Umas brevíssimas férias. Suficientes para um descanso da mente, e do espírito. Importantes para a leitura mais atenta dos jornais, sem ser em diagonal. Até os desportivos tiveram lugar. Também altura propícia para devorar um livro, que, por esquecimento, não foi na bagagem. Veio mesmo a calhar – uma Feira do Livro – no aprazível local, e, como opção, uma obra de Eduardo Prado Coelho. As páginas apenas seriam interrompidas pela notícia do cachalote jovem que veio morrer à costa. Fotos para a posteridade.
E, nesta silly season, até ao momento de redigir esta crónica, não havia notícia de medalhas oriundas de Pequim para os “nossos”(veio a “prata” para Vanessa Fernandes, já depois do texto pronto); mas, isto de medalhas, de lata, dois “vencedores” indiscutíveis: para o ciclista Sérgio Paulinho, mesmo sem ter daqui saído, face à sua idiotice pela não participação e pelo timing do anúncio de ausência, em cima dos Jogos...; e para o lançador de peso, Marco Fortes, afirmando, após o seu insucesso, por ter participado de manhã, que, para ele, “de manhã só é bom na caminha”. Que foi então fazer a Pequim, para além de gastar o dinheiro dos contribuintes? Isto é mesmo uma risada.
De regresso à minha cidade, duas notícias, – uma de memorização – paradoxais.
O Martinho Marques recorda no JF o José Manuel Riscado Pereira Monteiro – o Zé Manel Riscado – do tempo da Escola Industrial, e das suas facetas no seio empresarial da Covilhã. O irmão, o João, foi meu colega de turma no Ciclo Preparatório. Moravam inicialmente na Rua Vasco da Gama, em frente à Creche do Menino Jesus. O Zé Manel Riscado era o mais velho e acabou o Curso Geral do Comércio mais cedo. Gostava de conversar. Certo dia dei-lhe conta que, no meu primeiro emprego, o Rui Mateus (aquele do “caso Melancia”, em Macau) ia lá semanalmente fazer umas traduções de inglês; O Zé Manel Riscado, interessado, informou-me que era esse trabalho que exercia no seu emprego, ou empregos.
Depois, volvido algum tempo, surge como um relâmpago, envolvido em empresas, algumas que, com ele, tiveram a sua génese, e que, para a época, foi estranho o rápido sucesso. Falava-se no envolvimento de personalidades, desde gerentes bancários a secretários de Estado. Quando a “coisa” começou a dar para o torto, vieram algumas notícias denunciadoras da situação estranha das suas empresas. Recordo no extinto semanário “Actualidades” (saía, salvo erro, aos sábados) a notícia de muitos telefones a serem atendidos pelo Zé Manel Riscado, no seu escritório, com grandes subterfúgios. A última vez que o vi foi de papillon, num Mercedes, conduzido pelo seu motorista, aquando da inauguração das instalações do Banco Borges & Irmão, na Covilhã. O seu problema talvez fosse, como alguém afirmou, que “o intelectual era aquele que pensava que aquilo que já tinha sido pensado não tinha sido ainda suficientemente pensado”.
De forma antagónica, uma outra personalidade – António dos Santos Lopes – surge actualmente no meio, com uma outra dinâmica empresarial, ponderada, granjeando assim, há muito, duma grande respeitabilidade face às suas origens de operário, sindicalista, das Minas da Panasqueira, e, actualmente, empresário de sucesso, sem contestação.
Na Madeira e no Brasil, a sua acção de grande empresário deu-lhe oportunidade de ver o seu trabalho compensado, para, não só na Covilhã, poder dar lugar, com a parte financeira conseguida, com inteligência, à aquisição de empresas que pretende revitalizar, na ajuda ao associativismo e à solidariedade.
A sua personalidade de Homem de uma seriedade e dinâmica incontestáveis, pessoa de bem, já o levaram a ser condecorado, por duas vezes, no Brasil; a ter o nome numa das ruas da sua Terra, que não é a Covilhã; a ser nomeado sócio benemérito do Sp. Covilhã; entre outras distinções que não quer informar.
Aos bombeiros covilhanenses ofereceu uma ambulância, e ao SCC a Sede que irá surgir na oportunidade.
Por isso, tenho que me socorrer duma das obras de Eduardo Prado Coelho, referindo assim que “não há correspondência entre o querer-dizer e o dizer. Ao querer-dizer deve corresponder um trabalho de manifestação e de expressão. E é neste intervalo que se introduzem todas as inadequações e derrapagens. Como se insinua numa canção de Marisa Monte, “eu não sei dizer/o que quer dizer/o que vou dizer”.
“O que quis dizer ao dizer o que disse” é tão só para que não haja comparações entre as duas personalidades – distantes no tempo – porquanto a primeira semeou o trigo e deixou ficar o joio, que se inseriu em si próprio; e, a segunda, pretende desde já afastar o joio da sua sementeira, como é agora o caso recente que se passa com a empresa Fiper e o calote do Estado.
In Notícias da Covilhã de 21/08/2008
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