18 de março de 2023

SE BEM ME LEMBRO II


A caminho do equinócio da primavera, a ocorrer às 21 h e 24 m do dia 20 de março, segundo consta no Borda d’Água, ocorreu-me plagiar o título do programa semanal na RTP, entre 1969 e 1975, do prof. Vitorino Nemésio. Durante cerca de meia hora, em horário nobre, os portugueses, encantados, deixavam o prof. abrir-lhes as fronteiras da cultura e do conhecimento.

Dou o título “SE BEM ME LEMBRO II”, porquanto, em 24 de janeiro de 2008, no Notícias da Covilhã, foi publicada uma minha crónica, também com este título, da qual respigo, por envolver o final do meu serviço militar obrigatório, o que segue:

“Em 1971 já eu estava farto de tropa obrigatória e chegava o finalmente. O adeus ao Regimento de Infantaria da Guarda. Num sopro de alegria, vai de fintar a hierarquia militar. Um segredo aos três colaboradores diretos, para marcar o meu último serviço na unidade militar: os dois Soldados, da Guarda, e o 1.º Cabo, de Lamego, saíram para a rua, em pontos estratégicos, com as botas engraxadas e os distintivos do fardamento a brilhar. Nos locais combinados (O Caçador, Cine-Teatro e Café do Bonfim), o meu ordenança, do Tortosendo, ficava surpreso quando lhe pedia para anotar os números mecanográficos dos ditos cujos: ‘O que é que vai fazer aos gajos?’. Sem saber do que se passava, só ficou dissipado das suas interrogações quando saiu a ordem de serviço: ‘Foram louvados os soldados fulano e sicrano, e o 1º cabo beltrano, por terem sido abordados pela ronda desta Unidade, devidamente ataviados, numa apresentação que se evidenciavam dos demais militares desta Unidade, sendo um exemplo a seguir’. No final, dos três militares, um ‘Felicidade meu Furriel’”.

Na minha vida profissional, aquando duma reunião de dois dias em Coimbra, nos primórdios após a Revolução do 25 de Abril, encontrava-me no hotel, à noite, quando deparo com uma pequena revista deixada no quarto, onde surgia em forma interrogatória, sugerindo concordância, e com muita esperança, o surgimento duma moeda única europeia – o ECU. Pensei cá para os meus botões: “Devem andar malucos”. O que é certo e verdade é que, na evolução dos tempos, esta unidade monetária europeia, criada em 13 de março de 1979, correspondente à média ponderada de 12 moedas da então Comunidade Europeia, utilizada inicialmente apenas em transações comerciais e financeiras, foi substituída pelo EURO em 1 de janeiro de 1999. Foram sete as moedas da Europa que foram aposentadas por causa do euro (Marco alemão, Franco francês, Florim Neerlandês, Dracma Grega, Lira italiana, Peseta espanhola e o Escudo português). Bom, muito haveria a falar, se até já existem as criptomoedas, ou seja, qualquer forma de moeda que existe digital ou virtualmente e usa a criptografia para a realização de transações. Fundada em 2009, o Bitcoin foi a primeira criptomoeda e continua a ser a mais negociada.

E agora é o ChatGPT, um programa informático acessível a toda a gente, e com a apetência dos jovens pelo mundo das tecnologias onde já há muitos milhões por esse mundo fora a utilizá-lo. Desenvolvido por uma empresa do multimilionário Elon Musk, o ChatGPT é o último de uma série de programas informáticos, com capacidade para dar respostas claras e bem informadas a todo o tipo de perguntas. Não é um simples motor de busca. O programa tem acesso aos milhões de textos publicados na Internet e consegue elaborar textos que respondem a todo o género de questões.

Mas não vou alongar-me mais no mundo evolutivo, onde a tecnologia e a inteligência artificial se impõem.

Portugal é um pequeno país com uma população equivalente à de muitas cidades do mundo. No entanto, é sempre difícil atrair pessoas para fora dos grandes centros urbanos. E quando se fala no interior, então é de coçar a cabeça. Ao longo da história sempre se destacou o êxodo rural à procura de uma vida melhor, sobretudo a partir da década de 50. “Se outrora Portugal era um país essencialmente agrícola, hoje é uma nação de serviços”, conforme refere Rosália Amorim, in Público. “Os baixos rendimentos, mas também a fraca saúde e educação, fizeram com que muitos se deslocassem para as urbes. E nada mudou durante o século XXI”. E “A dureza dos números da desertificação prova que às autarquias não basta construírem gimnodesportivos, repuxos e rotundas. O interior ainda não deu o salto qualitativo que o torne realmente atrativo e que lhe dê a capacidade de segurar os mais jovens, talentosos e letrados. Mais empregos, melhor saúde e educação, precisam-se.”

Entretanto, na Covilhã podemos contar com uma das melhores universidades do país e do mundo – a Universidade da Beira Interior (UBI) e uma excelente unidade hospitalar – o Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira (CHUCB).

Por último, há que salientar a apresentação do livro “Macau –  Um homem dois olhares – Razões de uma Descolonização exemplar”, pelo seu autor, o Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-General Chito Rodrigues, ocorrido no dia 13 de janeiro na Biblioteca Municipal de Castelo Branco. Refira-se que o TG Joaquim Chito Rodrigues é albicastrense e antigo aluno do Liceu Nacional Nuno Álvares, onde foi colega do poeta António Salvado, que fez algumas considerações sobre o livro. Dos semanários albicastrenses “Reconquista” (R) e “Gazeta do Interior” (GI) extraio alguns registos: “Militar que ajudou a abrir caminho a uma descolonização exemplar. Macau – Chito Rodrigues desempenhou funções no território entre 1975 e 1978 e diz que é o exemplo ‘da forma portuguesa de estar no mundo’. Em Macau, Joaquim Chito Rodrigues, o militar natural de Castelo Branco, então à beira dos 40 anos, chegou ao território cerca de um mês depois de Portugal reconhecer o governo da República Popular da China. Desempenhou aqui as funções de chefe do Estado-Maior do Comando do Chefe, comandante das Forças de Segurança, mas também Governador de Macau em exercício. Em 1999, vinte e três anos depois de a bandeira portuguesa ter sido arriada, Chito Rodrigues olha para Macau  como um exemplo ‘da forma portuguesa de estar no mundo’. ” (R). A carreira do general Chito Rodrigues é de originalidade única. Foi o melhor aluno da Academia Militar. A sua carreira foi também marcada por vários teatros de guerra nos territórios portugueses. Mas, a personalidade do General Chito Rodrigues reveste-se ainda mais de variadas facetas, pois foi diplomata, enquanto adido militar em várias embaixadas, doutorou-se numa universidade brasileira, foi articulista de ideias, bem como escritor, e preside à Liga dos Combatentes; foi poeta, tendo um livro publicado; e também é campeão olímpico de esgrima. Muito próximo do general Rocha Vieira, o general Chito Rodrigues assistiu a todas as peripécias que envolveram ao ato de entrega do território de Macau” (GI).

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Combatente da Estrela”, nº. 130 ABR/2023)

 

Sem comentários: