7 de dezembro de 2023

A CIDADE, O CLUBE E O JORNAL

 


No que concerne à Cidade de Olhão está na minha memória desde longa data pela história e pela geografia. Vem já dos tempos da Primária, hoje Ensino Básico, quando empinávamos os nomes dos rios e seus afluentes, das serras e seus sistemas de montanhas (Galaico-Duriense, Lusitano-Castelhano, Toledano e Mariânico), e também dos caminhos de ferro. Nos então exames de admissão aos liceus e escolas industriais e comerciais, o examinador, que era sempre professor do ensino secundário, de quando em vez, fazia a pergunta: “Diga-me lá, se quisesse ir de comboio daqui (Covilhã), para Vila Real de Santo António, quais as linhas ferroviárias que teria de apanhar?”. E o menino ou menina, bem vestidos, ele  com fatinho novo a condizer para o exame (a Covilhã geralmente não tinha grande problema porque era a terra dos lanifícios e, na altura, vendiam-se muitos tecidos ao metro, para que o alfaiate se encarregasse de o fazer à medida); e um vestido novo, que fosse  bonito, que a costureira fazia com ou sem folhos, para a menina que queria entrar no Liceu (ao tempo, o Ciclo Preparatório era iniciado nos estabelecimentos do Ensino Secundário); lá se voltava para o velho mapa de Portugal. Com o ponteiro que o examinador lhes colocava na mão, iam referindo os caminhos ferroviários (por vezes de faces coradas quando a atrapalhação surgia, noutras, com um à vontade, descontraídos, com as linhas férreas decoradas debaixo da língua, como se de comboios já viajassem muito). Daqui, na linha da Beira Baixa, vou até Lisboa - Santa Apolónia (ainda não havia a do Oriente). No cais do Terreiro do Paço apanho um barco para o Barreiro. Sigo esta linha e vou entrar na Linha do Sul: Barreiro, Pinhal Novo, Torre da Gafanha, Casa Branca, Tunes, Faro, Olhão, Tavira, Vila Real de Santo António.

Se a Covilhã foi sempre conhecida pela Cidade dos Lanifícios (hoje também Cidade Universitária), Olhão era a Cidade das Pescas.

Curiosamente, vi num Manual Encyclopédico para as Escolas de Instrucção Primária, do ano 1879, que possuo na minha biblioteca, nessa altura tinha 21 Distritos Administrativos, segundo o Diário do Governo de 16 de maio de 1877, contava apenas com 4.429.332 habitantes, e, dizia que, junta às Províncias Ultramarinas excedia os 6 milhões de almas. E, entre as principais povoações, desse tempo, já passados 144 anos nos dias de hoje, referiam-se “Outras povoações há no Algarve dignas de serem mencionadas, a saber: Albufeira, Aljezur, Castro Marim, Loulé, Monchique, Olhão, Vila Nova de Portimão, Vila Real de Santo António, etc.”.

Mas a Cidade de Olhão ficar-me-ia ainda carinhosamente na minha memória quando, naquele sábado de 25 de maio de 1968, me sentei num daqueles bancos junto ao correio, cuja foto incluo desse tempo, e escrevi num postal ilustrado adquirido naquela estação dos CTT (ainda se encontravam abertos aos sábados e também aos domingos da parte da manhã), à minha namorada com quem viria a casar, perdurando até aos dias de hoje. Encontrava-me então a prestar serviço militar no CISMI – Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira.

Clube de Olhão – o Sporting Olhanense – Como referi no número de 1 de novembro, uma nota importante fez vincar o meu afeto pelo clube algarvio, depois de acompanhar todos os clubes das I, II e III Divisões Nacionais, pelos jornais, na Biblioteca Municipal, mormente O Comércio do Porto. E foi o último encontro entre o Sporting da Covilhã e o Sporting Olhanense, encontrando-se ambos na então I Divisão, na época 1961/62, com o Olhanense regressado ao convívio dos grandes e os covilhanenses a descerem de divisão depois de muitas contrariedades havidas, nomeadamente com as arbitragens, que na simpatia dos homens de Olhão reforçou o meu apreço pelos algarvios.

