Neste número trazemos a este
espaço um antigo combatente cujo cariz peculiar é a alegria com que se depara
perante os amigos. Naquele adjetivo, ou locução francesa que se designa por um bon vivant.
Duma família de quatro irmãos,
todos conhecidos da Cidade onde nasceram – os Martinho Marques –, é do Rui que
esta pequena estória da história dos antigos combatentes, cuja rubrica foi
criada para memória individual de factos das suas passagens pelas antigas
colónias, vamos tratar.
Nasceu na Covilhã, na freguesia
de Santa Maria (bastou para isso vir ao mundo no antigo Hospital da Santa Casa
da Misericórdia da Covilhã), no primeiro dia do mês de dezembro do ano da graça
de 1950.
Tendo frequentado o curso geral do comércio na então Escola Industrial e Comercial Campos Melo, dispersaria, no entanto, o seu tempo de estudante e não o acabaria por concluir. Mas, como ocupações profissionais, teve uma mão cheia delas. Na Covilhã teve o seu primeiro emprego na Casa Ilídio, seguindo-se no escritório da fábrica de pastéis, a S. Silvestre, de Artur Almeida Campos. Os ventos voltam-no para trabalhar na Companhia de Seguros Tranquilidade, mas logo a seguir, num estabelecimento comercial de fazendas, de José Garrido dos Santos. Não fica por aqui, e é o estabelecimento comercial de Camolino & Cª que lhe dá seguimento à sua vida profissional, sempre naquela de jovem folgazão, seguindo-se um novo estabelecimento comercial de fazendas – Gomes & Cª., até que vem experimentar nova vida noutro estabelecimento comercial da Cidade – os Lanifícios Montestrela.
Chega a altura do serviço militar
obrigatório, pelo que é incorporado no Exército. Assentou praça no Regimento de
Infantaria 7 (RI 7), em Leiria. Destinava-se ao curso especial de Sargentos
Milicianos. No entanto, como bon vivant em ambiente de tropa (não sendo
lá muito aconselhável), viria a ter alguns sobressaltos que para o Rui pouco
significado tinham, face à sua peculiaridade de vida.
Do RI 7 desenfiou-se para casa, na Covilhã, com um camarada que o ficou de ajudar… mas, como ficou mais de três dias ilegalmente, a pena de 15 dias de prisão disciplinar agravada que o Rui não se importa de aqui relatar, aconteceu. Estava ainda no período de recruta, sendo então enviado para Coimbra para aí cumprir a pena. Só que daqui transferiram-no para Faro. Regressaria ao RI 7, em Leiria, onde aqui fez o Juramento de Bandeira.
Entretanto, em Coimbra, onde
começara a cumprir o castigo imposto, no Regimento de Serviço de Saúde, tirou a
especialidade de Enfermeiro. Depois da passagem por Faro, ainda esteve nas
unidades militares de Elvas, Évora e Santa Margarida.
Em Santa Margarida foi mobilizado para Angola, onde esteve de 1971 a 1974, integrando a Companhia CART 3516. Foi de avião com a Companhia até Luanda, ficando em Grafanil durante 8 dias. Seguiu para Bessa Monteiro. Aqui esteve durante 18 meses. É então que segue para Quimaria norte, onde completou o tempo de serviço militar.
Durante toda a comissão de
serviço em Angola tiveram dois ataques, na Pedra Verde, tendo morrido um
soldado e dois feridos.
E em 30 de maio de 1974, já depois do 25 de Abril, regressou à Metrópole, também de avião.
Retomando a sua atividade
profissional, em Portugal, foi funcionário do Banco Borges & Irmão, em
Coimbra e depois na Covilhã, onde se aposentou.
Tem uma filha e um filho, e é
divorciado. Vive atualmente nas Penhas da Saúde – Serra da Estrela.
(In "O Combatente da Estrela", n.º 120, de setembro 2020)
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