De harmonia com um trabalho da
jornalista Ana Marques Maia, inserido no Público (P3), de 17 de outubro,
e depois do que já tanto se escreveu (eu também) sobre Israel, a Palestina, e o
Hamas, as polémicas/mal entendidos entre personalidades que se assumiram com
frontalidade e depois tiveram os seus dissabores (justificados para uns,
injustos para outros), como António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, e os
defensores de um lado e outros do adverso, nos horrores desta guerra entre
Israel e o Hamas, sem me querer envolver em partidarismos, trago, tão só, com
base na história ora descrita por quem sabe, elementos para algumas
elucidações.
O slogan “Uma terra sem povo para
um povo sem uma terra” foi inúmeras vezes repetido ao longo do século XX.
Consta que quem o fez foi o movimento sionista, e seus apoiantes, no sentido de
mobilizar a imigração judaica para a Palestina, a eles se reportando o período
entre os anos 1898 a 1946.
Entretanto, também é contada uma
história diferente, já que a Palestina era, no século XIX e XX, antes do
nascimento do Estado de Israel, em 1948, um território habitado por centenas de
milhares de pessoas, vivendo um “renascimento árabe”, segundo a Enciclopédia Britannica.
A localização da Palestina tornava-se num local estratégico do ponto de
vista comercial. Era a partir dos portos de Gaza e Jafa que as importações e
exportações decorriam com países dos continentes africano, europeu e asiático. Havia
também ligações ferroviárias com outras zonas do Império Otomano. Vários
jornais locais podiam-se encontrar em circulação.
Entre 1516 e 1917, o território da Palestina integrou o Império
Otomano. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), alinhou com as
Potências Centrais, o eixo que saiu derrotado do conflito. Na sequência da
vitória, dois dos países Aliados, França e Reino Unido, com a concordância da
Rússia, assinaram um acordo secreto, em 1916 que determinada que parte do
território do Império Otomano, a ser desmembrado no pós-guerra, ficaria sob a
administração francesa e britânica. Nesse acordo, foi determinado que a Palestina,
devido à presença de locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus,
deveria ser governada por um regime internacional. As administrações dos
territórios “conquistados” pelos Aliados souberam das resoluções do acordo
aquando da sua publicação, sem que tivessem podido pronunciar-se favorável ou
desfavoravelmente sobre elas.
Em 1917, o Reino Unido decidiu violar o acordo e, unilateralmente,
determinar que o território da Palestina deveria ficar sob o seu comando e
tornar-se “o Lar Nacional para o Povo Judeu”. A população autóctone não foi
consultada ou chegou a qualquer acordo com o Reino Unido. Assim, este tomou as
rédeas do poder na Palestina, no pós-guerra, assumindo o papel de facilitador
da imigração da comunidade judaica para a região. Antes da chegada dos
britânicos, a esmagadora maioria da população era árabe, mas já existia uma
comunidade de judeus na Palestina, ainda que minoritária.
Se algumas estimativas apontam para cerca de 50 mil judeus a viver na
Palestina, em 1918, contra 500 mil árabes, já a partir da vigência do controlo
britânico, a imigração judaica intensificou-se. Em 1920, a Liga das Nações
tornou oficial o governo britânico da Palestina. Na década de 1930, o número de
judeus a chegar à Palestina aumentou significativamente devido à perseguição e
extermínio sistemático dos judeus na Europa Central, principalmente com a
chegada de Hitler ao poder da Alemanha, em 1933. Em 1935 chegaram à Palestina
cerca de 62 mil judeus, menos 10 mil que nos dois anos anteriores.
Em 1937, de acordo com as Nações Unidas, a população judaica era de 400
mil e dez anos depois atingiu os 625 mil.
Segundo a Britannica havia em 1946, na Palestina, 1,2 milhões de
árabes e 678 mil judeus, um crescimento de 1350% da população judaica durante
25 anos. A resistência à chegada de mais imigrantes judeus intensificou-se nesse
período entre a população árabe da Palestina, e em 1933 tornaram-se frequentes
manifestações em oposição à emigração e que pediam o fim do mandato britânico.
Estas manifestações foram reprimidas pelos britânicos violentamente, com
protesto em Jaffa, no ano de 1935. Entre 1936 e 1939, a Palestina esteve em
guerra civil. Na sequência desta revolta, a Britannica refere que “pela primeira vez, um órgão
oficial britânico falou abertamente sobre a formação de um estado judaico”.
Em meados de 1940, tanto árabes como judeus opunham-se ao mandato
britânico na Palestina.
A Segunda Guerra Mundial tinha tornado o Reino Unido vitorioso, mas
exausto. A resolução britânica de permanecer no Médio Oriente entrava em
colapso.
Em 1947, o presidente norte-americano Harry S. Truman declarou, contra
o interesse britânico, o seu apoio à ideia da criação de Israel; no ano
seguinte, a “solução de dois estados” seria levada a votação na recém-criada
Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1948, o Reino Unido abandonava a
Palestina. No mesmo ano, as Nações Unidas partiram o território em dois e
nascia Israel. Os palestinianos opuseram-se ao acordo unilateral. A resistência árabe ao novo Estado israelita,
em 1948, deu origem a um conflito armado e ao “deslocamento e expropriação em massa”
dos palestinianos, com milhares deles sob ameaça de violência, obrigados a
abandonar as suas aldeias e as suas casas e a encontrar refúgio na Cisjordânia,
na Faixa de Gaza e em países vizinhos.
Segundo consta, em setembro de 2023, a população de Israel é de 9,8
milhões de pessoas, existindo no mundo 15,2 milhões de judeus.
Presentemente, Israel ocupa, à revelia da lei internacional que lhe
destinou 55% do território em 1947, mais de 20 mil quilómetros quadrados de
terra (76% do território). Aos palestinianos cabe residir numa área de 6 mil
quilómetros quadrados (24%), em Gaza e na Cisjordânia.
Mais de cinco milhões de palestinianos vivem, atualmente, dispersos por
vários países do Médio Oriente e do mundo.
Em Israel, dos dias de hoje, segundo a ONU, “os palestinianos continuam
a ser expropriados e deslocados pelos colonatos israelitas, por despejos,
confisco de terras e demolições. A Palestina é, hoje, um “estado observador” na
ONU, não reconhecido pela maioria dos países do Ocidente.
Aproveito a oportunidade para desejar os maiores êxitos jornalísticos
ao Jornal Fórum Covilhã, reforçado pela Rádio Fórum, na pessoa do seu Diretor,
Vitor Aleixo, e demais Obreiros, pela passagem do 12º Aniversário no passado dia 29 de novembro de
2023. Parabéns!
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum Covilhã”, de 06-12-2023)
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