5 de junho de 2019

ENTRE AS PÁGINAS ROMANESCAS DE UM LIVRO E O JORNAL “O OLHANENSE”


A primeira pausa após o almoço daquela sexta-feira. (1)
- Bom, meus caríssimos amigos e companheiros destas jornadas seguradoras, tenho a comunicar-vos uma notícia que ontem chegou a minha casa, que já poderia ser transmitida durante o almoço, mas custou-me imenso, até parece que se me travou a língua!... – Disse o Benedito. E manteve-se durante algum silêncio.
Todos ficaram atónitos, tanto mais que ninguém deduziu que viria a anunciar o nascimento do primeiro filho, face à idade do casal… Mas esperavam que alguém se pronunciasse, olhando uns para os outros.
Outros pensaram: aqui há gato!...
Até que o Benedito continuou:
- A Sónia recebeu um convite para passar a ser a maestrina de duas bandas filarmónicas algarvias, entre as quais a Banda Musical de Tavira, onde eu estive algum tempo no serviço militar…  Certamente a nossa vida vai mudar de Leiria para terras algarvias…  Pensamos nós!...
- Então qual é o problema? – disse o Rosas. E acrescentou: Primeiro a vossa vida, e depois o grupo Tertuliano. Paciência!...
- Claro que sim!... opinou também a Faustina. – É pena que ainda há pouco tempo começámos a integrar esta tertúlia que está a ser interessantíssima, mas a vida é mesmo assim!...
- Então para que não percamos mais tempo, vamos continuar com os nossos trabalhinhos – disse o Benedito – e depois já desenvolvo mais a conversa a meu respeito.
Na segunda pausa após o almoço desta sexta-feira, já a tornar-se de certo modo agitada, o Benedito tenta acalmar os companheiros tertulianos:
- Ora bem, na sequência do que vos transmiti há pouco, só lá para junho é que vou deixar Leiria, até porque ainda temos de acertar pormenores com o trabalho da Sónia, e a nossa deslocação para lá. Portanto, até lá ainda podemos fazer muita coisa…
No Algarve, para além da Sociedade da Banda Musical de Tavira, também foi abordada pela Banda Filarmónica Moncarachense 1.º de Dezembro e pela Banda Musical Castromarinense.
Disse o Rosas: - Alguém há de tomar a liderança do grupo para prosseguir com outro tema cultural. Pelo menos, ficaram as raízes do que tem sido desenvolvido ao longo pouco mais de uma semana!
- Não vai morrer, não senhor!... Deixemos lá o amigo Benedito e a Sónia resolverem a sua vida! – disse o Pedro. – Não esqueçais que as viagens estão de pé!...
Chegou finalmente aquela quinta-feira, dia 4 de maio do ano da graça de 2017. Bem cedo, ainda não eram nove horas e já começavam a chegar os primeiros tertulianos à Adega Regional.
Numa breve pausa, a Milu, que gosta muito de história, avançou com a pergunta:
- Não foi em 4 de agosto de 1578 que se deu a Batalha de Alcácer Quibir?
- Sei que foi em 1578, mas não me recordo da data completa… Mas porquê? – Resposta e pergunta da Sónia.
- É que me chamou à atenção o facto de o Benedito ter referido há pouco que… deixa cá ver…o cargo de escrivão de seguros foi criado por carta régia de D. João III, datada de outubro de 1579. Ora bem… mas a outra… ah! Já sei… disse que a criação do cargo de corretor de seguros coube a D. Sebastião, por carta régia de fevereiro de 1578. Logo, seriam seis meses antes de perder a vida naquela maldita batalha!... – Respondeu a Milu.
- Pois bem, hoje terminamos definitivamente esta tertúlia sob o tema que viemos a desenvolver – referiu o Benedito. Já combinei com a Sónia para que a viagem projetada para o Algarve, de dois dias, com uma pernoita, para celebrar o encerramento desta tertúlia, ainda que efémera, será no hotel Vila Gale Ampalius, em Vilamoura. Estivemos indecisos entre este e o Dom Pedro Martins..., escolhemos o primeiro porque está localizado a poucos metros da Praia da Marina e da Marina de Vila Moura.
Depois, as refeições logo se verão, uma vez que vamos visitar várias localidades do Algarve. É no dia 27 de maio, às 7h30 da manhã, sábado, porque o Benedito no dia 25 tem o já agendado encontro de futebol de Veteranos entre o Sport Clube Leiria e Marrazes e o Grupo Recreativo Amigos da Paz/Pousos.
- Então vamos juntar-nos no mesmo local – Jardim Luís de Camões? – perguntou o Licínio.
Depois de algumas trocas de impressões sobre o Algarve onde, uns há muito tempo que lá não iam, outros que estiveram lá o ano passado, e outros, como o Benedito e o Marques, estiveram durante a recruta no CISMI, em Tavira (o Benedito), e a especialidade (o Marques), chegou finalmente o ansiado dia. Eram oito horas e iniciaram a viagem a caminho do Algarve, destino Vilamoura, sendo feito algumas paragens pelo caminho. As máquinas fotográficas foram então substituídas pelos smartphones, pelo que se iam tirando umas fotos pelas paragens durante o trajeto. Eram aproximadamente 368 Km. Seguiram pela A1 e quando na IC 10 viram a placa Algarve/Évora/Coruche/Almeirim, saíram em Almeirim na tentativa de irem comer a sopa de pedra. A muito custo lá conseguiram uma mesa. Acautelaram-se nas bebidas…
