Depois de uma campanha eleitoral titubeante, que redundou num zénite de resultados alarmantes, onde as fake news imperaram de forma quase teatral – por vezes hilariante e louca para alguns – valeu-nos o entusiasmo do futebol, com os nossos clubes de afeição a darem-nos outro frenesim, servindo de certo lenitivo.
“Da mesma forma que o coração tem que trabalhar sem parar para que
continuemos vivos, cada um de nós tem que exercer cidadania para que o país
continue a existir”,
- Elísio Macamo,
sociólogo moçambicano, no podcast do Público Na Terra dos Cacos.
Segundo o jornalista António Rodrigues, do Público, os alarmes sobre os jovens cidadãos começaram a soar em
fevereiro, quando a Autoridade Australiana para a Avaliação e Relatórios
Curriculares revelou os piores resultados no teste de cidadania desde 2004:
apenas 43% dos alunos do 6º. Ano e 28% do 10º ano mostraram-se proficientes.
Uma descida acentuada em relação ao estudo de 2019.
Para Riddle e Samantha Mostyn – esta última governadora-geral da
Austrália, representante do rei Carlos III – o país corre o risco de criar uma
geração mais vulnerável à manipulação política. “A desinformação e a informação
errada são o grande flagelo do nosso tempo”, afirmou Mostyn à ABC, no início da sua missão para
contrariar o fraco desempenho dos estudantes em matéria de cidadania.
Um novo modelo de ensino começou a ser implementado nas escolas
australianas para combater a desinformação e aumentar a literacia mediática
entre crianças e adolescentes. O objetivo é que aprendam a discernir facto da
ficção, avaliando se uma notícia, um programa de televisão, um vídeo online ou
uma publicação nas redes sociais é credível.
Segundo Elísio Macamo, citado por António Rodrigues, é urgente “julgar
menos e analisar mais”, combatendo a “arrogância moral” de nos acharmos
melhores que os outros. A cidadania
exige humildade, e “ser cidadão de um país significa fazer tudo para merecer
sê-lo”. Como dizia o historiador maliano Amadou Hampâté Bâ:
“Se sabes que não sabes, saberás.”
La Vacuna Contra la Insensatez – a Vacina Contra a Insensatez – é o título do livro recentemente
publicado em Espanha, que nos oferece
ferramentas para melhor compreender a realidade. “Urge reabilitar o pensamento
crítico porque é uma das supervacinas” contra decisões tomadas sem verdadeira
compreensão, afirmou o autor em entrevista à revista Lecturas.
“Se somos tão inteligentes, por que caímos em
tanta estupidez e atrocidade? Por que nos deixamos manipular por falsas
crenças, teorias de conspiração e preconceitos?”
A partir destas duas questões, o autor de Ética
para Náufragos concebeu uma “vacina para proteger dos agentes patogénicos externos”,
uma verdadeira vacina contra a loucura – uma imunização do espírito, para
reforçar o pensamento crítico e para desarmar clichés aceites como dogmas.
Vivemos um momento crítico para o futuro da
humanidade. Se a convergência entre engenharia genética, nanotecnologia,
inteligência artificial e neurociência não for guiada por pensamento ético e
humanista, como alerta Marina em entrevista ao El Periódico, corremos o risco de ver nascer monstros
tecnológicos e sociais.
É preciso, pois, estarmos vacinados – contra a
loucura e a insensatez.
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P. S.: Recebi na minha caixa do correio a
vossa revista “100 Anos do S. C. Olhanense Campeão de Portugal – 1924 –
2024”, pela qual agradeço a amável deferência.
Li com interesse a breve resenha da história
do Clube. Muito obrigado.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”, de 01-06-2025)
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