JOSÉ ANTÓNIO LOPES GIL CHORÃO
Trazemos hoje a esta rubrica o antigo combatente José António Chorão, nascido em 30 de março de 1952, no Refúgio, S. Martinho, Covilhã. É casado, tem 2 filhos e 3 netos. Estudou na Escola Industrial e Comercial Campos Melo, tendo frequentado o Curso de Tintureiro Acabador. Foi esta profissão que passou a exercer sempre, na empresa Álvaro Paulo Rato & Filhos, Lda, antes e após o serviço militar, até ao encerramento da empresa.
Tive o prazer de acompanhar a família dos Chorões, inicialmente como colega na Escola Industrial de dois dos seus irmãos, o António José e o Carlos, assim como cunhado Basílio; depois, mais tarde, no âmbito da minha vida profissional, o José António, e outros seus familiares, todos envolvidos num denominador comum – amizade, simpatia, humildade.
Chegada a altura de cumprir o serviço militar, o José António Chorão foi chamado para a recruta no R.I. 7 em Leiria, que iniciou em 22 de janeiro de 1973, onde esteve durante três meses, seguindo depois para a especialidade de enfermeiro em Coimbra. Partiria de seguida para o estágio desta especialidade no Hospital Militar Principal da Estrela, em Lisboa. Findo este estágio foi para o quartel na Amadora onde foi mobilizado para Moçambique, formando ali a Companhia 4153. Foi então promovido a 1º. Cabo Enfermeiro.
Em avião militar, seguiu a Companhia para Nancatari, em Moçambique, no dia 22 de fevereiro de 1974, onde permaneceu durante 13 meses. Aqui, viveram momentos angustiosos nas picadas. Era com grande temor que, para além da G3, os seus camaradas tinham de utilizar, neste trabalho de deteção de minas, as picas e os ancinhos, por vezes debaixo de tiroteio do inimigo – a Frelimo. Geralmente, levavam também duas Berliet cheias de areia que serviam de anti-minas. Numa das picadas, logo na primeira, em que ia o enfermeiro José António, surgiu a morte de um camarada que seguia à frente. Haveria, lamentavelmente, de haver mais mortes noutras picadas.
Sem que contassem, estavam então próximos da Revolução do 25 de abril, o que levou a Frelimo a intensificar os ataques. No entanto, no mato, não morreu ninguém. Queimavam-lhes as cabanas e paliçadas, pois quando os nossos homens lá chegavam já estavam sem ninguém, tendo fugido. O inimigo comunicava entre si, montados em árvores altas.
Entretanto, o 1º Cabo enfermeiro, José António Chorão, e outros camaradas, enquanto jogavam a bola na pequena pista para treino de avionetas, assistiram a um acidente aéreo com um avião DAKOTA, da Força Aérea Portuguesa, no dia 6 de maio de 1974. O avião, que havia levantado voo de Namgade com destino a Nampula, transportando uma delegação de Adidos de vários países, fora atingido por um míssil disparado pela FRELIMO, quando voava entre Diaca e Mueda, num desvio de rota imposto pelo mau tempo. Dado o estado deplorável da aeronave, que ameaçava “desintegrar-se” a todo o momento, com chapas que se iam soltando do avião, e o motor direito a arder, o piloto resolveu fazer a aterragem neste local, quase atingido alguns dos militares. Os que seguiam no avião foram evacuados de helicóptero para Mueda e, daqui, de avião, para a base em Nampula. Resultado: ao jantar desse dia, festejaram vibrantemente o facto de terem sobrevivido. Entretanto, conseguiu salvar-se e toda a tripulação. Este assunto já foi referido por Victor Elias no C.E. nº. 105, de janeiro/março 2017.
Conforme foi referido, havia surgido o 25 de abril e preparava-se a independência das Colónias. Estávamos já no ano 1975 e o regresso à ainda Metrópole ansiava.
Começou a haver dissabores entre a malta. Revoltaram-se por não terem avião para o regresso tão desejado. Viram-se então forçados a que o Governo fretasse um avião da TAP, onde todos vieram, de G3, ao lado da tripulação, as famosas hospedeiras da TAP. Isto aconteceu no dia 25 de março de 1975, data da chegada a Lisboa.
J.J. Nunes
(In “O Combatente da Estrela”, nº. 138, abril/2025)
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