17 de julho de 2023

O HÁBITO DE LER JORNAIS


 

Sou um insaciável pela leitura de jornais. Não um, nem dois, mas uma dose suficiente para me subtrair tempo ao tempo que tenho disponível diariamente. Já vem dos tempos antes da televisão e da Internet, ou seja, antes dos digitais. Um velho hábito gerado na Biblioteca Municipal, e, também em minha casa; antes destes, mesmo os boletins paroquiais que me iam ter à residência. Neles, jornais, se incluíam as revistas exclusivas ou fazendo parte dos próprios jornais, como “O Século Ilustrado”. Tão só um exemplo.

Agora é uma panóplia de jornais online. Para além dos que assino, logo que abro o computador, caem-me as notícias, mais ou menos sensacionalistas; e a exaustão de convites para aceitar e/ou assinar mais um título.

Se, outrora, eram os tempos dos tempos em que os tempos eram outros, de pouca abundância de conteúdos, quer por via da censura, quer num contexto de um Portugal atrasado, hoje, são os tempos da concorrência desenfreada da Comunicação Social, tantas vezes sem sentido no tempo dos conteúdos jornalísticos, sobrepondo-se na duplicidade de notícias e de textos análogos.

O hábito de ler jornais me levou, desde sempre, a outra mania: a de recortar, selecionar e guardar certas notícias que me pareciam importantes, ou algo curiosas. O facto é que as páginas ou recortes extraídos dos jornais ou revistas se acumularam, ainda que de quando em vez fizesse uma limpeza geral.

Mas a avidez de guardar, guardar, levava-me a gastar horas, e alguns aborrecimentos, para descobrir uma bendita página que a minha memória me garantia se encontrava nas resmas que iam subtraindo espaços que começavam a fazer falta.

Até que aquele maldito tempo de prisão nos nossos domicílios fruto da pandemia, paradoxalmente me veio dar oportunidade de fazer uma seleção, tão temática quanto possível, de consultas, compilando, encadernada, uma grande parte dos conteúdos. Outra enorme quantidade de papel então excluído, ainda serviu para ser entregue no Banco Alimentar contra a Fome em vez de ir parar ao lixo.

Mas, além dos jornais, ainda há os livros. Segundo o INE, 58 por cento dos portugueses não leram um único livro em 2022.

Segundo Jorge Morais, in “Tal & Qual”, naquele ano, a imprensa portuguesa manteve praticamente o número de leitores que tinha em 2021. E, citando os dados do Bareme Imprensa da Marktest, “Ao longo de 2022, foram 5,7 milhões os portugueses que contataram com jornais ou revistas. O Bareme Imprensa contabilizou 5 milhões e 662 mil residentes no Continente com 15 e mais anos que, em 2022, leram ou folhearam jornais ou revistas, o que representa 66,1% do universo em estudo. Isto significa que dois em três portugueses contataram com este meio ao longo do ano. A audiência média de Imprensa no mesmo período foi de 35,7%, percentagem de portugueses que leram ou folhearam a última edição de um qualquer título de imprensa estudado no Bareme Imprensa, num total de três milhões e 59 mil indivíduos”.

Segundo Jorge Morais, “a maior afinidade com a Imprensa continua nos leitores entre os 35 e os 54 anos, nos quadros médios e superiores e nos indivíduos das classes mais elevadas”.

Chegou-se a pensar que os jornais estavam a acabar, mas o tempo provou que a notícia da morte da Imprensa era manifestamente exagerada, tanto por cá como no resto da Europa. Desenvolveram-se, é certo, outras formas de comunicação rápida.

A Imprensa continua a ser o veículo privilegiado do jornalismo de esclarecimento.

Abaixo dos 35 anos, existe uma substancial abstinência de leitura. Muitos dos mais jovens abstêm-se de ler também seja o que for, com reflexos de participação na vida comunitária.

O que é certo e verdade é que para muitas destas pessoas, tudo o que ultrapasse o tamanho do ecrã do telemóvel já constitui esforço excessivo.

Não é à imprensa que cabe resolver este problema, mas tão só “os parlamentos, os governos e as comunidades pedagógicas a tomar o encargo de inverter, na urgência de uma ou duas gerações, a tendência arrepiante para a inutilidade mental”.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-07-2023)

 

 

Sem comentários: