22 de outubro de 2025

Capelão Militar ALBERTO MATOS ALMEIDA *


 

Chegou a vez de incluir neste espaço um nome sobejamente conhecido dos covilhanenses – e não só –, trazendo para a ribalta o amigo Padre Alberto, figura cativante que, com frequência, reúne em tertúlias os amigos e antigos combatentes.

Alberto Matos de Almeida nasceu em 10 de novembro de 1940, em Famalicão da Serra, em plena Segunda Guerra Mundial, marcada pelas suas duras consequências humanas, sociais e políticas. Cresceu num ambiente rural montanhoso: o pai era alfaiate e a mãe dividia o tempo entre a agricultura familiar e as tarefas domésticas. Eram tempos difíceis para a maioria das famílias.

Para prosseguir os estudos, Alberto tinha como única alternativa ingressar no Seminário do Fundão. As mensalidades, bastante onerosas, foram suportadas com a ajuda monetária de um tio. Mais tarde, concluiu o Curso de Teologia no Seminário Maior da Guarda e foi ordenado sacerdote a 28 de julho de 1963, na Sé da Guarda, pelo Bispo D. Policarpo da Costa Vaz.

Foi nomeado pároco de Aldeia do Bispo e Vale da Serra, no concelho da Guarda, cargo que exerceu durante dois anos. Paralelamente, foi revisor de provas do jornal A Guarda e de outras publicações durante sete anos, além de integrar, com o Cónego Norberto, a equipa na Câmara Eclesiástica Egitaniense.

Mais tarde seguiu para a Academia Militar, onde frequentou um curso preparatório para Capelães Militares. Na Guiné, durante a guerra subversiva, chegaram a exercer essa missão cento e dois sacerdotes no Exército, sete na Força Aérea e quatro na Marinha.

O Padre Alberto iniciou a sua missão militar prestando serviço de capelania no Regimento de Infantaria nº. 15, em Tomar. Posteriormente, foi mobilizado para integrar o Batalhão de Cavalaria nº. 2992. Embarcou a 3 de julho de 1970 no paquete Uíge, que, apesar de ter capacidade para 750 pessoas, transportava 1.200 militares em condições precárias. Como recorda: “Éramos carne para canhão”.

Destacado para Piche com o seu Batalhão, o Capelão Militar, Alferes Miliciano Alberto Matos Almeida acompanhou as companhias distribuídas por diversas localidades – Canajá, Canquelifá, Bojocunda, Pirada, entre outras –, numa vasta região de etnia fula, onde a guerra de guerrilha estava particularmente acesa.

Durante dois anos viveu o drama de perder cerca de cinquenta militares em combate, números que espelhavam bem a dureza do conflito. Sobre esta experiência, o Padre Alberto recorda:

 “Não é fácil, em ambiente de guerra, desenvolver uma ação pastoral normal. Queriam dar-me uma arma, mas recusei, porque a minha verdadeira arma era a minha presença com uma viola. Muitas vezes percorri tabancas, abrigos, aquartelamentos e o mato para levar mensagens de fé, esperança, um pouco de alegria e de conforto. Foi uma experiência dolorosa, mas também enriquecedora, pois conheci dificuldades impensáveis, alimentei-me com rações de combate e comi muito arroz com estilhaços de frango. Acima de tudo, convivi com militares, muitos deles casados e pais de família, que viam em mim um suporte psicológico e espiritual.  Estive sempre próximo das suas dificuldades, que também eram as minhas, embora tivesse de as guardar em silêncio.”

A 20 de junho de 1972 regressou à Metrópole, concluída a Comissão Militar, recusando o convite para continuar no serviço de Capelão Militar. Assumiu, então, a paróquia do Canhoso (Covilhã).

Atualmente é Pároco no Teixoso, Sarzedo, Orjais e Verdelhos, onde exerce a sua missão pastoral desde 1995. As comunidades reconhecem-lhe o empenho e o trabalho desenvolvido ao longo dos anos tendo sido homenageado pela União de Freguesias da Covilhã e Canhoso, e, por deliberação de 5 de julho de 2013 a Câmara Municipal da Covilhã atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Municipal – Categoria Prata.

João de Jesus Nunes

*A biografia deste antigo combatente deve-se ao contributo do amigo António Alves Fernandes, a quem o autor agradece.

(In “O Combatente da Estrela”, nº. 140 – OUT/2025)

 

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