4 de outubro de 2022

DOIS SÉCULOS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

 

Oficialmente, a data comemorativa para a independência do Brasil é de 7 de setembro de 1822. Foi neste dia que ocorreu o evento conhecido como o Grito do Ipiranga, nas margens do riacho Ipiranga, atualmente na cidade de São Paulo.

 

Em 12 de outubro de 1822, o príncipe herdeiro de Portugal foi aclamado D. Pedro I, Imperador do Brasil, sendo coroado e consagrado no 1º de dezembro desse ano. O país passou então a ser conhecido como o Império do Brasil.

Entretanto, em Portugal, chegaria a governar cumulativamente, com a designação de D. Pedro IV.

Recordemos que a partir de 15 de julho de 1799, o então Príncipe do Brasil (pai deste D. Pedro), D. João Maria de Bragança (mais tarde D. João VI), tornou-se príncipe-regente de Portugal, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, foi declarada louca pelos médicos. Os acontecimentos na Europa, onde Napoleão Bonaparte se afirmava, sucederam-se cada vez mais repentinamente.

Numa retrospetiva muito alongada, direcionada para o ano da descoberta do Brasil, no redondo 1500, muitas estórias da história brasileira se passaram até aos dias de hoje, entre tristes e ledas madrugadas, e entre ventos e marés que viriam a acontecer neste grande país do hemisfério sul do Planeta.

Não escondo o prazer da narrativa daquele verão de 1500, na visão do Paraíso, que João Paulo Oliveira e Costa nos traz no seu livro Episódios da Monarquia Portuguesa, em que uma pequena caravela entrou no Tejo sem despertar a curiosidade dos espiões que enxameavam por Lisboa. Tampouco a administração régia deixou testemunho da chegada de Gaspar de Lemos a Lisboa depois de ter participado na descoberta da Terra de Vera Cruz. Só volvidos alguns meses quando os navios sobreviventes da armada da Pedro Álvares Cabral regressaram da Índia, se soube do achamento de novas terras no Sudoeste do mar Oceano.

Pela pena do navegador Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da armada, o rei de Portugal – D. Manuel I – “pudera espreitar o Paraíso: uma terra de temperatura amena e de clima benigno, vegetação luxuriante e animais estranhos, que era habitada por gente nua que parecia viver na inocência de Adão e Eva. Andam nus sem nenhuma cobertura; nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto”

E Pero Vaz de Caminha “ia mais longe ao testemunhar que a inocência daquela gente era contagiável, pois andavam entre eles três ou quatro moças bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas, e suas vergonhas (a púbis) tão altas e tão cerradinhas, e tão limpas das cabeleiras que nós de muito as bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. E aquela gente inocente tinha assistido sossegadamente à celebração da missa, pelo que o escrivão Caminha estava convicto que deixando eles ali dois degredados, el-rei devia enviar clérigo nos próximos navios “para os batizar porque já então terão mais conhecimento da nossa Fé que dous degredados”.

Segundo Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono e professor universitário, “podemos dizer que Portugal não descobriu o Brasil – pela simples mas suficiente razão de que o Brasil não existia antes de os portugueses lá terem chegado. Muito mais do que isso devemos dizer que Portugal criou o Brasil – no plano linguístico, cultural e civilizacional –, naturalmente que com o contributo das comunidades indígenas e de todas as outras comunidades que, século após século, fizeram do Brasil o seu país. Custa pois, duzentos anos após a independência do Brasil, ouvir ainda algumas vozes a não reconhecerem a matriz lusófona deste imenso país. Sendo que, duzentos anos após a sua independência, a responsabilidade pelo estado do Brasil é, toda ela, dos brasileiros”.

No próximo dia 2 de outubro, esperemos que, mais uma vez, se vá virar uma nova página da história do Brasil, com as eleições presidenciais, onde vão estar onze candidatos, cujas sondagens mais recentes apontam a disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

(In “O Olhanense”, de 01-10-2022)

 

 


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