Trazemos hoje estórias da história de um Antigo Combatente,
Covilhanense, que, não sendo sua missão estar envolvido fisicamente em zonas de
perigo iminente nos capins guineenses, teve ação preponderante nas ações que
lhe foram atribuídas no segredo e alta responsabilidade da sua especialidade de
Operador-Cripto, entre elas criptografar
e descriptografar mensagens por vias de técnicas de codificação para garantir
manter a segurança das comunicações aos olhos dos adversários ou espiões
inimigos, entre outras situações.
Mas, afinal quem é o António José
da Costa Silva, de seu nome completo, mas que não o costuma usar?
Nasceu na freguesia de São Pedro
(hoje, integrando a União de Freguesias da Covilhã e Canhoso), no dia 22 de
dezembro do ano da graça de 1948, a três dias da celebração do Natal. É casado,
tem um filho e dois netos.
Estudou na Escola Industrial e
Comercial Campos Melo, onde concluiu o Curso Geral do Comércio, e já depois do
serviço militar obrigatório, o antigo 7.º ano no Liceu Camões, em Lisboa, no
ano de 1975, tendo ainda feito provas ad hoc de acesso à Faculdade de Letras
com Avaliação de Entrada.
Foi em Lisboa Promotor de Relações
Públicas na Arte Livreira e empregado de escritório durante 5 anos.
Posteriormente, na Covilhã, foi empregado de fabricação na CIL e empresário em
nome individual na área da prestação de serviços.
Mas António José Silva é
sobejamente conhecido na Covilhã por ser um poeta de eleição, e romancista
(romance poético), já com seis obras publicadas (“O Rosto da Poesia”, “Varanda
dos Carqueijais”, “Chuva de Mel”, “Cem Poemas à Janela da Rua”, “Princepezinhos
Encantados” e Amor-poético”). Participou em 22 Antologias e 4 Coletâneas de
várias editoras. Foi ainda o autor de várias letras para instituições: “A
Marcha do Leão da Serra”, o Hino da Marcha do Sport Lisboa e Benfica na
Covilhã, o Hino da Associação Mutualista da Covilhã e a letra da Marcha Popular
do Académico dos Penedos Altos 2022/2023.
Teve várias distinções e prémios de
leitura no Casino Estoril, participou no programa da RDP Internacional sobre o
“Rosto da Poesia”.
Da sua extensa ação cultural
ficamos por aqui, pois tem muito mais desenvolvimentos que ultrapassariam
várias páginas deste trissemanário, não ocultando, no entanto, a sua
participação no dirigismo do Sporting Clube da Covilhã e do seu Jornal, assim
como nos programas radiofónicos da Rádio Cova da Beira e atualmente na Rádio
Fórum. E, entre outros factos biográficos, venceu em 2013 um Prémio de Poesia,
pela APE.
Iniciou o serviço militar
obrigatório no RI 5, nas Caldas da Rainha, no ano de 1969, seguindo depois para
o RAL 4, em Leiria, em 1970, e seguidamente CICA 3, em Elvas e BRT na Trafaria,
em 1971.
Foi mobilizado para a Guiné-Bissau,
onde esteve em Cuntima e Bissau de novembro de 1971 a maio de 1973, data do seu
regresso à Metrópole.
Se muito ainda haveria a detalhar
desta personalidade covilhanense, deixamos aos prezados leitores d’O Combatente
da Estrela”, uma resenha da sua participação da guerra do Ultramar, na então
Colónia da Guiné, para onde foi enviado em missão obrigatória de soberania
nacional.
São dele o poema e texto que segue:
O SOL DO CAPIM
O
sol no capim
abria
fendas no mato
e
o medo espreitava
a
cada passo
a
compasso
no
invisível das minas
em
qualquer lado
que
podiam rebentar
nas
botas de cada soldado
o
sol no capim abrasava
quando
a primeira G3 disparava
coração
apertado
aflito
ao
longe ouvia-se o primeiro grito
rebentou!...
e
o mato transformado em rebeldia
dor
angústia
gritaria
espírito
bem forte
porque
o sol no capim
sabia
a morte.
…
Um sopro de tempo passava inquinado.
Quis o destino que após tirar o curso de Operador-Cripto, fosse mobilizado para
bem longe, até terras tórridas duma
Guiné, onde o capim cheirava a morte, entrelaçado em “bolanhas”
dizimais. As mensagens que cifrava e decifrava eram aterradoras no testemunho
de sangue vertido na pintura selvagem de trilhos artilhados. Ainda fui colocado
em serviço pela SHERET – “Serviço de reconhecimento especial e secreto de
transmissões” no norte do território, Cuntima, considerada das zonas mais
fustigadas da Guiné-Bissau…Via diariamente pelotões saírem rumo a patrulhas
“negras”! Quantas vezes os rebentamentos ao longe me despertavam sentimentos
incontáveis e revoltantes? Quantas vezes cifrava msgs dos mesmos mortos e
feridos que minutos antes via sair? Os
infindáveis momentos noturnos em secretária de solidão, tantas vezes com uma
lágrima corrente sem vontade de bater teclas naquela máquina triturante!
Quando saí do Norte e rumei a Bissau,
mitiguei e deixei para trás tempos terríveis. Continuei com a tal máquina
torturante, cifrando e decifrando feridos e mortos plasmados ao longo de toda
uma Guiné-Bissau que agonizava.
Recordo os amigos, as patuscadas, o
clima e aqueles loucos anos duma guerra injusta.
Recordo o tempo e os tempos. Tempos
que não voltam mais, mas que ficaram gravados nos ponteiros da vida, que dentro
da minha alma ocuparão lugar eterno.
Poema
e texto do Autor.
António
José da Silva
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