A Liga dos Combatentes, então
criada, de cujo Núcleo da Covilhã, donde emergiu “O Combatente da Estrela”, não tem dado tréguas a várias ações em
prol dos seus associados, e não só, em várias vertentes, tão sobejamente
referidas neste órgão ao longo das suas páginas trimestrais.
As várias atividades
desenvolvidas todos os anos, como no presente, são bem o testemunho duma casa
acolhedora a todos os seus membros. E para isso, a atual Direção, que tomou
posse em 27 de abril de 2018, é a continuadora do que acima foi referido, duma
associação em movimento.
Sobre as guerras por que a nossa
geração (os nascidos nos anos 30 a 50) passou, muitos em pleno teatro de
guerra, vale a pena ler os testemunhos inseridos nos textos das pessoas que
ainda têm paciência para recordar várias facetas desses terríveis tempos, e que
aqui vamos registando, porque felizmente não pereceram.
Vale a pena também a atenção
especial para o texto do antigo Combatente, Eduardo Tendeiro, que mencionamos
na rubrica “Conte-nos a sua história”,
ele um dos que integrou a guerra do Ultramar nos seus primórdios (foi meu
professor em 1957/58, muito antes de ser chamado para o serviço militar
obrigatório).
E, neste contexto, conforme foi
referido no último número, jamais consigo aceitar a exuberância com que alguns
apregoam aos sete ventos, mormente em atos públicos de apresentação das suas
obras, que foram exilados deste país, porque não aceitavam as ideias ditatoriais
do regime nem as guerras em que estava envolvido o país, quando, na verdade, foram
tão só os fugitivos da Nação, tendo regressado após o 25 de Abril, incólumes,
quando deveriam responder pelos seus atos pusilânimes de fugir à
responsabilidade patriótica, ainda que com a mesma não concordassem. Em vez de
se manterem caladinhos, surgem vitimizados e ufanos, sem coerência na sua razão
de patriotismo.
Na esperança de continuarmos a
prosseguir com o mesmo entusiasmo no próximo ano, desejamos a todos os Antigos
Combatentes, Associados e suas Famílias, assim como aos prezados Leitores, um
Santo Natal e um Feliz Ano 2019.
(In "O Combatente da Estrela", n.º 113, de dezembro de 2018)
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