Já não chegavam as várias lutas que
se vão desenvolvendo entre os povos, por este mundo fora; a fome em muitas
regiões do globo, a pandemia que nos fez muito sofrer, os problemas climáticos
que os loucos deste planeta persistem em não dar ouvidos; às vozes
prenunciadoras dos cataclismos cada vez mais ameaçadores da Terra; como agora o
desejo malévolo de querer alimentar uma nova guerra fria.
Depois, em ambiente eleitoral com
decisões nos dois hemisférios (uma eleição já realizada, numa vertente
mussoliniana, na Velha Europa, mas que terá que defrontar uma democracia para
se poder manter na UE – a Itália; outra, com a decisão do povo brasileiro em 2
de outubro, no hemisfério do Sul), dois países anteveem uma mudança brusca de
rumo. Da Itália vem aí a extrema-direita com Meloni. É um país civilizado, a
que nos habituámos, que está à espreita. Como diz Rosália Amorim, in DN, “é
uma nova forma de fazer política e de liderar uma nação que, no passado, esteve
sob o facho de Mussolini.” E isto passa-se no Velho Continente Europeu,
onde eclodiu a Segunda Guerra Mundial, naquela que é atualmente a terceira
maior economia da União Europeia. Pela primeira vez desde 1945, este país vai
ser governado por uma liderança pós-fascista.
Se no hemisfério norte a Europa
está perigosa, no hemisfério sul deseja-se que Lula da Silva possa destronar
Jair Bolsonaro que se mostra nervoso com as sondagens a seu desfavor.
Mas a guerra veio proveniente dum
hitleriano russo, sob a iniciativa, instigação e égide do diabolizado Putin,
pretendendo subverter um país independente – a Ucrânia.
À partida, aquele malfeitor
pensava que a invasão eram favas contadas, tudo se passaria, como profetizava,
realizar-se num ápice, como um trovão. Tal não aconteceu, e o povo ucraniano,
fortemente imbuído na alma do seu presidente, Volodymyr Zelensky, tem mostrado
enorme patriotismo.
De tal forma, que, na recuperação
de territórios ocupados pelos russos, pelas forças ucranianas, surgiu a maior
contraofensiva na Europa desde 1945, ou seja, da Segunda Guerra Mundial. Foi
anunciado que as tropas ucranianas recapturaram mais de 3 mil quilómetros
quadrados de território em setembro, durante uma contraofensiva no nordeste do
país. – “Nos últimos dias o exército russo mostrou o que tem de melhor: as suas
costas. Fugir é uma boa escolha para eles”, informou Zelensky. Os russos
estavam a ficar sem opções nas linhas da frente da batalha, “porque estamos a
destruir as suas cadeias logísticas, armazéns, etc. Em Kharkiv, que continua
permanentemente a ser bombardeada, nesta região o exército ucraniano arregaçou
as mangas e iniciou uma ofensiva super eficaz e inesperada: o exército russo
esperava uma ofensiva ucraniana em Kherson, a sul, mas foi surpreendido com um
ataque a nordeste, em Kharkiv, conseguindo recuperar, só em três dias, mais de
um terço da área ocupada nesta região. Isto foi conseguido devido a uma
estratégia bem planeada de desinformação das forças armadas ucranianas, de
acordo com o The Guardian, que avança que desde 29 de agosto e ao longo
de vários dias, o exército ucraniano partilhou informações falsas que foram
difundidas por todo o mundo, o que levou a que os russos estivessem preparados
para receber o exército ucraniano em Kherson”. De acordo com Kuzan, esta ação
militar foi realizada “à velocidade da luz”, o que gerou uma grande pressão
para as forças militares russas, tanto a norte como a sul da Ucrânia.
Esta foi uma surpresa pela
estratégia ucraniana.
Na história mundial, temos muitos
exemplos de surpresas pelas estratégias aplicadas que deram bons resultados.
Antes e depois de Cristo. Por exemplo, as estratégias de Viriato, da Lusitânia,
e as suas surpresas, contra os Romanos, quando em 147 a. C. se opôs à rendição
dos lusitanos a Caio Vetílio, que os tinha cercado no Vale de Betis, na
Terdetânia. Poucos dias após a sua aclamação pela assembleia de chefes tribais,
Viriato acompanhado de oito mil soldados segue em direção à Carpetânia onde tem
conhecimento da nomeação do novo cônsul, apontado para tomar as rédeas dos
interesses romanos na Hispânia Ulterior. Na batalha contra o pretor Plaúcio,
este mandou tocar as tubas e o exército romano cerrou fileiras com uma primeira
linha pejada de escudos vermelhos retangulares e lanças inclinadas. Aguardavam
a carga inimiga. Viriato revê a estratégia com os seus guerreiros e avança
rápida e decididamente contra os romanos mas, a pouca distância dos mesmos
manda recuar os seus homens, dando a entender que se assustaram com o poder do
exército inimigo. Entretanto, quando já se encontra distante dos seus
perseguidores, Viriato inverte a marcha e ordena um ataque feroz pela frente e
pelas alas. Apanhados de surpresa pela estratégia rápida, os romanos são
rapidamente dizimados.
Já d.C. podemos dar o exemplo da
Batalha de Aljubarrota, decorrida no final da tarde de 14 de agosto de 1385,
entre as tropas portuguesas, com aliados ingleses, comandadas por D. João I de
Portugal com o condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e
seus aliados liderados por D. João I de Castela. Inovou a tática militar
permitindo que homens de armas apeados fossem capazes de vencer uma poderosa
cavalaria. A opção dos portugueses recaiu sobre uma pequena colina de topo
plano rodeada por ribeiros, perto de Aljubarrota. Contudo o exército não se
apresentou ao castelhano nesse sítio. Inicialmente formou as suas linhas noutra
vertente da colina, tendo depois, já em presença das hostes castelhanas mudado
para o sítio pré-definido. Isto provocou bastante confusão nas tropas de
Castela. Depois de outras surpresas inseridas na estratégia de D. Nuno Álvares
Pereira, precipitadamente, João de Castela ordenou a retirada geral sem
organizar a cobertura. Os castelhanos debandaram então desordenadamente do
campo de batalha, tendo a cavalaria portuguesa se lançado em perseguição dos
fugitivos, dizimando-os sem piedade.
Seria importante que não fossem
necessárias mais surpresas pelas estratégias para se ganharem batalhas, sinal
de que o mundo caminharia melhor.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de
12-10-2022. Este texto foi publicado incompleto, faltando a parte final do
antepenúltimo parágrafo e o último parágrafo)
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