19 de outubro de 2022

ELEIÇÕES E CONTRADIÇÕES


 

“O mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança” – assim termina a Pedra Filosofal de Manuel Freire. Mas também inicia com as letras “Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer”.

Este mundo está cada vez mais nas mãos de muitos senhores que fazem deste Planeta uma bola de farrapos, que se vai desfazendo com tantos pontapés sem sentido, retirando-lhe todos os cambiantes do bem-estar de todos os humanos. Aos outros senhores, que deveriam ser respeitados, que cumprem os acordos internacionais em prol da Casa Comum, já não lhes dão ouvidos, não passam cavaco, embirram como crianças quando lhes retiram a bola colorida.

Que mundo este sem sentido da vida! Mas, mesmo assim, existe o sonho que é uma constante da vida. Estamos atravessando um longo período que, não obstante uma pandemia ainda não terminada, uns quantos pensantes, julgando-se iluminados, são banhados no seu sonho que os irá conduzir para uma tremenda escuridão.

E neste avançar do mundo, repleto de boas intenções para uns, mas nas contradições de outros, assim vão surgindo ledos e tristes dias.

As últimas semanas foram repletas de acontecimentos se bem que relevantes também preocupantes. Faço referência, por exemplo, às eleições em Itália avançando para a extrema-direita na cena política europeia. Isto depois das vitórias alcançadas na Hungria, na Polónia e na Suécia, para além dos avanços ocorridos em França.

Pois é, já estávamos esquecidos do lema salazarista de “Deus, Pátria e Família”, quando surge agora o mesmo de Benito Mussolini, da terceira maior economia do euro e a segunda potência industrial da União Europeia.

Esperemos agora que, no Brasil, Lula da Silva, apesar de algumas contradições, possa levar de vencida, na segunda volta, em 30 de outubro, o ultra direitista Jair Bolsonaro.

Na Guerra da Ucrânia têm surgido importantes desenvolvimentos, quer no terreno quer nos bastidores. A relevância no terreno vai para as vitórias das forças ucranianas com o registo de significativos avanços, recuperando perto de 5.500 quilómetros quadrados.  Os invasores russos mostram já o seu grande nervosismo em face da humilhação provocada por estas vitórias ucranianas.

Depois, as muitas contradições entre responsáveis da Igreja Católica no encobrimento dos casos de pedofilia. Não fosse a persistência dos denunciantes e vítimas deste contexto, em casos que, muitos deles, já prescreveram, estes homens do “divino” ficavam no segredo dos deuses, muitos dos quais sem punição. Lamentáveis os encobrimentos desses desvios sexuais por homens da Igreja, que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo, como o Bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, como dantes já haviam sido o Patriarca de Lisboa, Cardeal D. Manuel Clemente. E nesta envolvente de casos até o bispo de Timor, Prémio Nobel da Paz, viria a ser apanhado na rede, há já bastante tempo, com o ar de espanto dos portugueses perante D. Ximenes Belo.

E, para completar o ramalhete de casos deploráveis nestas circunstâncias, faltavam as palavras de agradar a Deus e ao Diabo, do Presidente da República, a tentar deitar água na fervura quando se referiu que “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”. Os 424 testemunhos foram recolhidos pela designada Comissão Independente para Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, uma estrutura constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Face à avalanche de críticas sobre as palavras do Presidente da República, este viu-se constrangido a pedir desculpa: “A minha intenção não foi ofender as vítimas, se ofendi, peço desculpa”.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In quinzenário “O Olhanense”, de 15-10-2022)

12 de outubro de 2022

SURPRESAS PELAS ESTRATÉGIAS


 


Já não chegavam as várias lutas que se vão desenvolvendo entre os povos, por este mundo fora; a fome em muitas regiões do globo, a pandemia que nos fez muito sofrer, os problemas climáticos que os loucos deste planeta persistem em não dar ouvidos; às vozes prenunciadoras dos cataclismos cada vez mais ameaçadores da Terra; como agora o desejo malévolo de querer alimentar uma nova guerra fria.

