Todos nós sabemos que os anos
começaram a ser contados a partir do nascimento de Cristo. Dividiu-se assim a
história da humanidade em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d. C.).
Como e quando se tomou essa
decisão?
Entre outros historiadores, de harmonia
com o narrado por Rodnei Domingues, por volta dos anos 600 d.C. imaginou-se
considerar a data de nascimento de Cristo com o ano zero.
O monge Dionísio, o Pequeno, que
viveu no século VI, foi quem se preocupou e quem estabeleceu a data de
nascimento de Cristo, fixada então em 25 de dezembro de 753 da fundação de
Roma.
A Igreja acolheu a data de 25 de
dezembro como o dia do nascimento de Jesus Cristo porque o dia de Natal se
sobreporta, assim, às celebrações do solstício de inverno e à festa de Mitra, deus
da luz, que os antigos festejavam juntamente nesse dia. Assim, a Igreja
cristianizou essas festividades pagãs, fornecendo-lhes simbolismos cristãos e
uma nova linguagem cristã.
A fonte cronológica relativa ao
ano do nascimento de Cristo é uma passagem do Evangelho de Lucas (2,1-2).
Segundo essa passagem, naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto
ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. Esse recenseamento foi o
primeiro realizado quando Quirino era governador da Síria, com o alistamento de
todos, cada um em sua própria cidade. Nessa época, consta que José saiu da
região da Galileia, da cidade de Nazaré, para a região da Judeia, para a cidade
de Davi, chamada Belém, a fim de se inscrever no recenseamento com Maria, sua
esposa, que estava grávida.
Mateus (2,1-2) acrescentou a
estrela dos Magos à narrativa e, sobretudo, colocou o nascimento de Jesus no
tempo do reino de Herodes, também mencionado por Lucas (I,5), indiretamente.
A partir dessas fontes e depois
de muitos cálculos, Dionísio pensou que poderia estabelecer o ano preciso da
morte de Herodes – consta que Jesus nasceu no ano em que Herodes morreu. Mas se
enganou, pois o soberano morreu certamente no ano 4 a.C. É ainda mais difícil
estabelecer o tempo exato do recenseamento de Quirino, que aconteceu, de
qualquer forma, entre os anos 7 e 6 a.C.
O sistema estabelecido por
Dionísio foi adotado muito lentamente. Pode-se dizer que só se difundiu realmente
no século IX d.C. (no tempo de Carlos Magno). Hoje, os historiadores concordam
em considerar que Cristo nasceu cinco ou seis anos antes do que propõem os
cálculos do monge; portanto, o nosso milénio terminou antes que nos déssemos
conta. Mesmo assim, a datação do nascimento de Cristo, impôs-se em todo o
mundo, independentemente da religião praticada. Para os muçulmanos, o ano de
622, teoricamente o primeiro da sua era, foi substituído pela contagem à
maneira ocidental.
Portanto, todas as nossas
dúvidas, são ligadas à convenção da Igreja e ao cálculo – ainda que errado – de
um monge medieval.
Todas as citações hodiernas que
envolvem datas são influenciadas pelo nascimento de Cristo. Por isso,
normalmente, dizemos 200 depois de Cristo (d.C.) para falar do ano 200 após o
nascimento de Jesus ou também 100 antes de Cristo (a.C.), quando queremos citar
um evento acontecido 100 anos antes do nascimento de Jesus.
Esse modo de marcar os anos a
partir do nascimento de Cristo começou a ser praticado no século V, graças ao
monge Dionísio, o Pequeno. Até essa data, o ponto de referência para a história
era o ano da fundação de Roma, em 753 antes de Cristo. Basicamente, quando
Jesus nasceu era o ano 753 da fundação de Roma. Esse resultado foi aquele
alcançado pelos cálculos do monge Dionísio. O ano 753 da fundação de Roma foi
então definido como ano 1. O ano anterior foi definido como ano 1 antes de
Cristo (não existe o ano 0!).
Hoje em dia sabemos que os
cálculos de Dionísio não foram exatos. Sabemos que Herodes, que tentou matar
Jesus depois que recebeu a visita dos Reis Magos e fez com que a Sagrada Família
fugisse para o Egito, morreu no ano 740 da fundação de Roma, ou seja, 4 anos
antes do ano 1, aquele calculado como o ano do nascimento de Cristo. Todavia
Herodes não pode ter morrido antes de Cristo. Por isso, apesar de ser quase
incrível, é bastante segura a tese segundo a qual Jesus teria nascido cerca de
5 anos antes do ano 1, ou seja, Jesus nasceu no ano 5 antes de Cristo.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 01-07-2023)
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