Apesar de terem sido cumpridas as obrigações
profissionais que abraçámos, com mais ou menos fulgor, jamais conseguimos parar
de fazer algo mais (na generalidade dos casos), quer em atividades de
solidariedade social ou no âmbito da cultura, quer mesmo nos pequenos trabalhos
agrícolas, em espaços dos próprios ou de familiares e amigos. Quer ainda na
religiosidade ou no associativismo. Há assim variadíssimas situações, num ambiente
de gratidão à Vida.
Outra gratificante forma de continuidade dum
desejável tempo longevo (que aberração esta da longevidade na Terra, em relação
à Eternidade) é o que se dedica aos filhos e aos netos, que poderão ser os
portadores do nosso espelho a sorrir pela Vida,
para quem as oportunidades lhes surgiram.
Pois é, de manhã, ao acordar e olhar o dia
que aí vem, chegamos ao ponto de ver que não há tempo para tudo o que tínhamos
para fazer, e, como em generalíssimos casos, na vertente de quem já se encontra
nas suas férias vitalícias, apesar da sua constatação, aceitamos mais isto e
aquilo: um encontro, uma reunião, uma visita, uma videochamada. Acontece, por
vezes, que, ao fim do dia, nem nos lembramos das caras com quem estivemos, não
saboreámos os momentos bons ou refletimos sobre os pouco agradáveis.
Já corremos, ou ainda o fazemos,
apressadamente atrás do sucesso, do trabalho, da carreira, do ter. Corremos,
ainda, apressadamente para as redes
sociais, para os likes, para os amigos virtuais, tornando-nos
cúmplices, por vezes, duma vida cheia de nada, de tentação e perdição, que
rouba o tempo.
Mas vamos aos assuntos em título, e comecemos
pelos que envolvem casos mais prementes, como é o da habitação. Segundo Ana Sá
Lopes, in Público, “Costa ficou entusiasmado por conseguir ‘melindrar’ o
Presidente da República e foi inebriado pela sua ‘habilidade’ política que
apareceu eufórico, deliciado, em ponto de rebuçado narcísico, dizendo o
impensável: o Governo fartou-se de trabalhar para que os portugueses tenham
habitação condigna. Afinal, os cidadãos que tentam alugar (ou comprar) uma casa
nos maiores centros urbanos é que estão a ver mal as
coisas: o Governo desde 2015 não faz outra coisa do que resolver o problema da
habitação, construir casas e mais umas coisas alienígenas”. O que é certo e
verdade é que o problema da habitação persiste. António Costa informou que vêm
aí 17 mil casas a caminho e não as 26 mil que prometeu. Segundo a aludida
jornalista, sobre a habitação, Costa “prometeu o céu várias vezes desde 2015 e
as pessoas (principalmente nos grandes centros urbanos) vivem no inferno”.
Entretanto, o programa Mais Habitação tem várias medidas positivas. Vamos
aguardar o que vai sair do OE que vai ser apresentado.
Saltamos agora para as eleições na Madeira,
onde o presidente do PSD Madeira e do Governo Regional, Miguel Albuquerque,
anunciou perentoriamente que se demita se não tivesse maioria absoluta. Aqui
funcionou em pleno a patranha. Ganhou sem maioria absoluta, e, contrariamente
ao que havia dito, não se demitiu e formou novo Governo madeirense, coligado
com o PAN.
Voltamos uns anos atrás e temos aí Cavaco
Silva, então como Presidente da República, a garantir que os portugueses podiam
confiar no Banco Espírito Santo (BES), treze dias antes da queda deste mesmo
Banco. Corria o ano de 2014. Pois é, Vitor Bento, que substituiu o líder
histórico Ricardo Salgado, disse a 14 de julho desse ano, dia em que entrou em
funções, que a prioridade no banco é reconquistar a confiança dos mercados e
pôr fim à especulação. O Banco de Portugal já veio várias vezes a público
garantir a solidez financeira do BES e o então Primeiro-ministro, Pedro Passos
Coelho, tranquilizava também os depositantes do banco. O certo e verdade é que
o banco caiu e Ricardo Salgado encontra-se ainda a contas com a justiça, para
julgamento, o qual tem tentado esquivar-se por vários meios.
Encheria páginas deste quinzenário, ou de
outra publicação, se fossemos mencionar muitos casos gritantes de petas
políticas. Não quero, contudo, deixar de memorizar a célebre data de 2 de julho
de 2013 respeitante à demissão “irrevogável” de Paulo Portas (PP) de ministro
de Estado e dos Negócios Estrangeiros do Governo de Passos Coelho. Naquela
patranhada que homens de palavra alguma vez tomariam, acabaria por se ver PP a
dar uma machadada fatal no “irrevogável” da demissão.
Muito mais haveria para lembrar, mas não
quero deixar de registar as contínuas petas do atual Governo perante a não
eliminação das portagens na A23 e A25, com contínuos adiamentos, passando tão
só por algumas reduções, deixando a Plataforma P’la Reposição das Scut na A 23
e A25 enraivecidas face ao incumprimento da palavra dada.
E por aqui ficamos. Até à próxima.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 15-10-2023)