Jornal O OlhanenseJamais pensaria vir a colaborar há mais de um quarto de século com este periódico de grande prestígio. Não conhecia o quinzenário, tendo ele surgido fruto das minhas pesquisas para a publicação do então meu segundo livro (de quatro) sobre o Sporting da Covilhã. Foi um então amigo, já falecido, Augusto Ramos Teixeira, que me informou, depois de o ter questionado, numa altura em que ele me indicava alguns antigos atletas que passaram pelo Olhanense e se transferiram para o Sporting da Covilhã. Vim então a entrar em contatos frequentes com o diretor do jornal da altura, Herculano Valente, que nunca conheci pessoalmente, como acontece com o atual diretor, amigo Mário Proença. As únicas personalidades do Olhanense que conheci pessoalmente foram o anterior diretor, Isidoro Silva Sousa, então presidente da direção do Olhanense, assim como a esposa, num jantar convite das comemorações do clube serrano, e, de igual modo, Manuel Cajuda. Ainda vim a conhecer num encontro de futebol, na Covilhã, entre os dois Clubes, para o campeonato Nacional da II Divisão, o Sr. Júlio Favinha.

Quando pensava terminar a minha colaborar com este periódico, após o falecimento de Herculano Valente, mão amiga do atual diretor, incentivou-me a continuar e não é que, com ele, este periódico tornou-se um jornal de referência, desconhecendo a sua posição a nível nacional, mas, nos seus 60 anos de vida fica bem à frente de muitos outros, nomeadamente desta região beirã, certamente com mais apoios que o quinzenário O Olhanense, a viver horas difíceis.

Sobre o último número, quero informar que do suplemento “A Voz de Olhão”, o texto “O Mendigo”, de Mário Proença, serviu para uma reflexão numa reunião da Conferência de São Vicente de Paulo – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Covilhã, com muito agrado.

Já a crónica de João Peres, “Assim vai este mundo doentio – Crónica ao sabor da caneta...” está espetacular. Parabéns a ambos.

Deixo, para vossa apreciação, os periódicos regionais da Beira Interior, numa comparação com o quinzenário O Olhanense, a saber:

- Correio de Unhais – Unhais da Serra

Periódico mensal. ANO XXXIV, Nº. 348 – Outubro 2023 - 16 páginas

Tem editorial e 8 crónicas, correspondente a 9 autores diferentes.

- Jornal Fórum Covilhã

Periódico semanal – ANO XI, Nº. 585 – 18-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 5 crónicas, correspondente a 6 autores diferentes, para além de variadíssima informação e reportagens.

- notícias da Covilhã – gratuito

Periódico semanal, renascido do anterior e mais antigo semanário da Beira Interior, mas que nada tem a ver com o anterior, a não ser o aproveitamento da sua antiguidade. ANO 110 – Nº. 5294 – 19-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 3 crónicas, de 4 autores.

- Jornal do Fundão

Periódico semanal – ANO 77 – Nº.  4027 – 19-10-2023 – 24 páginas

Tem editorial e 2 crónicas, de 2 autores

- A Guarda

Periódico semanal – ANO 119 – Nº.  5905 – 19-10-2023 – 20 páginas

Neste número não teve editorial mas sim 3 crónicas de três autores diferentes.

- Gazeta do Interior – Castelo Branco

Periódico semanal – ANO XXXIV – Nº 1814 – 18-10-2023 – 16 páginas

Tem editorial mais 3 crónicas de autores diferentes.

- Reconquista – Castelo Branco

Periódico semanal – Edição 4049 – ANO 77 – 19-10-2023 – 32 páginas

Tem editorial mais 4 crónicas, de 5 autores

- O Olhanense

Periódico quinzenal, fundado em 1963 (60 anos) – Nº 1307 – 15-10-2023 – 28 páginas

Tem editorial e 12 crónicas de 10 autores

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-12-2023)


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