Depois, em ambiente eleitoral com decisões nos dois hemisférios (uma eleição já realizada, numa vertente mussoliniana, na Velha Europa, mas que terá que defrontar uma democracia para se poder manter na UE – a Itália; outra, com a decisão do povo brasileiro em 2 de outubro, no hemisfério do Sul), dois países anteveem uma mudança brusca de rumo. Da Itália vem aí a extrema-direita com Meloni. É um país civilizado, a que nos habituámos, que está à espreita. Como diz Rosália Amorim, in DN, “é uma nova forma de fazer política e de liderar uma nação que, no passado, esteve sob o facho de Mussolini.” E isto passa-se no Velho Continente Europeu, onde eclodiu a Segunda Guerra Mundial, naquela que é atualmente a terceira maior economia da União Europeia. Pela primeira vez desde 1945, este país vai ser governado por uma liderança pós-fascista.

Se no hemisfério norte a Europa está perigosa, no hemisfério sul deseja-se que Lula da Silva possa destronar Jair Bolsonaro que se mostra nervoso com as sondagens a seu desfavor.

Mas a guerra veio proveniente dum hitleriano russo, sob a iniciativa, instigação e égide do diabolizado Putin, pretendendo subverter um país independente – a Ucrânia.

À partida, aquele malfeitor pensava que a invasão eram favas contadas, tudo se passaria, como profetizava, realizar-se num ápice, como um trovão. Tal não aconteceu, e o povo ucraniano, fortemente imbuído na alma do seu presidente, Volodymyr Zelensky, tem mostrado enorme patriotismo.

De tal forma, que, na recuperação de territórios ocupados pelos russos, pelas forças ucranianas, surgiu a maior contraofensiva na Europa desde 1945, ou seja, da Segunda Guerra Mundial. Foi anunciado que as tropas ucranianas recapturaram mais de 3 mil quilómetros quadrados de território em setembro, durante uma contraofensiva no nordeste do país. – “Nos últimos dias o exército russo mostrou o que tem de melhor: as suas costas. Fugir é uma boa escolha para eles”, informou Zelensky. Os russos estavam a ficar sem opções nas linhas da frente da batalha, “porque estamos a destruir as suas cadeias logísticas, armazéns, etc. Em Kharkiv, que continua permanentemente a ser bombardeada, nesta região o exército ucraniano arregaçou as mangas e iniciou uma ofensiva super eficaz e inesperada: o exército russo esperava uma ofensiva ucraniana em Kherson, a sul, mas foi surpreendido com um ataque a nordeste, em Kharkiv, conseguindo recuperar, só em três dias, mais de um terço da área ocupada nesta região. Isto foi conseguido devido a uma estratégia bem planeada de desinformação das forças armadas ucranianas, de acordo com o The Guardian, que avança que desde 29 de agosto e ao longo de vários dias, o exército ucraniano partilhou informações falsas que foram difundidas por todo o mundo, o que levou a que os russos estivessem preparados para receber o exército ucraniano em Kherson”. De acordo com Kuzan, esta ação militar foi realizada “à velocidade da luz”, o que gerou uma grande pressão para as forças militares russas, tanto a norte como a sul da Ucrânia.

Esta foi uma surpresa pela estratégia ucraniana.

Na história mundial, temos muitos exemplos de surpresas pelas estratégias aplicadas que deram bons resultados. Antes e depois de Cristo. Por exemplo, as estratégias de Viriato, da Lusitânia, e as suas surpresas, contra os Romanos, quando em 147 a. C. se opôs à rendição dos lusitanos a Caio Vetílio, que os tinha cercado no Vale de Betis, na Terdetânia. Poucos dias após a sua aclamação pela assembleia de chefes tribais, Viriato acompanhado de oito mil soldados segue em direção à Carpetânia onde tem conhecimento da nomeação do novo cônsul, apontado para tomar as rédeas dos interesses romanos na Hispânia Ulterior. Na batalha contra o pretor Plaúcio, este mandou tocar as tubas e o exército romano cerrou fileiras com uma primeira linha pejada de escudos vermelhos retangulares e lanças inclinadas. Aguardavam a carga inimiga. Viriato revê a estratégia com os seus guerreiros e avança rápida e decididamente contra os romanos mas, a pouca distância dos mesmos manda recuar os seus homens, dando a entender que se assustaram com o poder do exército inimigo. Entretanto, quando já se encontra distante dos seus perseguidores, Viriato inverte a marcha e ordena um ataque feroz pela frente e pelas alas. Apanhados de surpresa pela estratégia rápida, os romanos são rapidamente dizimados.

Já d.C. podemos dar o exemplo da Batalha de Aljubarrota, decorrida no final da tarde de 14 de agosto de 1385, entre as tropas portuguesas, com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal com o condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela. Inovou a tática militar permitindo que homens de armas apeados fossem capazes de vencer uma poderosa cavalaria. A opção dos portugueses recaiu sobre uma pequena colina de topo plano rodeada por ribeiros, perto de Aljubarrota. Contudo o exército não se apresentou ao castelhano nesse sítio. Inicialmente formou as suas linhas noutra vertente da colina, tendo depois, já em presença das hostes castelhanas mudado para o sítio pré-definido. Isto provocou bastante confusão nas tropas de Castela. Depois de outras surpresas inseridas na estratégia de D. Nuno Álvares Pereira, precipitadamente, João de Castela ordenou a retirada geral sem organizar a cobertura. Os castelhanos debandaram então desordenadamente do campo de batalha, tendo a cavalaria portuguesa se lançado em perseguição dos fugitivos, dizimando-os sem piedade.

Seria importante que não fossem necessárias mais surpresas pelas estratégias para se ganharem batalhas, sinal de que o mundo caminharia melhor.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

 

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 12-10-2022. Este texto foi publicado incompleto, faltando a parte final do antepenúltimo parágrafo e o último parágrafo)

4 de outubro de 2022

DOIS SÉCULOS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

 

Oficialmente, a data comemorativa para a independência do Brasil é de 7 de setembro de 1822. Foi neste dia que ocorreu o evento conhecido como o Grito do Ipiranga, nas margens do riacho Ipiranga, atualmente na cidade de São Paulo.

 

Em 12 de outubro de 1822, o príncipe herdeiro de Portugal foi aclamado D. Pedro I, Imperador do Brasil, sendo coroado e consagrado no 1º de dezembro desse ano. O país passou então a ser conhecido como o Império do Brasil.

Entretanto, em Portugal, chegaria a governar cumulativamente, com a designação de D. Pedro IV.

Recordemos que a partir de 15 de julho de 1799, o então Príncipe do Brasil (pai deste D. Pedro), D. João Maria de Bragança (mais tarde D. João VI), tornou-se príncipe-regente de Portugal, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, foi declarada louca pelos médicos. Os acontecimentos na Europa, onde Napoleão Bonaparte se afirmava, sucederam-se cada vez mais repentinamente.

Numa retrospetiva muito alongada, direcionada para o ano da descoberta do Brasil, no redondo 1500, muitas estórias da história brasileira se passaram até aos dias de hoje, entre tristes e ledas madrugadas, e entre ventos e marés que viriam a acontecer neste grande país do hemisfério sul do Planeta.

Não escondo o prazer da narrativa daquele verão de 1500, na visão do Paraíso, que João Paulo Oliveira e Costa nos traz no seu livro Episódios da Monarquia Portuguesa, em que uma pequena caravela entrou no Tejo sem despertar a curiosidade dos espiões que enxameavam por Lisboa. Tampouco a administração régia deixou testemunho da chegada de Gaspar de Lemos a Lisboa depois de ter participado na descoberta da Terra de Vera Cruz. Só volvidos alguns meses quando os navios sobreviventes da armada da Pedro Álvares Cabral regressaram da Índia, se soube do achamento de novas terras no Sudoeste do mar Oceano.

Pela pena do navegador Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da armada, o rei de Portugal – D. Manuel I – “pudera espreitar o Paraíso: uma terra de temperatura amena e de clima benigno, vegetação luxuriante e animais estranhos, que era habitada por gente nua que parecia viver na inocência de Adão e Eva. Andam nus sem nenhuma cobertura; nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto”

E Pero Vaz de Caminha “ia mais longe ao testemunhar que a inocência daquela gente era contagiável, pois andavam entre eles três ou quatro moças bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas, e suas vergonhas (a púbis) tão altas e tão cerradinhas, e tão limpas das cabeleiras que nós de muito as bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. E aquela gente inocente tinha assistido sossegadamente à celebração da missa, pelo que o escrivão Caminha estava convicto que deixando eles ali dois degredados, el-rei devia enviar clérigo nos próximos navios “para os batizar porque já então terão mais conhecimento da nossa Fé que dous degredados”.

