O futebol português vive, nos
últimos anos, um período de contrastes profundos.
Enquanto o topo da pirâmide
continua a beneficiar da profissionalização, das receitas televisivas e da
crescente internacionalização do mercado, muitos clubes históricos enfrentam
dificuldades significativas para garantir estabilidade competitiva e sustentabilidade
financeira. Entre esses casos destacam-se o Sporting Clube da Covilhã e o
Sporting Clube Olhanense, dois emblemas com passado relevante no panorama
nacional, mas que atravessam atualmente uma fase de clara decadência.
O Sporting Clube da Covilhã,
fundado em 1923 é um dos clubes mais emblemáticos da Beira Interior. Conhecido
como o “Leão da Serra”, o Sp. Covilhã foi, ao longo das décadas, presença
constante na II Liga e somou quinze participações na I Divisão. Contudo, a
quebra de resultados nos últimos anos, aliada a limitações estruturais e a um
contexto municipal e económico menos favorável, empurrou o clube para um ciclo
difícil. A recente queda para divisões inferiores agravou as preocupações quanto
ao futuro do emblema serrano, cujo impacto no tecido social e desportivo da
região continua a ser significativo. O Estádio Santos Pinto, que tantas vezes
funcionou como ponto de encontro da comunidade covilhanense, tem vivido tempos
de menor afluência e menor entusiasmo.
Situação semelhante vive o
Sporting Clube Olhanense, fundado em 1912, permanece na história como o
terceiro campeão nacional, título conquistado em 1924. Durante décadas foi um
dos principais representantes do futebol algarvio, com presenças regulares nos
campeonatos nacionais e um importante papel na formação de jogadores. Porém,
nos últimos anos, o clube tem enfrentado dificuldades que vão desde problemas
de gestão a instabilidade financeira. As descidas sucessivas de divisão, a
irregularidade de resultados e a perda de competitividade colocaram o emblema
de Olhão afastado dos palcos onde habituou a figurar. O Estádio José Arcanjo,
outrora palco de grandes jornadas, tem recebido cada vez menos público, num
reflexo direto das fragilidades que marcam o atual momento do clube, que chegou
a desaparecer e renasceu agora das cinzas.
Estes dois casos, embora
distintos nos detalhes, evidenciam problemas comuns ao futebol regional e
tradicional português: modelos de financiamento desatualizados, dependência excessiva
de apoios públicos, dificuldades em atrair patrocinadores, ausência de
infraestruturas modernas e a incapacidade de reter jovens talentos que
rapidamente procuram clubes mais estruturados. A discrepância entre os grandes
centros urbanos e as regiões periféricas torna-se cada vez mais evidente, com
impacto direto na competitividade dos clubes.
Num cenário em que o futebol
nacional se torna cada vez mais centralizado e dominado por grandes estruturas
empresariais, os clubes históricos de média e pequena dimensão enfrentam um
verdadeiro “fora de jogo”. O espaço mediático diminuiu, a capacidade de geração
de receitas é limitada e a pressão competitiva aumenta. Ainda assim, a
importância social destes clubes permanece inquestionável: são polos de
identidade, formação, convívio e memória coletiva.
Tanto o Sporting da Covilhã como
o Sporting Olhanense procuram agora soluções que permitam estabilizar e
reconstruir. Reestruturação financeira, reorganização interna, aposta na
formação e maior envolvimento da comunidade são caminhos apontados por especialistas
e dirigentes desportivos. A cooperação com autarquias e parceiros locais
continua a ser essencial para garantir a continuidade dos projetos desportivos,
num contesto em que a sustentabilidade é cada vez mais difícil de alcançar.
Num momento em que o futebol
português reflete sobre o seu futuro, é fundamental que os clubes históricos
não sejam esquecidos. Representam décadas de contribuições para o desporto
nacional e continuam a desempenhar um papel relevante na coesão das suas comunidades.
A crise que atravessam deve servir como alerta para a necessidade de políticas
desportivas mais equilibradas e de estratégias que valorizem a base do futebol,
evitando que emblemas emblemáticos caiam definitivamente no esquecimento.
Entre a grande penalidade da
pressão económica e o fora de jogo da perda de competitividade, Sp. Covilhã e
Sp. Olhanense continuam a lutar por um futuro digno da sua história. E o
futebol português, se quiser preservar a sua identidade, terá de olhar mais
atentamente estes clubes que, apesar de dificuldades, permanecem símbolos vivos
de dedicação e resiliência.
Feliz Natal e um Próspero Ano
Novo.
João de Jesus Nunes
(In “Jornal Fórum”, de 18-12-2025)


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