Sou um insaciável pela leitura de
jornais. Não um, nem dois, mas uma dose suficiente para me subtrair tempo ao
tempo que tenho disponível diariamente. Já vem dos tempos antes da televisão e
da Internet, ou seja, antes dos digitais. Um velho hábito gerado na Biblioteca
Municipal, e, também em minha casa; antes destes, mesmo os boletins paroquiais
que me iam ter à residência. Neles, jornais, se incluíam as revistas exclusivas
ou fazendo parte dos próprios jornais, como “O Século Ilustrado”. Tão só um
exemplo.
Agora é uma panóplia de jornais
online. Para além dos que assino, logo que abro o computador, caem-me as
notícias, mais ou menos sensacionalistas; e a exaustão de convites para aceitar
e/ou assinar mais um título.
Se, outrora, eram os tempos dos
tempos em que os tempos eram outros, de pouca abundância de conteúdos, quer por
via da censura, quer num contexto de um Portugal atrasado, hoje, são os tempos
da concorrência desenfreada da Comunicação Social, tantas vezes sem sentido no tempo
dos conteúdos jornalísticos, sobrepondo-se na duplicidade de notícias e de
textos análogos.
O hábito de ler jornais me levou,
desde sempre, a outra mania: a de recortar, selecionar e guardar certas
notícias que me pareciam importantes, ou algo curiosas. O facto é que as
páginas ou recortes extraídos dos jornais ou revistas se acumularam, ainda que
de quando em vez fizesse uma limpeza geral.
Mas a avidez de guardar, guardar,
levava-me a gastar horas, e alguns aborrecimentos, para descobrir uma bendita
página que a minha memória me garantia se encontrava nas resmas que iam subtraindo
espaços que começavam a fazer falta.
Até que aquele maldito tempo de
prisão nos nossos domicílios fruto da pandemia, paradoxalmente me veio dar
oportunidade de fazer uma seleção, tão temática quanto possível, de consultas,
compilando, encadernada, uma grande parte dos conteúdos. Outra enorme
quantidade de papel então excluído, ainda serviu para ser entregue no Banco
Alimentar contra a Fome em vez de ir parar ao lixo.
Mas, além dos jornais, ainda há
os livros. Segundo o INE, 58 por cento dos portugueses não leram um único livro
em 2022.
Segundo Jorge Morais, in “Tal & Qual”, naquele ano, a imprensa
portuguesa manteve praticamente o número de leitores que tinha em 2021. E,
citando os dados do Bareme Imprensa da Marktest, “Ao longo de 2022, foram 5,7
milhões os portugueses que contataram com jornais ou revistas. O Bareme
Imprensa contabilizou 5 milhões e 662 mil residentes no Continente com 15 e
mais anos que, em 2022, leram ou folhearam jornais ou revistas, o que
representa 66,1% do universo em estudo. Isto significa que dois em três
portugueses contataram com este meio ao longo do ano. A audiência média de
Imprensa no mesmo período foi de 35,7%, percentagem de portugueses que leram ou
folhearam a última edição de um qualquer título de imprensa estudado no Bareme
Imprensa, num total de três milhões e 59 mil indivíduos”.
Segundo Jorge Morais, “a maior
afinidade com a Imprensa continua nos leitores entre os 35 e os 54 anos, nos
quadros médios e superiores e nos indivíduos das classes mais elevadas”.
Chegou-se a pensar que os jornais
estavam a acabar, mas o tempo provou que a notícia da morte da Imprensa era
manifestamente exagerada, tanto por cá como no resto da Europa.
Desenvolveram-se, é certo, outras formas de comunicação rápida.
A Imprensa continua a ser o
veículo privilegiado do jornalismo de esclarecimento.
Abaixo dos 35 anos, existe uma
substancial abstinência de leitura. Muitos dos mais jovens abstêm-se de ler
também seja o que for, com reflexos de participação na vida comunitária.
O que é certo e verdade é que
para muitas destas pessoas, tudo o que ultrapasse o tamanho do ecrã do
telemóvel já constitui esforço excessivo.
Não é à imprensa que cabe
resolver este problema, mas tão só “os parlamentos, os governos e as
comunidades pedagógicas a tomar o encargo de inverter, na urgência de uma ou
duas gerações, a tendência arrepiante para a inutilidade mental”.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-07-2023)
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