Segundo Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono e professor universitário, “podemos dizer que Portugal não descobriu o Brasil – pela simples mas suficiente razão de que o Brasil não existia antes de os portugueses lá terem chegado. Muito mais do que isso devemos dizer que Portugal criou o Brasil – no plano linguístico, cultural e civilizacional –, naturalmente que com o contributo das comunidades indígenas e de todas as outras comunidades que, século após século, fizeram do Brasil o seu país. Custa pois, duzentos anos após a independência do Brasil, ouvir ainda algumas vozes a não reconhecerem a matriz lusófona deste imenso país. Sendo que, duzentos anos após a sua independência, a responsabilidade pelo estado do Brasil é, toda ela, dos brasileiros”.

No próximo dia 2 de outubro, esperemos que, mais uma vez, se vá virar uma nova página da história do Brasil, com as eleições presidenciais, onde vão estar onze candidatos, cujas sondagens mais recentes apontam a disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “O Olhanense”, de 01-10-2022)

 

 


3 de outubro de 2022

O SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO

 

A 19 de novembro de 2004 acabou, em Portugal, o Serviço Militar Obrigatório (SMO). Antes, pelo menos no meu tempo, no ano em que se completavam 20 anos de idade (ainda na condição de menoridade) éramos alistados para o SMO. Fui alistado em 11 de junho de 1966, que era, como se designava na altura, ir à inspeção militar, ou ir às sortes. Quem ficasse apurado para o SMO era submetido a um sorteio militar para efeitos de incorporação num dos ramos das Forças Armadas, na generalidade, no Exército. Atribuíam-lhe um número que, na caderneta militar se designava de matrícula, mas que, na gíria militar era o “número mecanográfico”. A maioridade era até então a partir dos 21 anos, tendo mudado em 25 de novembro de 1977, que baixou para os 18 anos.

Pois bem, em termos normais, após a referida “inspeção militar” dos mancebos apurados, seguia-se a incorporação numa unidade militar, no ano seguinte, para efeitos de iniciar a recruta. Daí que o meu “número mecanográfico” 011/226/67, já dava indicação do ano seguinte ao alistamento: 1967.

Mas fui incorporado somente em 1968, quase a completar 22 anos, assim como todos os do meu ano, porque houve uma alteração para a admissão para os Cursos de Sargentos Milicianos, a partir desse ano.

Até esta altura eram distribuídos para o cumprimento do SMO, iniciando no chamado Contingente Geral, os que não tivessem ainda completado o Ciclo Preparatório, sendo que, a partir daqui os que tivessem habilitações escolares mínimas do Ciclo Preparatório completo e inferiores ao 7º ano dos Liceus, ou equivalente, seguiam para o Curso de Sargentos Milicianos (CSM). Com habilitações do 7º ano liceal, no ensino médio ou superior passavam a integrar o Curso de Oficiais Milicianos (COM).

Ora, como eu já tinha o equivalente ao 5º ano liceal dessa altura, estava em condições de seguir para o Curso de Sargentos Milicianos, o que veio a acontecer, mas com um ano de atraso, que, nesse tempo, era terrível em termos da vida profissional de cada um e até de quem quisesse constituir família. Neste grupo do CSM também se incluíam os que tinham o Curso do Magistério Primário.

A morosidade da chamada dos jovens já apurados para poderem ser incorporados que, no caso em apreço, deveria ser em 1967 e saltou para 1968, deveu-se ao facto de muitos deles, com habilitações escolares baixas (antes de completarem o 5º ano liceal, ou equivalente, mas já com o Ciclo Preparatório feito) serem um exagero a integrar o CSM. E isto em tempos da Guerra do Ultramar. Começaram então a reduzir esse número, passando a admitir neste grupo só os que tivessem habilitações superiores, passando a uma certa rigorosidade durante o tempo que estavam na recruta, aos que se encontravam no Curso de Sargentos Milicianos, por forma a que alguns não o conseguissem completar e, assim, baixavam para o Contingente Geral. Sucedeu com vários meus colegas da escola e da vida profissional da altura, que depois de andarem na escola de recrutas do CSM reprovaram-nos nas provas e enviaram-nos para o Contingente Geral.

