20 de maio de 2025

TORMENTOS DE DUAS FILIAIS DE UM GRANDE CLUBE


 
Naqueles tempos começaram a surgir clubes desportivos que entusiasmavam as suas gentes com o jogo da bola. Ainda não havia muitas distrações para ocupar o tempo de lazer. Os costumes no trajar e nos contactos sociais pouco variavam de região para região. Aos domingos, homens, senhoras, jovens e crianças envergavam os seus trajes domingueiros para passear em grupo ou ir à missa. Os homens usavam fato e gravata, mesmo no verão, colocando o casaco pelos ombros quando o calor apertava. As senhoras que iam à igreja cobriam a cabeça com um véu (o Concílio Vaticano II ainda não ocorrera). As meninas e senhoras ainda não usavam calças em vez de saias, pois era mal visto em muitos contextos sociais, escolares e religiosos. Foi apenas a partir dos anos 60 que algumas jovens urbanas e artistas começam a usar calças, influenciadas por modas estrangeiras. Nos anos 70, com o 25 de Abril de 1974 e o fim da ditadura, os costumes começaram a liberalizar-se rapidamente. As calças tornaram-se um símbolo da emancipação feminina, especialmente entre mulheres jovens e trabalhadoras. Surgiram os primeiros fatos de calça femininos para trabalho e eventos. A partir dos anos 80, o uso de calças generalizou-se a todos os contextos: escolas, universidades, trabalho, cerimónias. Tornaram-se uma peça padrão do guarda-roupa feminino, com a moda a diversificar-se: calças de ganga, formais, entre outras.

Nos campos desportivos, relvados ou pelados, os obreiros da redondinha deixaram de ser apenas brancos; começavam a surgir também jogadores negros. Hoje, em cidades, vilas e aldeias, e mesmo nos recantos mais isolados, reconhecemos a presença de um cosmopolitismo crescente.

Com o tempo, os clubes e as suas modalidades foram-se desenvolvendo. Os grandes clubes mantinham-se, ainda que com altos e baixos. Os médios lutavam por um lugar ao sol. Os pequenos foram desaparecendo à medida que as tempestades ameaçavam as suas frágeis embarcações.

Os grandes decidiram então criar filiais – uma forma de expandir o seu emblema, embora nem sempre os “afilhados” se mostrassem verdadeiros apaniguados.

Numa zona de montanha, tal como numa orla marítima, o desporto-rei já se encontrava bem implantado. Um dos grandes clubes integrou, com entusiasmo, uma filial na zona serrana –   a sua 8ª filial, fundada a 2 de junho de 1923. Na zona costeira, já havia sido criada a 4ª filial, a10 de janeiro do mesmo ano. Se os verde-e-brancos eram da serra, os rubro-negros pertenciam ao mar.

Ambos históricos, ambos enfrentaram turbulências ao longo dos anos, apesar de terem deixado nos seus anais páginas marcantes na história do desporto regional e nacional.  

No prestigiado quadro da 1ª Divisão (hoje chamada 1ª Liga), os serranos orgulham-se de 15 participações, enquanto os algarvios somam 19 presenças.

Os ventos quase fizeram naufragar a embarcação olhanense, mas felizmente cessaram. Hoje, o clube é liderado por homens de bravura, que expulsaram “a bicharada daninha” que o rodeava. Nas bandeiras desfraldadas lêem-se mensagens como: “Se existimos há 113 anos, não vamos morrer” e “Parabéns pelo 100.º aniversário do Campeonato de Portugal”. O diário, que é quinzenário, noticia o Algarve e o país, assinalando com garbo os seus 62 anos. Olá, 15 de maio de 2025!

Também os serranos enfrentaram uma ventania lamentável, até ao último jogo, sempre com os ouvidos atentos ao que se passava do outro lado do Atlântico.

Ficam os votos de que estas duas coletividades, marcadas no mapa de Portugal, saibam manter-se vigilantes, atentas e firmes no caminho certo.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 15-05-2025)

 



Sem comentários: