Quando o homem se sedentarizou, passou a cultivar a terra e a domesticar animais, inventou a roda. Foi um enorme feito da humanidade. Surgiu o carro puxado por uma junta de bois, cujo papel na vida dos humanos foi importantíssimo. Com a pujança dos bovinos, e mais tarde do gado cavalar, tornou-se possível transportar variadíssimos materiais: pedra, lenha, feno, palha, cereais, estrumes, alfaias agrícolas, animais e as próprias pessoas. Este meio de transporte perdurou durante séculos, sofrendo modificações ao longo dos séculos XIX e XX. Os carros de tração animal dessas épocas produziam um som estridente – o famoso chiar dos carros – hoje evocado com nostalgia por quem já carrega o peso dos anos.
Em várias das minhas crónicas, trouxe à memória figuras citadinas ligadas a este meio de transporte, como o Sr. Joaquim ferrador, que vivia junto à Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã; o velhote do burro, com aquela hilariante forma de trato do industrial de lanifícios Álvaro Paulo Rato para com o homenzinho que lhe pediu boleia para a esposa e depois para levar os cestos de hortaliça, ao que respondeu que “metesse no carro também o burro”; assim como a carroça do Painço. Conforme narra Paulo Leitão Batista, “Este caraterístico chirriar dos carros levou a que os quadrazenhos, muito propensos à onomatopeia, designassem o carro de vacas por charriante na sua gíria contrabandística”.
As Seguradoras não queriam fazer seguros deste meio de transporte. Contudo, na minha atividade profissional de então, consegui que na Companhia Europeia de Seguros, com a qual então trabalhava, segurasse (caso único a nível nacional nesta Seguradora) a responsabilidade civil pela circulação de uma carroça puxada por um muar (apólice 31/599386, com início em 04-12-1985 e anulada, sem sinistros, em 19-10-1992), com o capital de 400 contos. O Segurado era o Sr. Jaime Pires, de Monte do Bispo, freguesia de Caria, do concelho de Belmonte. Reminiscências do passado…
Até que surge o automóvel, numa autêntica revolução evolutiva até aos dias de hoje.
O Panhard & Levassor foi o primeiro automóvel a entrar em Portugal, no mês de outubro de 1885, importado de Paris pelo 4º. Conde de Avilez. Desde então, são muitas as histórias para contar. Quando chegou ao nosso país, suscitou dúvidas sobre a taxa aduaneira a aplicar a tão estranho veículo, que acabou por ser classificado como máquina movida a vapor.
Logo na primeira viagem, entre Lisboa e Santiago do Cacém, deu-se o primeiro acidente de viação ocorrido em Portugal – tendo sido atropelado um burro. Lá está mais um burro…
Entretanto, em 1901 entrou na cidade da Covilhã o primeiro automóvel, conduzido pelo comerciante João Alves da Silva. Natural de Abrantes, mas radicado na Covilhã, foi um homem influente na vida citadina, na atividade autárquica e no turismo, integrando a Sociedade de Propaganda de Portugal, o Turismo – Comissão de Iniciativa Estância da Serra da Estrela e o Grupo de Propaganda da Serra da Estrela.
E, assim, é ainda João Alves da Silva que em 1906, com um automóvel Darracq de 10 HP e 2 cilindros, sobe pela primeira vez a Serra da Estrela, numa altura em que ainda não existiam estradas, mas antes caminhos escabrosos.
Naquela viagem à Serra da Estrela, João Alves da Silva levou como passageiros três amigos: António Pereira Barata, Diamantino Henriques Pereira e António Lopes Fazendeiro, também grandes entusiastas do automobilismo.
Antes de iniciar a marcha, contactou o mecânico Gregório da Fonseca Mimoso, conhecido por “Marroca”, um dos mais hábeis mecânicos da Beira Baixa.
Em 1912, os entusiastas beirões do automobilismo organizaram a prova que ficou conhecida por “Corridas da Covilhã”, embora também lhe chamassem, mais apropriadamente, “Circuito Serra da Estrela”. Estas corridas foram integradas nas Festas da Cidade,
João de Jesus Nunes
jjnunes6200@gmail.com
(In “O Olhanense”, de 15-04-2025)
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