17 de setembro de 2020

HISTÓRIAS PARA CONTAR EM REMINISCÊNCIAS PARA PERDURAR

 

Inserem-se na envolvente da vida daquele cidadão que, cruzando vários caminhos, encontrou um deles comum na sua perenidade.

Desde criança que via nas portas exteriores das casas, principalmente no meio rural, umas chapas metálicas, redondas ou retangulares, com o nome de companhias de seguros. Era sinal indicador de que aquele imóvel se encontrava seguro contra incêndio. Os meus avós lá tinham um da Europêa, muito para além depois de falecerem. (1)

Um senhor, de pasta na mão, anualmente ia cobrar a meu pai o seguro de incêndio do seu recheio de habitação, na Companhia de Seguros O Alentejo.

Anúncios luminosos acrílicos ou de outro material, na sua publicidade muitos deles significativos, como o das figuras do cão (Fidelidade), águia (Açoreana e a  A Mundial), Nuno Álvares (O Alentejo); outros muito sugestivos (A Pátria, Aliança Madeirense, Atlas, Bonança, Comércio e Indústria, Douro, Europêa, Mutualidade, A Nacional, Portugal Previdente, Sagres, A Seguradora Industrial, A Social); ou com o homem de negócios representando a Império; ou  D. Afonso Henriques, na Ourique; ou ainda uma caravela representando a Sociedade Portuguesa de Seguros; como a abelha representando a Companhia de Seguros O Trabalho, e, como não podia deixar de ser, o leão, na Companhia de Seguros União. Estas, uma pequena amostra, sem nomear as estrangeiras. Todas já desapareceram por encerramento ou fusão com outras, encimando-se ou lateralizando-se em posições estratégicas de estabelecimentos comerciais e edifícios.

Também a Covilhã teve a sede da Companhia de Seguros A Beira, fundada em 1918, na Praça do Município, nº 30, passando em 1922 a sede social para Lisboa, na Travessa da Espera, nº 8-2º. Explorava os ramos de Incêndio e Transportes. No ano de 1924 foi objeto de penhora e extinta.

Quando estudava lá vinham os seguros na disciplina de Direito Comercial, mas que, para mim, longe de um dia via a abraçar esta atividade de alto prestígio e de enorme importância para a economia do País e do Mundo, passava-me ao lado para além da memória dos símbolos referidos e de quando em vez por via de um sinistro de automóvel em que a polícia tinha que intervir em divergências de assunção de responsabilidade quando nessa altura ainda não havia seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.

E em alguns fogos em habitações, que atingiam por vezes palheiros e estábulos de animais, mas longe da existência anual de época de incêndios florestais (o que era isso nessa altura?), lá surgiam as exclamações “tinha seguro” ou “não tinha seguro”, que se reportava exclusivamente ao de incêndio, pois que nas décadas de 50 e 60 do pretérito século ainda eram inexistentes os hoje “modernos” seguros multirriscos.

Vim a abraçar esta atividade como profissional na sua profundidade durante quatro décadas e ainda hoje, longe dessas responsabilidades, sou um apaixonado pela mesma.

Já retirado destas lides, um amigo de prestígio nacional, pediu-me para escrever a história desta atividade quando ela já estava contada, em diversas obras, por autores consagrados. Numa aventura desmedida comecei a entrar em buscas por caminhos, veredas e estradas mais acessíveis e lá saiu a obra, talvez um tratado de seguros, O Documento Antigo – Uma Outra Forma de ver os seguros – já em mais de centena e meia de bibliotecas municipais e instituições do País.

Deste vasto preâmbulo resulta na alegria de ver criado o Museu do Seguro que foi sempre um objetivo muito presente desde 2011, por iniciativa de uma dezena de pessoas ligadas profissionalmente a empresas de seguros, que teve em mente e o levou por diante até à sua concretização. Integram o Clube CHAPAS (Clube, História e Acervo Português da Atividade Seguradora). Se falei na alegria que senti, a coincidência é que o principal mentor e dinamizador deste Museu é o presidente do Clube CHAPAS e quadro superior da Fidelidade, Dr. Victor Alegria.

No entanto, a alma seguradora das gentes desta gente, levou à fundação do Museu Virtual do Seguro (MVS), mesmo em tempo pandémico, que ocorreu em 6 de agosto de 2020, contando, em apenas três semanas cerca de 5000 visualizações. Já existe o Museu físico em Lisboa, com exposições permanentes.

No entanto, “A criação do Museu do Seguro foi sempre um objetivo muito presente desde 2011, pela importância em divulgar a coleção que possuímos, e contar as suas histórias. Em setembro de 2017 a Associação Portuguesa de Seguradores (APS) e o Clube CHAPAS celebraram um protocolo de colaboração no âmbito da “exposição permanente” denominada “Memória do Seguro”, a instalar na sede da APS, a qual foi inaugurada em maio de 2019, e designada EPMS-Exposição Permanente Memória do Seguro. Até março de 2020 foram realizadas centenas de visitas guiadas à EPMS, sendo que por força da pandemia Covid-19 o espaço foi encerrado temporariamente”, informou numa entrevista ao jornal online ECO o Dr. Victor Alegria.

Os mais de 4000 itens da coleção destacam-se pela sua originalidade e revestem-se de inegável interesse histórico, evocando diversos aspetos da história do seguro, constituindo, desta forma, uma fonte importante para o estudo e compreensão desta atividade, refere ainda o mentor do MVS.

Pela minha parte, já entreguei naquela instituição diverso material alusivo à atividade, mas os responsáveis continuam a solicitar que lhes façam chegar documentos, peças e as histórias para memória futura.

 

 

(1) Esta chapa, já oxidada, da Companhia Europeia de Seguros, esteve colocada durante mais de setenta anos, na casa de que o signatário é um dos herdeiros, e que ali permaneceu durante o tempo dos seus avós, na Pousadinha (Covilhã), ininterruptamente, na porta exterior do prédio. Foi oferecida ao Museu dos Seguros.

(In "Jornal fórum Covilhã", de 16-09-2020)





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