11 de outubro de 2023

CONTE-NOS A SUA HISTÓRIA ANTÓNIO JOSÉ SILVA

 






Trazemos hoje  estórias da história de um Antigo Combatente, Covilhanense, que, não sendo sua missão estar envolvido fisicamente em zonas de perigo iminente nos capins guineenses, teve ação preponderante nas ações que lhe foram atribuídas no segredo e alta responsabilidade da sua especialidade de Operador-Cripto, entre elas  criptografar e descriptografar mensagens por vias de técnicas de codificação para garantir manter a segurança das comunicações aos olhos dos adversários ou espiões inimigos, entre outras situações.

Mas, afinal quem é o António José da Costa Silva, de seu nome completo, mas que não o costuma usar?

Nasceu na freguesia de São Pedro (hoje, integrando a União de Freguesias da Covilhã e Canhoso), no dia 22 de dezembro do ano da graça de 1948, a três dias da celebração do Natal. É casado, tem um filho e dois netos.

Estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, onde concluiu o Curso Geral do Comércio, e já depois do serviço militar obrigatório, o antigo 7.º ano no Liceu Camões, em Lisboa, no ano de 1975, tendo ainda feito provas ad hoc de acesso à Faculdade de Letras com Avaliação de Entrada.

Foi em Lisboa Promotor de Relações Públicas na Arte Livreira e empregado de escritório durante 5 anos. Posteriormente, na Covilhã, foi empregado de fabricação na CIL e empresário em nome individual na área da prestação de serviços.

Mas António José Silva é sobejamente conhecido na Covilhã por ser um poeta de eleição, e romancista (romance poético), já com seis obras publicadas (“O Rosto da Poesia”, “Varanda dos Carqueijais”, “Chuva de Mel”, “Cem Poemas à Janela da Rua”, “Princepezinhos Encantados” e Amor-poético”). Participou em 22 Antologias e 4 Coletâneas de várias editoras. Foi ainda o autor de várias letras para instituições: “A Marcha do Leão da Serra”, o Hino da Marcha do Sport Lisboa e Benfica na Covilhã, o Hino da Associação Mutualista da Covilhã e a letra da Marcha Popular do Académico dos Penedos Altos 2022/2023.

Teve várias distinções e prémios de leitura no Casino Estoril, participou no programa da RDP Internacional sobre o “Rosto da Poesia”.

Da sua extensa ação cultural ficamos por aqui, pois tem muito mais desenvolvimentos que ultrapassariam várias páginas deste trissemanário, não ocultando, no entanto, a sua participação no dirigismo do Sporting Clube da Covilhã e do seu Jornal, assim como nos programas radiofónicos da Rádio Cova da Beira e atualmente na Rádio Fórum. E, entre outros factos biográficos, venceu em 2013 um Prémio de Poesia, pela APE.

Iniciou o serviço militar obrigatório no RI 5, nas Caldas da Rainha, no ano de 1969, seguindo depois para o RAL 4, em Leiria, em 1970, e seguidamente CICA 3, em Elvas e BRT na Trafaria, em 1971.

Foi mobilizado para a Guiné-Bissau, onde esteve em Cuntima e Bissau de novembro de 1971 a maio de 1973, data do seu regresso à Metrópole.

Se muito ainda haveria a detalhar desta personalidade covilhanense, deixamos aos prezados leitores d’O Combatente da Estrela”, uma resenha da sua participação da guerra do Ultramar, na então Colónia da Guiné, para onde foi enviado em missão obrigatória de soberania nacional.

São dele o poema e texto que segue:

 

O SOL DO CAPIM

 

O sol no capim

abria fendas no mato

e o medo espreitava

a cada passo

a compasso

no invisível das minas

em qualquer lado

que podiam rebentar

nas botas de cada soldado

o sol no capim abrasava

quando a primeira G3 disparava

coração apertado

aflito

ao longe ouvia-se o primeiro grito

rebentou!...

e o mato transformado em rebeldia

dor

angústia

gritaria

espírito bem forte

porque o sol no capim

sabia a morte.

 

 

Um sopro de tempo passava inquinado. Quis o destino que após tirar o curso de Operador-Cripto, fosse mobilizado para bem longe, até terras tórridas duma Guiné, onde o capim cheirava a morte, entrelaçado em “bolanhas” dizimais. As mensagens que cifrava e decifrava eram aterradoras no testemunho de sangue vertido na pintura selvagem de trilhos artilhados. Ainda fui colocado em serviço pela SHERET – “Serviço de reconhecimento especial e secreto de transmissões” no norte do território, Cuntima, considerada das zonas mais fustigadas da Guiné-Bissau…Via diariamente pelotões saírem rumo a patrulhas “negras”! Quantas vezes os rebentamentos ao longe me despertavam sentimentos incontáveis e revoltantes? Quantas vezes cifrava msgs dos mesmos mortos e feridos que minutos antes via sair?  Os infindáveis momentos noturnos em secretária de solidão, tantas vezes com uma lágrima corrente sem vontade de bater teclas naquela máquina triturante!

Quando saí do Norte e rumei a Bissau, mitiguei e deixei para trás tempos terríveis. Continuei com a tal máquina torturante, cifrando e decifrando feridos e mortos plasmados ao longo de toda uma Guiné-Bissau que agonizava.

Recordo os amigos, as patuscadas, o clima e aqueles loucos anos duma guerra injusta.

Recordo o tempo e os tempos. Tempos que não voltam mais, mas que ficaram gravados nos ponteiros da vida, que dentro da minha alma ocuparão lugar eterno.

 

 

Poema e texto do Autor.

António José da Silva

 

 (In "O Combatente da Estrela", 132, OUT/2023)


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