2 de outubro de 2025

AUTÁRQUICAS EM MOVIMENTO: AMBIÇÕES, ESTRATÉGIAS E O PODER LOCAL


 

À medida que se aproximam as eleições autárquicas, o país enche-se de cartazes, slogans ambiciosos e promessas renovadas – muitas vezes, apenas recicladas. Multiplicam-se candidatos, todos convictos de possuir a chave para o desenvolvimento local.

Para uns, este é o momento maior da democracia de proximidade; para outros, com natural ceticismo, não passa de um desfile de rostos sorridentes e frases feitas, atrás dos quais se pode esconder o mesmo enredo de sempre – um palco de vaidades e estratégias pessoais, onde os eleitores acabam muitas vezes reduzidos a plateia, em vez de protagonistas.

Curioso é notar que alguns autarcas, impossibilitados de renovar o mandato nos seus concelhos, optam por se candidatar noutras paragens. A geografia política transforma-se, assim, num tabuleiro de xadrez em que o essencial é não perder o lugar de topo. Trocam-se freguesias por cidades, concelhos por vilas, mas permanece a ambição de se manter na ribalta – quase como quem muda de camisola para não sair do jogo.

Não falta legitimidade a quem deseja continuar a servir a causa pública. Contudo, esta “dança de cadeiras” levanta questões inevitáveis: trata-se de vocação ou de carreira? De serviço ou de poder? Em ano de eleições, o eleitorado, tantas vezes esquecido entre mandatos, volta a ser cortejado. Entre promessas e discursos inflamados, cabe a cada cidadão separar o trigo do joio, distinguindo quem de facto se compromete com a sua terra de quem apenas procura mais um degrau na escalada política.

Entre mandatos, o povo é frequentemente esquecido. Mas, quando chega setembro ou outubro, voltam todos a bater-lhe à porta – com um sorriso ensaiado e a mão estendida.

Por isso, é ao a cidadão – o único que detém, verdadeiramente, a chave da mudança – que cabe avaliar com rigor quem se apresenta. É preciso olhar para além dos cartazes, ouvir para lá das promessas e, sobretudo, perceber quem tem obra feita e quem vive apenas de ambição.

A democracia sustenta-se em escolhas conscientes e informadas. As autárquicas são um ato de confiança. Não nos deixemos enganar pela espuma dos dias nem pelo marketing político. No fim, a força da democracia não reside nas cadeiras que alguns disputam, mas na lucidez com que o povo escolhe quem nelas se senta.

Que estas eleições sirvam, acima de tudo, para reforçar a voz dos cidadãos – e não para alimentar vaidades ou perpetuar jogos de poder mais do que alimentar vaidades ou perpetuar jogos de poder. Porque  o verdadeiro protagonista deveria ser sempre o povo: aquele que, em silêncio, decide o rumo das suas terras e confia, a cada quatro anos, que os eleitos honrem o peso do voto que lhes foi dado.

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In Jornal “Cinco Quinas”, Sabugal, de outubro 2025)

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