11 de dezembro de 2018

A CHINA COMEÇA A ASSUSTAR A UNIÃO EUROPEIA

Quase que se podia dizer que sai um (Reino Unido) e entra outro (China), embora não seja a mesma coisa.
A China serão os novos donos de Portugal, pelos vistos. Longe vão os tempos em que víamos as imagens das gentes chinesas vestidas todas de igual, cor cinza e o mesmo modelo de vestuário, com bolsos e botões salientes, de gola apertada onde a gravata era inexistente, e de boina ou boné na cabeça.  Era uma autêntica farda. Tornava-se fastidioso, e todo o mundo chinês utilizava a bicicleta como meio de transporte. Era o tempo de Mao Tsé-Tung.
Noutra vertente, parece que ainda estou a ver na RTP1, então a preto e branco, no dia 25 de outubro de 1971 (uma segunda-feira), os representantes da República da China, da altura, na ONU, que foram um dos seus fundadores, a saírem da Assembleia-Geral das Nações Unidas, expulsos, e revoltados, para darem lugar aos representantes da República Popular da China, oficialmente com esta designação desde 1949, por via duma resolução aprovada por aquela Assembleia Geral. Ainda hoje se mantêm as duas Chinas, geradoras de melindres entre países, como Portugal, porque não se pode agradar a Deus e ao diabo, como no caso que se desenvolve, a bom ritmo, nas decisões entre o nosso país e a República Popular da China. A outra chamava-se Formosa e é hoje Taiwan. A culpa foi de Mao.
Aqui um parêntesis. Para se falar da China tem que resultar numa recolha vasta de importantes informações históricas pois se trata dum dos países mais antigos, aproximadamente 2000 a.C. Era baseada em monarquias hereditárias, conhecidas como dinastias, que terminaram com a queda da dinastia Qing em 1911. Fundou-se então, neste ano, a República da China que governou o continente chinês até 1949. Em 1945 a república chinesa adquiriu Taiwan do Império do Japão, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
O Partido Comunista assumiu-se vitorioso perante o Partido Nacionalista e estabeleceu a República Popular da China, em 1 de outubro de 1949, enquanto o Nacionalista mudou a sede do seu governo para Taipé.
As forças armadas têm um efetivo de 2,3 milhões de soldados – o Exército de Libertação Popular – que é a maior força militar do mundo, em termos de número de tropas. A liberdade política é ainda muito restrita. O que é certo e verdade é que há uma contradição na Constituição da República Popular da China (RPC) ao nela se afirmar que os “direitos fundamentais” dos cidadãos incluem a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, o direito a um julgamento justo e à liberdade de religião, o sufrágio universal e o direito de propriedade, o que não conferem aos chineses proteção significativa, contra procedimentos penais do Estado. Recordam-se os Protestos na Praça da Paz Celestial (Tian’anmen), em 1976 e 1989, contra a repressão do regime chinês, que resultou em massacres. E tenha-se em atenção que a China executa mais pessoas do que qualquer outro país do mundo, respondendo por 72% do total mundial de execuções em 2009.
No entanto, a economia da República Popular da China é a segunda maior do mundo, sendo a nação com maior crescimento económico dos últimos 25 anos, com a média do crescimento do PIB em 10% por ano.
Este robusto crescimento económico, combinado com excelentes fatores internos como estabilidade política, grandes reservas em moeda estrangeira (a maior do mundo, com 818,9 biliões de dólares), mercado interno com grande potencial de crescimento, faz com que a China seja atualmente um dos melhores locais do mundo para investimentos estrangeiros, com uma avaliação de risco (Moody’s) A2, índice considerado excelente.
Desde a introdução de reformas económicas em 1978, a China tornou-se uma das economias de mais rápido crescimento no mundo, sendo o maior exportador e o terceiro maior importador de mercadorias do planeta.
É impressionante como conhecemos a China há umas décadas atrás e, face à industrialização, reduziu a taxa de pobreza de 53%, em 1981, para 8%, em 2001. Por isso é considerada uma superpotência emergente.
Pois cá tivemos a semana transata (dias 4 e 5 deste mês de dezembro), a visita a Portugal do 4.º  presidente chinês, Xi Jinping, sendo que a 1.ª visita dum presidente chinês se realizou em 1984 (de 16 a 19 de novembro), na pessoa de Li Xiannian; depois, a 2.ª em 1999 (26 e 27 de outubro), com Jiang Zemin; e a 3.ª  visita aconteceu em meados de novembro de 2010, com Hu Jintao, em condições muito diferentes das do atual presidente, pois nessa altura havia uma profunda crise europeia, mas foram investidos cerca de nove mil milhões de euros, pelo que a relação com a China é para continuar.
Portugal recebeu o presidente chinês para reforçar a cooperação entre os dois países. Efetivamente, com os “vistos gold”, o país abriu as portas ao espaço Schengen a mais de 4000 cidadãos chineses, como contrapartida de vários investimentos em território nacional. Nesta altura, o investimento direto estrangeiro da China atinge um total de 12 mil milhões de euros, abarcando setores desde a energia (Galp, REN, EDP) aos transportes (TAP), passando também pela área dos seguros (Fidelidade), saúde (Grupo Luz Saúde).
Tem sido argumentado de que os dois países têm 500 anos de conhecimento mútuo, incluindo uma transferência bem-sucedida da soberania de Macau. “Mas até onde Portugal deve ir na sua relação económica e política com a China para preservar a independência das suas decisões estratégicas e o estatuto de membro da União e da Nato?” Segundo o Coordenador do Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Aveiro, Carlos Rodrigues, “a aquisição de empresas portuguesas permite um acesso a conhecimento e tecnologia a que, de outra forma, seria muito difícil aceder”. E Miguel Santos Neves, especialista nas relações Portugal-China, professor na UAL, refere que “a China visa utilizar esta forte influência sobre Portugal para enfraquecer a União Europeia (UE) e a sua posição negocial face a Pequim”.
A UE teme a entrada pujante da China e esta vê também a sua história de sucesso a ser colocada sob ameaça pela mudança de atitude de outras potências mundiais, principalmente os Estados Unidos perante o sucesso chinês. Sim, a China, de país essencialmente agrícola, passou a maior exportador do mundo e segunda maior economia mundial, com mais de 800 milhões de chineses a deixarem de estar em situação de pobreza extrema, o que representa um contributo de cerca de 70% para a redução total da pobreza no planeta.
E, assim, Portugal e a China assinaram um “memorando” muito europeu, cujas “relações deram mais 17 passos em frente”, sendo que o primeiro destes acordos é um memorando de entendimento da chamada “nova Rota da Seda”, que envolve uma vertente terrestre e outra marítima, com ênfase nas estruturas.
Já vai longo o texto, pelo que me despeço com os votos de um Santo Natal e um Feliz Ano 2019.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 11-12-2018)

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