6 de dezembro de 2023

COMO ERA A PALESTINA ANTES DO NASCIMENTO DE ISRAEL

 


De harmonia com um trabalho da jornalista Ana Marques Maia, inserido no Público (P3), de 17 de outubro, e depois do que já tanto se escreveu (eu também) sobre Israel, a Palestina, e o Hamas, as polémicas/mal entendidos entre personalidades que se assumiram com frontalidade e depois tiveram os seus dissabores (justificados para uns, injustos para outros), como António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, e os defensores de um lado e outros do adverso, nos horrores desta guerra entre Israel e o Hamas, sem me querer envolver em partidarismos, trago, tão só, com base na história ora descrita por quem sabe, elementos para algumas elucidações.

O slogan “Uma terra sem povo para um povo sem uma terra” foi inúmeras vezes repetido ao longo do século XX. Consta que quem o fez foi o movimento sionista, e seus apoiantes, no sentido de mobilizar a imigração judaica para a Palestina, a eles se reportando o período entre os anos 1898 a 1946.

Entretanto, também é contada uma história diferente, já que a Palestina era, no século XIX e XX, antes do nascimento do Estado de Israel, em 1948, um território habitado por centenas de milhares de pessoas, vivendo um “renascimento árabe”, segundo a Enciclopédia Britannica.

A localização da Palestina tornava-se num local estratégico do ponto de vista comercial. Era a partir dos portos de Gaza e Jafa que as importações e exportações decorriam com países dos continentes africano, europeu e asiático. Havia também ligações ferroviárias com outras zonas do Império Otomano. Vários jornais locais podiam-se encontrar em circulação.

Entre 1516 e 1917, o território da Palestina integrou o Império Otomano. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), alinhou com as Potências Centrais, o eixo que saiu derrotado do conflito. Na sequência da vitória, dois dos países Aliados, França e Reino Unido, com a concordância da Rússia, assinaram um acordo secreto, em 1916 que determinada que parte do território do Império Otomano, a ser desmembrado no pós-guerra, ficaria sob a administração francesa e britânica. Nesse acordo, foi determinado que a Palestina, devido à presença de locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus, deveria ser governada por um regime internacional. As administrações dos territórios “conquistados” pelos Aliados souberam das resoluções do acordo aquando da sua publicação, sem que tivessem podido pronunciar-se favorável ou desfavoravelmente sobre elas.

Em 1917, o Reino Unido decidiu violar o acordo e, unilateralmente, determinar que o território da Palestina deveria ficar sob o seu comando e tornar-se “o Lar Nacional para o Povo Judeu”. A população autóctone não foi consultada ou chegou a qualquer acordo com o Reino Unido. Assim, este tomou as rédeas do poder na Palestina, no pós-guerra, assumindo o papel de facilitador da imigração da comunidade judaica para a região. Antes da chegada dos britânicos, a esmagadora maioria da população era árabe, mas já existia uma comunidade de judeus na Palestina, ainda que minoritária.

Se algumas estimativas apontam para cerca de 50 mil judeus a viver na Palestina, em 1918, contra 500 mil árabes, já a partir da vigência do controlo britânico, a imigração judaica intensificou-se. Em 1920, a Liga das Nações tornou oficial o governo britânico da Palestina. Na década de 1930, o número de judeus a chegar à Palestina aumentou significativamente devido à perseguição e extermínio sistemático dos judeus na Europa Central, principalmente com a chegada de Hitler ao poder da Alemanha, em 1933. Em 1935 chegaram à Palestina cerca de 62 mil judeus, menos 10 mil que nos dois anos anteriores.

Em 1937, de acordo com as Nações Unidas, a população judaica era de 400 mil e dez anos depois atingiu os 625 mil.  Segundo a Britannica havia em 1946, na Palestina, 1,2 milhões de árabes e 678 mil judeus, um crescimento de 1350% da população judaica durante 25 anos. A resistência à chegada de mais imigrantes judeus intensificou-se nesse período entre a população árabe da Palestina, e em 1933 tornaram-se frequentes manifestações em oposição à emigração e que pediam o fim do mandato britânico. Estas manifestações foram reprimidas pelos britânicos violentamente, com protesto em Jaffa, no ano de 1935. Entre 1936 e 1939, a Palestina esteve em guerra civil. Na sequência desta revolta, a Britannica  refere que “pela primeira vez, um órgão oficial britânico falou abertamente sobre a formação de um estado judaico”.

Em meados de 1940, tanto árabes como judeus opunham-se ao mandato britânico na Palestina.

A Segunda Guerra Mundial tinha tornado o Reino Unido vitorioso, mas exausto. A resolução britânica de permanecer no Médio Oriente entrava em colapso.

Em 1947, o presidente norte-americano Harry S. Truman declarou, contra o interesse britânico, o seu apoio à ideia da criação de Israel; no ano seguinte, a “solução de dois estados” seria levada a votação na recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1948, o Reino Unido abandonava a Palestina. No mesmo ano, as Nações Unidas partiram o território em dois e nascia Israel. Os palestinianos opuseram-se ao acordo unilateral.  A resistência árabe ao novo Estado israelita, em 1948, deu origem a um conflito armado e ao “deslocamento e expropriação em massa” dos palestinianos, com milhares deles sob ameaça de violência, obrigados a abandonar as suas aldeias e as suas casas e a encontrar refúgio na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em países vizinhos.

Segundo consta, em setembro de 2023, a população de Israel é de 9,8 milhões de pessoas, existindo no mundo 15,2 milhões de judeus.

Presentemente, Israel ocupa, à revelia da lei internacional que lhe destinou 55% do território em 1947, mais de 20 mil quilómetros quadrados de terra (76% do território). Aos palestinianos cabe residir numa área de 6 mil quilómetros quadrados (24%), em Gaza e na Cisjordânia.

Mais de cinco milhões de palestinianos vivem, atualmente, dispersos por vários países do Médio Oriente e do mundo.  Em Israel, dos dias de hoje, segundo a ONU, “os palestinianos continuam a ser expropriados e deslocados pelos colonatos israelitas, por despejos, confisco de terras e demolições. A Palestina é, hoje, um “estado observador” na ONU, não reconhecido pela maioria dos países do Ocidente.

Aproveito a oportunidade para desejar os maiores êxitos jornalísticos ao Jornal Fórum Covilhã, reforçado pela Rádio Fórum, na pessoa do seu Diretor, Vitor Aleixo, e demais Obreiros, pela passagem do 12º  Aniversário no passado dia 29 de novembro de 2023. Parabéns!

 

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 06-12-2023)


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