Uma pequena paragem na área de serviço de Alcácer do Sal e aí se direcionaram a caminho de Vilamoura. Ao passarem por Poço de Boliqueime e Fonte de Boliqueime alguns lembraram-se que Boliqueime é a terra de Cavaco Silva.
Chegados ao hotel, depois do check-in e de tudo arrumado, foi altura de darem uma voltinha pelas cidades mais próximas…  Foram até Portimão, ficando o passeio pela marina de Vilamoura para a noite.
- Está ali um café – apontou o Alberto Ferreira. Entraram então no Café Casa Inglesa. O Rosas comprou o jornal O Olhanense, onde vinha sempre uma crónica do antigo camarada da Covilhã, do RAL 4, que estava à venda à porta do Café Nacional.
- Bom, meus amigos!... Está na hora de jantar, ou vocês não querem jantar?
- Sugeria que fossemos a Albufeira porque lá há animação à noite – disse o Pedro. Todos concordaram.
Entraram no Café Ameixial. Cá fora, quatro mexicanos tocavam os seus instrumentos exóticos. Depois, entraram numa esplanada e ali, ao ar livre, perto dum palco onde atuavam alguns artistas populares, jantaram. Quase todos preferiram um robalo escalado, exceto a Milu e o Pedro que optaram por cavala.
Ainda passaram pelo Café Pastelaria Riviera, tendo recolhido a Vilamoura.
- Amanhã podemos almoçar aqui no Restaurante do Chino e do Figo!... – disse o Rosas, apontando para o letreiro “Café Figo e China Lda”, ainda com muita gente.
Tomado o pequeno-almoço no hotel, quiseram ainda entrar no Café do Chino, e aí decidirem aproveitar o tempo, visitando outras cidades algarvias. Deram um salto a Lagos, entraram no Café Taquelim, e a Sónia quis comprar uns bolos vistos no Café Mildoces.
- Bom, agora voltamos para trás – disse o Rosas. E lá passaram novamente por Portimão, viram a Praia da Rocha  e a direção agora Faro, Olhão e Tavira.
A próxima viagem para uma visita turística foi a cidade de Faro, capital do Algarve. Uma pausa no Café Aliança, para umas minis pois as gargantas já estavam a precisar. A Milu e a Anabela beberam água natural sem gás, já que as restantes companheiras optaram por sumos frescos.
O Pedro perguntou onde era o Café Pastelaria Gardy pois estivera lá, como empregado de mesa, um seu antigo camarada do Ultramar.
Em Faro não houve grandes demoras, já que agora estavam na peugada de Olhão, Chegados a Olhão, logo encontraram onde matar a sede – Café Chaminé. Havia também que descansar as pernas.
Deram umas voltas pela cidade e entraram no Café O Pátio onde consumiram algumas bebidas.
Entretanto, o Benedito ouviu de dois compadres, em voz baixa, mas ali perto da mesa onde se encontrava – assim se chamavam um ao outro… –, a leitura de um artigo que vinha no jornal O Olhanense e que dizia assim: “O Lameiro do Chão Verde”. (2)
- Bom, meus amigos, vamos a Tavira porque eu já lá fico e vocês têm de regressar ainda a Leiria!... – Ordenou o Benedito.
Todos se ergueram mais rápido, entraram nos respetivos automóveis e… rumo a Tavira, onde o Marques começou logo por dizer que gostava de matar saudades, passando na ponte antiga sobre o Rio Gilão.
- Não te lembras das salinas, onde nos levavam para os exercícios, que saíamos de lá cheios de lama, e depois quando chegávamos ao quartel para tomar banho cortavam a água e ficávamos todos sujos? Tínhamos de nos desenrascar… que era ação psicológica!... – continuou a insistir o Marques, que agora queria ir ver o CISMI e a Atalaia.
Bom, dirigiram-se ao CISMI – Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (que agora mudou o nome para Regimento de Infantaria n.º 1), também conhecido como Quartel da Atalaia. Pediram autorização de passar da porta de armas, acompanhado por um militar que estava de serviço. Ainda existe a G3 que o militar deixou que nela pegassem. Bom, o Campo da Atalaia, onde se fazia a instrução militar, esse já lá não estava, foi aí construída uma urbanização.
Entretanto, recordando algumas pessoas castiças, que acompanhavam os instruendos do CSM durante a instrução militar, para vender refrigerantes, a UCAL, chocolates ou bolachas, nos intervalos (como a Ti Almerinda), o Marques, mais uma vez, recordou e disse:
- Gostaria de vos ler um artigo do meu ex-camarada da Covilhã, durante o tempo em que esteve aqui. E, puxando pelo smartphone, pesquisou e passou a ler: “Boliqueime”.
E foi o regresso a Leiria.

(1)     In “O Documento Antigo – Uma Outra Forma e Ver os Seguros”, de João de Jesus Nunes
(2)     “O Lameiro do Chão Verde”, por Goreti Costa, in ‘O Olhanense’, de 15-04-2018.

(In Jornal "O Olhanense", de 01-06-2019)

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