Jorge da Costa nasceu em
Alpedrinha, concelho do Fundão. Reinava em Portugal D. João I. E, entre os
cristãos, mandava o Papa Gregório XII. Era filho de um almocreve e caseiro duma
quinta chamada da Costa, da qual Jorge (inicialmente Jorge Martins), tomou o
nome, seguido por toda a família. A mãe era forneira. Foram quinze os seus irmãos,
todos vindos ao mundo no seio de uma
família humilde. Em Alpedrinha e terras vizinhas da Beira Baixa contava-se, ao
lume das lareiras, que era filho de gente pobre, labutando no dia a dia na sua
vida dura e amargurada. Alguns vieram a ter lugares importantes na Igreja, tal
como Jorge, o de maior relevo. Partiu ainda muito novo para Lisboa, tendo sido
acolhido no hospital de Santo Elói, onde estudou Latim, Filosofia e Teologia.
Foi importante a ajuda dum seu parente, o padre João Rodrigues que, admirado da
sua perspicácia, o levou a Lisboa, ingressando-o no colégio que ele dirigia. Sendo
muito inteligente, depressa se evidenciou.
Seguindo a vida eclesiástica, teve
uma ascendência fulgurante na hierarquia da Igreja, tendo ainda estudado em
Paris. Foi também diplomata e mestre da Infanta Dona Catarina, a filha mais nova
do rei D. Duarte, em 1445, e, portanto, irmã de D. Afonso V.
A sua longa vida, de 102 anos,
levou-o a passar por cinco monarcas: D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João
II e D. Manuel I; e uma dúzia de Papas: Gregório XII, Martinho V, Eugénio IV,
Nicolau V, Calisto III, Pio II, Paulo II, Sisto IV, Inocêncio VIII, Alexandre
VI, Pio III e Júlio II.
O Papa Alexandre VI deu-lhe o
governo de toda a Igreja Portuguesa e D. Jorge passou a ser, ao mesmo tempo, Arcebispo
de Braga, de Évora, Bispo do Porto, de Viseu e de Ceuta, oito abadias de São
Bento, dez priorados de Santo Agostinho, seis abadias de São Bernardo,
contando-se a de Alcobaça, além de sete deados e chantrados portugueses, o de
Burgos, em Espanha, três bispados italianos e outras benesses, conseguindo, ao
logo da sua vida, uma imensa fortuna. Foi ainda administrador das arquidioceses
a partir de Roma.
Portanto, o Cardeal de Portugal,
Cardeal de Lisboa ou Cardeal de Alpedrinha personifica, como mais ninguém, o
magnata eclesiástico, pleno de benefícios, favores e honras. No entanto, serviu
com a dignidade de cardeal os últimos cinco papas já referidos, sendo que foi
Sisto IV que o nomeou Cardeal em 18 de dezembro de 1476, sendo conhecido pelo
Cardeal de Alpedrinha.
Ia de sucesso em sucesso, firmando
posição no seio de esferas dirigentes. Foi confessor, conselheiro e embaixador
de D. Afonso V e acompanhou este monarca nas conquistas de Alcácer Ceguer,
Tânger e Arzila. Houve uma grande cumplicidade com este rei, colocando-se desde
logo ao seu lado na luta de D. Afonso V com seu tio, o regente D. Pedro, tendo
este vindo a falecer na batalha de Alfarrobeira, em Alverca, em 20 de maio de
1449. D. Jorge da Costa tornou-se um homem imprescindível para o monarca, tendo-lhe
este concedido vários títulos e honrarias, entre as quais as de Arcebispo de
Lisboa.
Já as relações de D. Jorge da
Costa com o rei D. João II foram bastante complicadas. Valeu-lhe, em 14 de
junho de 1480 partir para Roma. O Cardeal de Alpedrinha opôs-se sempre à
pretensão do Rei D. João II em concentrar os mestrados na pessoa de D. Jorge,
seu filho bastardo, como primeiro passo para a entrega da própria coroa. Isto
aconteceu depois da morte do Infante D. Afonso, aos dezasseis anos, num
desastre com o seu cavalo. Era o herdeiro legítimo à coroa e estava casado com
D. Isabel de Castela. Pode-se afirmar que D. Jorge de Lencastre, bastardo, só
não foi rei porque D. Jorge (Cardeal) o não consentiu. Daqui se infere a
importância que este personagem teve em Portugal. Quase se pode dizer que D. Jorge
da Costa decidiu dos destinos de Portugal. Sem esquecer os seus predicados
diplomáticos que foram aproveitados na gestão do Tratado de Tordesilhas, com
forte influência do Cardeal junto do Papa Alexandre VI, que o tinha em muita
consideração.
D. Jorge da Costa acabou por
endereçar cartas de consolação ao rei D. João II, à rainha D. Leonor e à
princesa-viúva, D. Isabel, no falecimento do príncipe D. Afonso.
(In "Jornal fórum Covilhã", de 10-02-2021)
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