Embora abrandando, ainda são tempos
difíceis os que estamos atravessando. Muitas famílias cruzaram-se com períodos
longos de sofrimento. Também muitos de nós vivemos momentos de angústia. O medo
de apanhar a Covid 19. O stress. Através da Fundação Portuguesa de Cardiologia,
o Professor Doutor Mário Simões deu conselhos muito apropriados, salientando
que o stress começa logo nas nossas casas com as notícias mais do mesmo. Que
“viver no medo de apanhar a doença aumenta mais a probabilidade de a apanhar”. Num
país em que passámos dos oito aos oitenta, estamos agora a recompor-nos desta
situação anómala, porque pensámos em determinada altura que eram águas
passadas.
Neste confinamento em que,
pela segunda vez, somos forçados, parece-nos ter começado uma proximidade mais
benévola, onde continuam privilegiados os telefonemas e os meios da tecnologia
digital.
Felizmente que o modo de dar
as notícias da pandemia, duma forma sensacionalista, por alguns canais
televisivos, tiveram no bom senso de alguns dos seus “atores” a maneira de as
alterarem para uma informação em termos normais, sem ênfase.
Uma curiosidade neste tempo
pandémico, por cá, foi um “surto” linguístico que surgiu, pois passou a
ouvir-se dizer vácina em vez de vacina, entre outras palavras. Ouvimos isto nas
televisões, por pessoas de vários quadrantes: alguns jornalistas, médicos,
comentadores e até governantes. Mesmo não sendo estes personagens nortenhos ou
brasileiros, onde aqui se poderia aceitar a forma regional de pronunciar esta
palavra.
De tanto se falar em vacina, e
dos factos que com a mesma têm ocorrido, leva-me ao tempo em que andava no
ensino secundário e estudei química. É que, nestes últimos tempos que estão a decorrer,
alguns senhores e senhoras com responsabilidades em vários lugares mais ou
menos destacados ao serviço do país, em diversas instituições, aqui e ali, como
que adotaram a Lei do grande Lavoisier, numa interpretação personificada nos
seus interesses, ou seja, que, de facto, “na natureza nada se cria, nada se
perde, tudo se transforma”.
Foram aquelas vacinas que
sobrevoaram para os que estavam fora do que seria normal as não virem receber
agora. Porque outros, na ordem lógica para serem vacinados face à perigosidade por
força das suas profissões ou idade, devido à sua aplicabilidade indevida, foram
preteridos. Ficam agora os infratores em foros de processos disciplinares e
crime.
Nada se criou de oportunidade
para os casos mais urgentes, nada se perdeu de encontrar ali uma ocasião
favorável para os interesses pessoais, e tudo se transformou para os
iluminados, naquela de chico-espertismo, que procuram agora, entre a peta e a
desculpa, sair da encruzilhada em que se meteram.
Que a justiça não deixe de julgar estes casos insólitos. É que isto
merece uma reflexão e envergonha-nos. “Não é só a imunidade que falta entre os
portugueses. A muitos falta um maior humanismo, um sentido do dever cívico e
uma crença sincera de que se pode ser maior a servir o outro”, nesta sociedade
cada vez mais egoísta.
(In "Notícias da Covilhã", de 18-02-2021)
Sem comentários:
Enviar um comentário