25 de setembro de 2020

E. M. DE MELO E CASTRO, O AUTOR COVILHANENSE QUE FEZ EMERGIR A POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA


 Residia no Brasil e tinha 88 anos. O poeta covilhanense, escritor, ensaísta, precursor da Poesia Concreta Experimental e Visual em Portugal faleceu em São Paulo na noite de 29 de agosto.

E. M. de Melo e Castro, como assinava, era uma figura multifacetada, autor de uma obra caraterizada pela construção de experiências com vários materiais e vários média, tendo a sua ação sido particularmente marcante na emergência da poesia experimental em Portugal.

Filho de Ernesto de Campos Melo e Castro, antigo diretor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo da Covilhã, onde ambos foram professores, sua mãe era Maria Gonzaga de Campos e Melo Geraldes, tinha duas filhas, Eugénia de Melo e Castro e Alberta Melo e Castro. Foi casado com a conhecida escritora e poetisa Maria Alberta Menéres, com grande obra infantojuvenil, que, com ele organizou a “Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa”.

Licenciou-se em Engenharia Têxtil pela Universidade de Bradford (1956); terminou o doutoramento em Letras pela Universidade de São Paulo (1998). Foi professor no Instituto Superior de Arte, Design e Marketing (IADE) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.

A sua prolífera atividade artística foi apresentada em numerosas exposições coletivas, em Portugal e no estrangeiro.

Sobre esta figura ímpar covilhanense, de grande projeção no País e Brasil foi, como atrás referimos, professor na Escola Industrial e Comercial da nossa geração, nos anos sessenta. Daí que alguns dos seus antigos alunos promoveram com ele um convívio na Senhora do Carmo – Teixoso, de feliz memória para  todos, pelo que insiro o texto que publiquei sobre este evento nalguns periódicos, evento este realizado em junho de 2015 e do qual recordou aquando da homenagem que lhe foi efetuada pela  edilidade covilhanense em maio de 2016, informando-me que duma recolha de memórias que estava a preparar contava inserir o texto abaixo.

 “SAUDADE E AMIZADE DE MÃOS DADAS (1)

Pois é, também lá estive!... Neste matar de saudades de outros tempos – os da então Escola Industrial e Comercial Campos Melo – fábrica do ensino para muitos obreiros da indústria rainha de então – os lanifícios, nesta Terra – a minha Covilhã – daquela têmpera forte de Viriato, dos Montes Hermínios!

Havia lido algures que antigos alunos da Escola Campos Melo, onde o Engº. Ernesto Manuel Melo e Castro lecionou iam confraternizar com ele, vindo do Brasil, num almoço-convívio, ali para as bandas do Teixoso.

Inscritos eram só os alunos dos Cursos Técnico de Tecelagem e Debuxo… mas, qual “intruso”, cabia-me fazer o papel tipo “Crónica dos Bons Malandros”, de Mário Zambujal, já que eu era do Curso Geral do Comércio, e, desta vertente, fui o único presente na confraternização, participando também da felicidade dos outros antigos colegas.

- “Trouxeste a máquina fotográfica?” Logo na minha receção, a voz do Gregório Menina, que isto de ajudar na entrada lá estava o João Lázaro, o pequeno grande jogador dos tempos dos Leões da Serra… que outro, também tendo envergado a camisola verde-branca, briosamente, estava lá dentro – Jorge Cipriano, vindo do norte.

Os cumprimentos na mistura de alguma curiosidade lá prosseguiam: à entrada, sentado já estava o poeta, escritor, mas antes o antigo professor de debuxo, junto de sua filha Maria Alberta; e, com orgulho do seu professor, o Américo Maceiras Caetano, promotor da iniciativa, que veio de Vila Nova de Famalicão, lhe mostrava o seu 1º. Livro de Debuxo.

- “Olha o Aníbal Gonçalves, do Retaxo!” “E tu, quês és?” “O Neto”. “Eh! Pá, desculpa que não te conhecia, és o Olívio Costa Neto!”

As entradas, o bom vinho da região… e, não faltou o belíssimo pão-de-ló.

José Esteves Patrocínio veio de Torres Vedras; e, enquanto o Ferreira Andrade me mostrava umas fotos antigas, de antigos colegas do 2.º ano do Curso Técnico de Tecelagem, em conversa com o Jorge Almeida, entrava o também antigo professor, Engº. César Oliveira, que fôra colega do homenageado.

João José Milhano recordava os tempos de meu vizinho, junto à Escola Industrial, e, sequenciando, chegavam outros, ou já entre si cavaqueavam, entre eles, o Cravino, Carlos Gouveia, Jerónimo Serra, António Nave, João António Coelho.

Já havia chegado o Rui Pereira, com o filho, quando se avista o Jorge Trindade e o Castro Martins; da Figueira da Foz não quis deixar de estar presente o Jorge Correia, acompanhado da esposa. Eram mais de três dezenas, onde estava também o Mangana e o Prof. Dr. Santos Silva.

Na altura do café, eis que o José Rosa Dias, da organização, dita de sua justiça: vão falar, em nome dos antigos alunos, o Américo Maceiras Caetano; em nome dos antigos professores, o Engº. César Oliveira; e encerra o Engº Ernesto Melo e Castro.

Neste feliz encontro de antigos alunos do curso de Debuxo da Escola Industrial da Covilhã, como abreviadamente era conhecida, com os seus antigos professores de Debuxo, atrás referidos, num almoço muito bem servido, a festa foi permanente, na recordação de tempos idos, no matar de saudades.

Maceiras Caetano agradeceu a presença de todos; o Engº. César Oliveira recordou a sua passagem por Bradford na mesma altura do Engº. Ernesto Melo e Castro, em 1956, altura em que conheceu Ernesto Melo e Castro, tendo este o ajudado a adaptar-se à nova realidade, uma vez que havia vários alunos da Covilhã e ele era o único de Lisboa.

No encerramento das breves palavras dos oradores, falou o Engº. Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro (que vai a Itália participar num encontro de poetas), informando que, estando no Brasil, ficou muito sensibilizado por ter sido convidado para este almoço de confraternização, recordando que no período que exerceu a sua missão docente na Escola Campos Melo formou 143 debuxadores, também ele tendo aprendido ao longo desse tempo a ser cada vez melhor, tanto na área do debuxo como na área das letras: “Estava deprimido face a um grave problema de saúde, e dizia: o que é que eu agora faço? Vou ao Teixoso estar com os meus amigos. Vocês não foram os meus únicos alunos, foram os primeiros!” E falando sobre os tecidos, que têm vida, concluiu: “O tecido é uma metáfora da vida”.

Recordou ainda, nestes ambientes de repasto, o que dizia o professor de Religião e Moral, Padre Joaquim Santos Morgadinho, do seu tempo: “Tudo estava muito bom, mas o melhor prato foi o da confraternização”.

Por fim terminou: “Orgulho-me de ter sido vosso professor! Estou muito feliz!”

E, de facto, também todos saíram deste convívio, muito alegres, muito felizes.”

 

 (1) 



Deste convívio, para além do Eng.º Ernesto Manuel de Melo e Castro, também já faleceram os antigos Colegas Castro Martins, Gregório Menina, Jorge Correia, José Cravino e Aníbal Gonçalves.


(In "O Combatente da Estrela", nº 120, de setembro 2020)


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