Assim, fui incorporado no CSM, no ano de 1968, sendo que todos os restantes (incluindo muitos colegas da escola que não conseguiram completar o 5º ano na altura (hoje 9º. Ano) acabaram por ir para o Contingente Geral, aumentando a capacidade de militares neste grupo.

Com a independência das Colónias portuguesas e o terminar da chamada Guerra do Ultramar, veio a acabar também o SMO como de início referimos.

Até final de 1988, a Lei do Serviço Militar (LSM) previa um serviço militar baseado na conscrição em que o recrutamento para as Forças Armadas (FA) assentava no Serviço Militar Obrigatório (SMO), estando todos os cidadãos do sexo masculino sujeitos ao cumprimento das obrigações militares, desde os 18 até aos 38 anos de idade.

Em meados de 1999, a LSM foi atualizada passando a prestação do serviço militar a efetuar-se de duas formas durante um período transitório: através do Serviço Efetivo Normal (SEN) ou do Serviço voluntário sustentado em Regimes de Contrato (RC). Para além disso, a idade limite de sujeição dos cidadãos às obrigações militares reduz-se para 35 anos de idade.

Em 2000, com a entrada em vigor do atual quadro legal, o recrutamento militar assume três formas distintas:

 . Recrutamento Normal para a prestação voluntária do Serviço Militar em RC e RV;

. Recrutamento Especial para a prestação voluntária de serviço militar nos Quadros Permanentes das FA;

. Recrutamento Excecional, para efeitos de convocação ou mobilização dos cidadãos (em caso de guerra ou catástrofe).

Após o fim do período transitório, em setembro de 2004, assiste-se ao voluntariado pleno do serviço militar com extinção do SEN, assumindo as Forças Armadas a capacidade de captar os seus próprios recursos humanos concorrendo diretamente no mercado de trabalho com outras entidades empregadoras.

Ao mesmo tempo implementa-se o Dia da Defesa Nacional (DDN) cuja comparência passa a ser um dever militar de todos os cidadãos do sexo masculino que completem 18 anos de idade. Em 2010 este dever estende-se também às jovens cidadãs do sexo feminino, nascidas a partir de 1992, universalizando-se assim os deveres militares.

Formalmente o SMO terminou a 19 de novembro de 2004, mas na prática terminou a 19 de setembro desse ano, data a partir da qual os três ramos das Forças Armadas (FA) passaram a contar apenas com voluntários contratados.

Altas patentes militares e partidos com assento na Assembleia da República desejam agora o regresso do Serviço Militar Obrigatório. Dezoito anos depois da sua extinção, peritos das Forças Armadas estudam já novas modalidades deste serviço cívico que virá resolver o grave problema da falta de mão de obra na tropa.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In "O Combatente da Estrela", n.º 128, outubro/2022)

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA - FRANCISCO DOS REIS SIMÕES


 Nasceu em Famalicão da Serra, concelho da Guarda, no dia 19 de dezembro do ano da graça de 1944, mas desde março de 1969 passou a residir na Covilhã. É casado e tem um filho.

Trabalhava na cidade da Guarda, na empresa Manuel Conde, do ramo da reparação de automóveis, quando, ainda sem ter completado os 19 anos, foi incorporado, como voluntário, no Curso de Paraquedismo.

Iniciou a vida militar em Tancos, no dia 14 de outubro de 1963, então na recruta, até final do curso de paraquedista, com mobilização posterior para o Ultramar.

Começou o Curso de Paraquedismo em 25 de março de 1964, no Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP), em Tancos, fazendo o tirocínio em 25 de setembro do mesmo ano.

