Trago à memória dos que gostam
destas “coisas” do passado, um pouco sobre o tema que reporto. Para que não se
esfumem as estórias das nossas histórias de vida, autênticas narrativas que o
tempo acabará por encobrir.
O ensino de hoje é diferente,
cada vez mais científico, envolvido pelas tecnologias que vão emergindo
constantemente.
O ensino de antigamente,
sensivelmente até à década de sessenta, apoiava-se na memorização das matérias
e, por imposição do regime de então as figuras notórias da nossa História eram
empoladas escondendo as suas vivências nem sempre exemplares como agora se
sabe.
As várias disciplinas do
currículo de então obrigavam as crianças a um esforço de memória dos rios às
serras, passando pelas ferrovias até das colónias ultramarinas.
De um modo geral havia bons professores alguns de excelência e, neste quadro, na minha quarta classe frequentada no Asilo – Associação Protetora da Infância da Covilhã – tive a felicidade de ter o professor José Eduardo Santos Tendeiro que habilmente ia “ignorando” alguns exageros nacionalistas sem contudo desprezar a preparação para o exame da quarta classe que, à luz de hoje era uma “barbaridade” e preparar alguns de nós para o exame de admissão ao liceu e escola industrial e comercial, outro tormento para crianças de dez anos.
Por felicidade de ambos, ainda convivo com o meu antigo professor da quarta classe, que tive em 1957/58, José Eduardo dos Santos Tendeiro, hoje com 82 anos. Natural de Elvas veio para a Covilhã onde exerceu a sua missão de professor no Asilo – Associação Protetora da Infância, onde eu andava. Depois voou para outros destinos, incluindo o serviço militar em Angola, nos primórdios da guerra, tendo sido chamado por duas vezes. Casou com uma colega e radicou-se na Covilhã.
Nunca mais nos havíamos
encontrado até que em agosto de 1995, numa viagem a Itália, fui encontrá-lo
como companheiro de viagem, tendo-lhe memorizado a minha presença na qualidade
de seu antigo aluno. Quase quatro décadas sem darmos conta um do outro.
A partir deste feliz encontro, cimentámos uma real amizade, e daí o início de participações em interessantes ações culturais, numa colaboração mútua, quer por via do órgão do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, quer em publicações e eventos culturais comuns.
De extraordinária simpatia,
num trato invejável, procurei na sua pessoa as opiniões julgadas necessárias
para alguns dos meus trabalhos, onde teve um cunho marcante de intervenção. Isto
porque encontrei aquele professor de outros tempos, de excelência.
O professor J. Eduardo Tendeiro teve os primeiros prémios literários com trabalhos para a Semana das Colónias e para a celebração escolar no dia 10 de junho. Posteriormente foi distinguido em Jogos Florais dos quais destaca os “Jogos Florais Luso-Brasileiros”.
Exerceu funções de inspeção integrado por concurso no Quadro Superior da Inspeção-Geral de Educação até à sua aposentação, tendo anteriormente lecionado nos primeiro e segundo ciclos do ensino oficial e participado em experiências do ensino programado. Cooperou em atividades da Telescola como Assistente das classes que tinham proliferado pelo País.
Chamado de novo às fileiras do Exército em 1961, frequentou o estágio de Caçadores Especiais no Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) em Lamego e integrou a Companhia de Caçadores Especiais n.º 306 com destino a Angola, onde chegou a 12 de maio de 1962, seguindo para o norte da “província”. Aí, durante cerca de um ano, enquanto sargento de transmissões, foi anotando vivências suas e relatos dos companheiros de armas que mais tarde lhe serviram de base para a compilação de episódios com a tónica posta no stress dos combatentes que se prolongou muito para além do fim da guerra. Daqui viria a publicar, em julho 2017, o livro “Danos Colaterais”.
Colabora pontualmente nas revistas “Combatente”, “O Combatente da Estrela”, edição do Núcleo da Covilhã; teve participação na coletânea “A Mulher Portuguesa na Guerra e nas Forças Armadas”, edição da Liga dos Combatentes – 2008 e na edição da Quidnovi “Guerra Colonial – A História na Primeira Pessoa” (2011). Escreve ainda na Revista da Academia Sénior da Covilhã da qual é Sócio Fundador, agraciado com Diploma de Sócio de Mérito.
(In "Notícias da Covilhã", de 17-09-2020)
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