18 de março de 2023

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA JOÃO SALVADO – COVILHÃ

 







Inserimos neste número uma figura sobejamente conhecida da Cidade, que, apesar dos seus 85 anos, na sua humildade mantém uma disposição de espírito vigorosa na simpatia com que a todos trata. Deixa cair uma ponta do véu da felicidade que vive pelo orgulho que sente das vidas profissionais dos seus três filhos.

Por duas vezes foi chamado para cumprir o serviço militar obrigatório, sendo que a segunda vez se destinou à mobilização para a Guiné logo no início da Guerra do Ultramar.

Natural da freguesia de Santa Maria Maior, da Covilhã, nasceu em 19 de abril de 1937. Começou a trabalhar aos 13 anos como aprendiz numa serralharia. Volvido um ano passou a exercer outra atividade, como aprendiz de marceneiro, até ser chamado para o serviço militar, tendo assentado praça em 14 de abril de 1958, no Grupo de Artilharia Costa Antiaérea (GACA), onde fez a recruta; e a especialidade na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, como radiotelegrafista. Veio a tomar parte nas manobras anuais em Santa Margarida, no ano de 1959. Como ainda não tinha surgido a guerra colonial, passou à disponibilidade em 11 de agosto de 1960, regressando assim à Covilhã.

Matriculou-se então na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, no Curso de Eletromecânico noturno, porquanto durante o dia trabalhava. Viria então a interromper o Curso em 1961 porque voltava a ser chamado para o serviço militar, com destino à sua mobilização para a Guiné. Só o concluiria em 1968, após ter regressado do Ultramar, em 1963.

Assim, voltou novamente a ser chamado para cumprir o serviço militar em 22 de junho de 1961 até 21 de novembro de 1963, apresentando-se em Torres Novas, novamente no GACA 2. Passado algum tempo, foi para Évora a Companhia que o integrou, seguindo posteriormente para o quartel de Faro. Depois transitaram para Lisboa, para o Adidas, onde receberam todo o material para embarque. Volvidas 24 horas seguiram para o aeroporto a fim tomarem o avião com destino à Guiné, em 30 de julho de 1961, fazendo parte da Bateria, tipo Companhia de Caçadores 2401, tendo feito escala na Ilha do Sal, em Cabo Verde, e depois desembarcado em Bissau, no mesmo dia.

Chegada a Companhia à Guiné não havia aquartelamento pelo que estiveram durante 15 dias ocupando as instalações do Liceu de Bissau, ficando o quartel instalado no Quartel-General, também em Bissau. Daqui partiu, durante seis meses, para uma grande praia em pleno Oceano Atlântico – a Praia de Varela. Tinha um grande casino onde se juntavam na altura os ricos: da Guiné Portuguesa (depois Guiné-Bissau), Senegal e Guiné-Conacri.

A sua missão era a exploração rádio, com deslocações a várias localidades, pelo meio do mato, com o rádio às costas, sendo Acra a última localidade. Felizmente não teve qualquer agitação de maior importância durante a sua comissão (mas havia noutras zonas, onde ouviam os tiros, geralmente à noite). Teve a sorte de não ver mortes, não existindo quaisquer baixas em combate na sua Companhia, excetuando algumas derivadas de acidentes. Diz-nos que viveu ali um tempo de tranquilidade, era o sossego para descansar. De tal forma que dava para andarem dois jipes a percorrer toda a província, destinando-se um ao padre e outro ao médico.

E assim embarcou de Bissau num navio, no dia 15 de outubro de 1963, com destino a Lisboa, voltando a fazer escala na Ilha do Sal, desembarcando na capital em 22 de outubro de 1963.

E diz-nos que o mais importante que trouxe da Guiné foi obter lá a carta de condução civil.

Chegado à Covilhã, concluiu o Curso de Eletromecânico na Escola Industrial, que se vira forçado a interromper, passando depois a desenvolver várias atividades, como encarregado numa fábrica de lanifícios – a Laneira, e depois em Aldeia do Carvalho. Chegou ainda a ser convidado pelo Dr. Duarte Simões para mestre de serralharia, onde ainda exerceu, na Escola Industrial Campos Melo. No entanto, surgindo-lhe oportunidades para técnico de máquinas de escritório, passou a exercer esta atividade, na Olivetti, e depois como empresário, até à sua aposentação.

 

(In “O Combatente da Estrela”, n.º 130 – ABR 2023)

 

Sem comentários: