11 de outubro de 2023

PARA ONDE VAMOS?

 

Neste primeiro de outubro, mais próprio de um dia de verão, as notícias climáticas não são agradáveis. Culpa do homem. O meteorologista acabou há pouco de alertar num dos canais televisivos de que em Portugal nos deveremos habituar a ter unicamente duas estações. Até o fundo dos oceanos é quente, e, como tal, nocivo para a vivência no planeta.

Depois das férias, com uns mais preocupados do que outros, os bons jornalistas, de conceituadas publicações, deparam com as notícias “num mundo em plena desordem, em que é cada vez mais difícil detetar os principais fios condutores e as grandes tendências que nos permitem, normalmente, interpretá-lo”. Nesta preocupação surge Teresa de Sousa, do Público. É que vivemos num desses momentos de grande turbulência internacional. É a transição entre duas ordens mundiais, ou seja, a que conhecemos nas últimas décadas, construída pelos Estados Unidos depois da II Guerra Mundial. Liberal e assente em regras. A outra, ainda desconhecemos os seus contornos, em grande parte. De harmonia com o que escreveu a diretora da revista britânica The Economist, começa por lembrar que desde que a China passou a integrar a economia global, nos anos 1980, o seu crescimento foi o mais espetacular que alguma vez a História registou. A economia chinesa “cresceu à taxa anualizada de apenas 3,2% no segundo trimestre”, face aos 40 anos em que a sua economia se encontrava. Terrível para os padrões chineses, sobretudo se compararmos com o crescimento da economia americana de quase 6% no mesmo período.

Segundo a tese da revista britânica, as políticas económicas defendidas pelo presidente chinês apenas agravarão o problema porque o seu objetivo principal deixou de ser o crescimento económico para passar a ser a segurança, na rivalidade com a superpotência americana.

Na cimeira dos BRICS que decorreu em Joanesburgo, na África do Sul, os países passaram a ser onze. Mais que duplicaram o número dos seus membros. Eram inicialmente quatro, sendo certo que BRIC significa Brasil, Rússia, Índia e China. Juntou-se-lhes depois a África do Sul. Agora estes convidaram mais seis países: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irão, Argentina, Etiópia e Egipto. Já a Indonésia não aceitou integrar este grupo, que é o maior país islâmico do mundo, com uma economia poderosa e uma população de 200 milhões e pessoas, no Sudoeste Asiático.

Não deixa de ser desagradável, quase ofensivo, o facto de países democráticos, como o Brasil, Índia ou África do Sul, terem aceitado sem qualquer problema “coabitar com teocracias ignóbeis como o Irão e a Arábia Saudita”.

A China foi o grande impulsionador deste alargamento. Sozinha, já representava 70% da riqueza dos BRICS. Consolidar um grupo de países importantes do Sul Global capaz de rivalizar com o G7 é uma parte fundamental da sua estratégia. À Índia cabe-lhe, durante este ano, presidir ao G20 criado por iniciativa da França e dos Estados Unidos, em 1999, para integrar as principais economias emergentes, grandes e médias, que não se sentiam devidamente representadas nas estruturas das Nações Unidas, e para responder ao mundo que emergia do fim da Guerra Fria.

O presidente russo não esteve presente nas cimeiras organizadas por se ter tornado uma figura muito incómoda para todos os subscritores dos estatutos do Tribunal Penal Internacional, que devem cumprir os respetivos mandados de captura, como no caso de Vladimir Putin.

O G7 reúne democracias liberais que partilham os mesmos valores fundamentais da democracia e do Estado de direito. Não existe essa unidade, neste novo grupo, que reúne teocracias violentas, regimes totalitários como o chinês, ditaduras agressivas e expansionistas como a russa, onde Putin transformou o seu país num verdadeiro Estado-máfia, em que os opositores são pura e simplesmente assassinados.

O alargamento dos BRICS representa uma tendência que não deve ser subestimada e que exige dos Estados Unidos e da Europa particular atenção.

O jornal Monde concluía, no seu editorial de 26 de agosto que “Ao passar de cinco para 11 países, os BRICS podem defender melhor os interesses do Sul Global. Mas as esperanças da China de reunir à sua volta uma frente antiamericana parecem menos realistas”.

Teresa de Sousa conclui no Público que “o nosso velho continente está a braços com uma guerra em grande escala, a maior desde a II Guerra Mundial, que ditará o nosso futuro coletivo – de paz e de prosperidade, como nos habituámos a viver, ou de insegurança e de profunda incerteza. O seu desfecho a favor da Ucrânia é vital”.

Questiono, pois, para onde iremos?

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

 

 

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 11-10-2023)


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