Chegou a vez de incluir neste espaço um nome sobejamente conhecido dos
covilhanenses – e não só –, trazendo para a ribalta o amigo Padre Alberto, figura
cativante que, com frequência, reúne em tertúlias os amigos e antigos combatentes.
Alberto Matos de Almeida nasceu em 10 de novembro de 1940, em Famalicão
da Serra, em plena Segunda Guerra Mundial, marcada pelas suas duras consequências
humanas, sociais e políticas. Cresceu num ambiente rural montanhoso: o pai
era alfaiate e a mãe dividia o tempo entre a agricultura familiar e as tarefas domésticas.
Eram tempos difíceis para a maioria das famílias.
Para prosseguir os estudos, Alberto
tinha como única alternativa ingressar no Seminário do Fundão. As mensalidades,
bastante onerosas, foram suportadas com a ajuda monetária de um tio. Mais
tarde, concluiu o Curso de Teologia no Seminário Maior da Guarda e foi ordenado
sacerdote a 28 de julho de 1963, na Sé da Guarda, pelo Bispo D. Policarpo da
Costa Vaz.
Foi nomeado pároco de Aldeia do
Bispo e Vale da Serra, no concelho da Guarda, cargo que exerceu durante dois
anos. Paralelamente, foi revisor de provas do jornal A Guarda e de outras
publicações durante sete anos, além de integrar, com o Cónego Norberto, a equipa
na Câmara Eclesiástica Egitaniense.
Mais tarde seguiu para a Academia Militar, onde frequentou um curso
preparatório para Capelães Militares. Na Guiné, durante a guerra subversiva, chegaram
a exercer essa missão cento e dois sacerdotes no Exército, sete na Força Aérea e
quatro na Marinha.
O Padre Alberto iniciou a sua missão militar prestando serviço de
capelania no Regimento de Infantaria nº. 15, em Tomar. Posteriormente, foi
mobilizado para integrar o Batalhão de Cavalaria nº. 2992. Embarcou a 3 de
julho de 1970 no paquete Uíge, que, apesar de ter capacidade para 750 pessoas,
transportava 1.200 militares em condições precárias. Como recorda: “Éramos
carne para canhão”.
Destacado para Piche com o seu Batalhão, o Capelão Militar, Alferes
Miliciano Alberto Matos Almeida acompanhou as companhias distribuídas por
diversas localidades – Canajá, Canquelifá, Bojocunda, Pirada, entre outras –, numa
vasta região de etnia fula, onde a guerra de guerrilha estava particularmente
acesa.
Durante dois anos viveu o drama de perder cerca de cinquenta militares
em combate, números que espelhavam bem a dureza do conflito. Sobre esta
experiência, o Padre Alberto recorda:
“Não é fácil, em ambiente de guerra, desenvolver uma ação pastoral
normal. Queriam dar-me uma arma, mas recusei, porque a minha verdadeira arma
era a minha presença com uma viola. Muitas vezes percorri tabancas, abrigos,
aquartelamentos e o mato para levar mensagens de fé, esperança, um pouco de
alegria e de conforto. Foi uma experiência dolorosa, mas também enriquecedora,
pois conheci dificuldades impensáveis,
alimentei-me com rações de combate e comi muito arroz com estilhaços de frango.
Acima de tudo, convivi com militares, muitos deles casados e pais de família, que
viam em mim um suporte psicológico e espiritual. Estive sempre próximo das suas dificuldades,
que também eram as minhas, embora tivesse de as guardar em silêncio.”
A 20 de junho de 1972 regressou à Metrópole, concluída a Comissão
Militar, recusando o convite para continuar no serviço de Capelão Militar. Assumiu,
então, a paróquia do Canhoso (Covilhã).
Atualmente é Pároco no Teixoso, Sarzedo, Orjais e Verdelhos, onde
exerce a sua missão pastoral desde 1995. As comunidades reconhecem-lhe o
empenho e o trabalho desenvolvido ao longo dos anos tendo sido homenageado pela
União de Freguesias da Covilhã e Canhoso, e, por deliberação de 5 de julho de
2013 a Câmara Municipal da Covilhã atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Municipal –
Categoria Prata.
João de Jesus Nunes
*A biografia
deste antigo combatente deve-se ao contributo do amigo António Alves Fernandes,
a quem o autor agradece.
(In “O Combatente da Estrela”, nº. 140 – OUT/2025)
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