Em 17 de setembro de 1965, embarcou no porto de Lisboa, com destino à 3ª. Região Aérea (BCP 31), via marítima, no Vera Cruz, desembarcando em Luanda em 26 de setembro de 1965. Embarcou no mesmo dia, via aérea, para Moçambique, tendo desembarcado no aeroporto de Lourenço Marques no dia seguinte.

Em 15 de dezembro de 1965 marchou para o Norte de Moçambique para o BCP 31, em Nacala, concelho de Nampula.  

Regressou à Metrópole, passando à disponibilidade, no CRM 3, em 27 de setembro de 1967.

Foi ainda condecorado com a medalha comemorativa das Campanhas das Forças Armadas à Província de Moçambique, no dia 2 de junho de 1967.

Na sua Caderneta Individual de Saltos e Voos (nº. 662/63) consta, por exemplo, que fez o primeiro salto de 500 metros, na Base Aérea nº. 3, em Tancos, no dia 16/03/1964, seguindo-se outros. Em Moçambique fez dois saltos: no dia 28/04/1966, num voo de 40 minutos fez um salto de 400 metros em UMBELUZI; e no dia 19/06/1966, num voo de 30 minutos, fez novamente um salto de 400 metros, no aeroporto da Beira. Todos eles eram só para demonstração, já que era perigosíssimo fazerem saltos em zonas de combate.

O pessoal paraquedista ajudava a tropa do Exército sempre que necessário. Assim, o seu pelotão ainda foi ao mato para ajudar o pessoal do Exército. Numa dessas operações faleceram três camaradas paraquedistas que ajudavam o Exército, no dia 14/03/1966. 

Regressado à vida civil, passou a residir na Covilhã, onde trabalhou na sua atividade de reparação auto, na Garagem de São João, Lda, durante sete anos, e, posteriormente, de conta própria, primeiramente numa sociedade – Auto Montanha da Covilhã – onde esteve seis anos, e depois sozinho, na Rua da Indústria, até que se aposentou por invalidez em 2001.


O COMBATENTE DA ESTRELA - APRESENTAÇÃO DO ÚLTIMO LIVRO DO NOSSO COLABORADOR JOÃO DE JESUS NUNES


 APRESENTAÇÃO DO LIVRO “DA MONTANHA AO VALE – As Viagens de um Grupo de Tertulianos”, DO NOSSO ASSOCIADO E COLABORADOR DESTE PERIÓDICO, JOÃO DE JESUS NUNES

Este evento cultural, da sua mais recente obra, aconteceu no dia 3 de setembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, para o qual a Direção deste Núcleo da Liga dos Combatentes foi convidada para o ato, tendo estado representada pelo seu Presidente João Azevedo e ainda pelos Diretores António Franco e Cassiano.

O livro foi apresentado pelo Juiz Desembargador, Dr. José Avelino Gonçalves, ele também escritor.

O Município esteve representado pelo Presidente da Câmara, Dr. Vitor Pereira e pelo seu Adjunto, Paulo Ranito.

Teve um momento musical pela violinista Susana Saraiva, sendo que dos convidados do Autor, estavam, entre outros, o Dr. José António de Sousa, ex-CEO e Presidente da Liberty Seguros em Portugal; o Dr. Vitor Alegria, jurista e quadro técnico superior da Fidelidade e ainda Presidente do Museu Virtual de Seguros; o Presidente da Casa da Covilhã em Lisboa, Manuel Vaz, e o seu Delegado Regional, João Romano; a União de Freguesias da Covilhã e Canhoso, representada pela Drª. Cristina Dias; para além de vários colegas de profissão e amigos das várias tertúlias, algumas que integram o conteúdo do próprio livro.

Com o sentido que a Cultura Covilhanense fosse objeto de evidência, numa homenagem aos vários Escritores Covilhanenses, alguns acederam ao pedido do Autor e estiveram presentes, acompanhando-o nesta sua última obra. Quis ainda salientar a Comunicação Social Regional a qual esteve presente através da Rádio Clube da Covilhã e da Rádio Cova da Beira. Os Semanários da Região, por vários motivos não puderam estar presentes, noticiaram, no entanto, este evento cultural. Mas esteve presente, conforme referido, o nosso Combatente da Estrela.

Parabéns ao João de Jesus Nunes por mais esta obra em prol da Cultura Covilhanense.