Inserimos neste número uma figura sobejamente conhecida da
Cidade, que, apesar dos seus 85 anos, na sua humildade mantém uma disposição de
espírito vigorosa na simpatia com que a todos trata. Deixa cair uma ponta do
véu da felicidade que vive pelo orgulho que sente das vidas profissionais dos
seus três filhos.
Por duas vezes foi chamado para cumprir o serviço militar
obrigatório, sendo que a segunda vez se destinou à mobilização para a Guiné logo
no início da Guerra do Ultramar.
Natural da freguesia de Santa Maria Maior, da Covilhã, nasceu
em 19 de abril de 1937. Começou a trabalhar aos 13 anos como aprendiz numa
serralharia. Volvido um ano passou a exercer outra atividade, como aprendiz de
marceneiro, até ser chamado para o serviço militar, tendo assentado praça em 14
de abril de 1958, no Grupo de Artilharia Costa Antiaérea (GACA), onde fez a
recruta; e a especialidade na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, como
radiotelegrafista. Veio a tomar parte nas manobras anuais em Santa Margarida,
no ano de 1959. Como ainda não tinha surgido a guerra colonial, passou à
disponibilidade em 11 de agosto de 1960, regressando assim à Covilhã.
Matriculou-se então na Escola Industrial e Comercial Campos
Melo, no Curso de Eletromecânico noturno, porquanto durante o dia trabalhava.
Viria então a interromper o Curso em 1961 porque voltava a ser chamado para o
serviço militar, com destino à sua mobilização para a Guiné. Só o concluiria em
1968, após ter regressado do Ultramar, em 1963.
Assim, voltou novamente a ser chamado para cumprir o serviço
militar em 22 de junho de 1961 até 21 de novembro de 1963, apresentando-se em
Torres Novas, novamente no GACA 2. Passado algum tempo, foi para Évora a
Companhia que o integrou, seguindo posteriormente para o quartel de Faro. Depois
transitaram para Lisboa, para o Adidas, onde receberam todo o material para
embarque. Volvidas 24 horas seguiram para o aeroporto a fim tomarem o avião com
destino à Guiné, em 30 de julho de 1961, fazendo parte da Bateria, tipo
Companhia de Caçadores 2401, tendo feito escala na Ilha do Sal, em Cabo Verde,
e depois desembarcado em Bissau, no mesmo dia.
Chegada a Companhia à Guiné não havia aquartelamento pelo que
estiveram durante 15 dias ocupando as instalações do Liceu de Bissau, ficando o
quartel instalado no Quartel-General, também em Bissau. Daqui partiu, durante
seis meses, para uma grande praia em pleno Oceano Atlântico – a Praia de
Varela. Tinha um grande casino onde se juntavam na altura os ricos: da Guiné
Portuguesa (depois Guiné-Bissau), Senegal e Guiné-Conacri.
A sua missão era a exploração rádio, com deslocações a várias
localidades, pelo meio do mato, com o rádio às costas, sendo Acra a última
localidade. Felizmente não teve qualquer agitação de maior importância durante
a sua comissão (mas havia noutras zonas, onde ouviam os tiros, geralmente à
noite). Teve a sorte de não ver mortes, não existindo quaisquer baixas em
combate na sua Companhia, excetuando algumas derivadas de acidentes. Diz-nos
que viveu ali um tempo de tranquilidade, era o sossego para descansar. De tal
forma que dava para andarem dois jipes a percorrer toda a província,
destinando-se um ao padre e outro ao médico.
E assim embarcou de Bissau num navio, no dia 15 de outubro de
1963, com destino a Lisboa, voltando a fazer escala na Ilha do Sal,
desembarcando na capital em 22 de outubro de 1963.
E diz-nos que o mais importante que trouxe da Guiné foi obter
lá a carta de condução civil.
Chegado à Covilhã, concluiu o Curso de Eletromecânico na
Escola Industrial, que se vira forçado a interromper, passando depois a
desenvolver várias atividades, como encarregado numa fábrica de lanifícios – a
Laneira, e depois em Aldeia do Carvalho. Chegou ainda a ser convidado pelo Dr.
Duarte Simões para mestre de serralharia, onde ainda exerceu, na Escola
Industrial Campos Melo. No entanto, surgindo-lhe oportunidades para técnico de
máquinas de escritório, passou a exercer esta atividade, na Olivetti, e depois
como empresário, até à sua aposentação.
(In “O Combatente da Estrela”, n.º 130
– ABR 2023)
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