Esta é uma efeméride memorável
para os portugueses, causa que corresponde a meio século de democracia.
Só quem passou pelos negros
tempos da ditadura, sabe avaliar o quão importante é esta data.
Foram longos períodos de
sofrimento, anos, que muitos dos que hoje se aproveitam dos momentos que correm
de liberdade, esta que eles jamais souberam apreciar, comparativamente com
guerras fratricidas entre portugueses, sem distinguir cores, não sabem, ou não
querem saber do que falam da intimidade daqueles tempos vividos na miséria em
vários quadrantes.
Há dois anos, mais precisamente
no dia 23 de março de 2022, foi o dia em que o tempo vivido em democracia se
equiparou ao tempo em que os portugueses viveram em ditadura, ou seja: 17.499
dias. Penso já ter falado deste assunto.
Naquela data, a jornalista do Público,
Leonete Botelho, titulava o seu artigo: “50 anos do 25 de Abril: uma
cápsula do tempo que se fecha e outra que se abre”. “Hoje é o dia em que
vivemos tanto tempo de democracia como Portugal viveu em ditadura durante o
Estado Novo. E o dia em que começam as comemorações oficiais dos 50 anos da
Revolução do Cravos, com um programa em construção e os olhos postos no
futuro”.
Os 60 anos da crise académica de
1962, quando o Estado Novo proibiu as Comemorações do Dia do Estudante, comemoraram-se
também há dois anos, no dia 24 de março. Aquele que chegara a ser um dos Presidentes
da República em Portugal, em democracia, Jorge Sampaio, que já não se encontra
entre nós, e fora então líder estudantil à data, afirmara: “o 25 de abril começou
a 24 de março”. Foi por isso que nesta data (24 de março de 2022) arrancaram as
comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril e “será fechada uma cápsula do
tempo com memórias de hoje, que só deverá ser aberta a 25 de abril de 2074, no
centenário da Revolução dos Cravos. Mas se uma cápsula se fecha, outra se abre,
a das memórias”.
Foi em 2022 que houve a
oportunidade de se comemorar uma caterva
de eventos gerados em tempos da ditadura: os 50 anos da publicação de Novas
Cartas Portuguesas, das “três Marias”, assim como do Portugal Amordaçado,
de Mário Soares, e ainda Dinossauro Excelentíssimo, de José Cardoso
Pires. Mas foi também o cinquentenário da Vigília da Capela do Rato e do
massacre de Wiriamo, no qual tropas portuguesas, a mando do Estado português,
mataram pelo menos 385 pessoas daquela aldeia moçambicana.
No dia 3 de abril de 2024, uns
dias antes do grande acontecimento em que Salgueiro Maia – o capitão que
comandou a coluna de blindados que desceu de Santarém para vir cercar os
ministérios no Terreiro do Paço, que fez o ultimato a Marcelo Caetano e o levou
à rendição perante o general Spínola, e depois escoltou o então presidente do
Conselho até ao aeroporto de onde partiu para o exílio, tudo sem disparar um
tiro, tendo assim o seu forte contributo
para acabar com a ditadura em Portugal, passarão 32 anos da sua morte.
Esperemos que estas Comemorações,
com os programas há muito delineados, sejam revestidas não só do brilhantismo que
merecem mas principalmente de verdadeiros momentos de patriotismo, agora que já
se realizaram as novas eleições antecipadas para a Assembleia da República, em
que vai haver momentos nada fáceis para levar o navio a navegar por águas
tranquilas. Mas, entre ventos e marés, tenhamos fé.
João de Jesus Nunes
- (In “O Olhanense”, de 01-04-2024)
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