3 de junho de 2025

A VACINA CONTRA A LOUCURA


Depois de uma campanha eleitoral titubeante, que redundou num zénite de resultados alarmantes, onde as
fake news imperaram de forma quase teatral – por vezes hilariante e louca para alguns – valeu-nos o entusiasmo do futebol, com os nossos clubes de afeição a darem-nos outro frenesim, servindo de certo lenitivo.

“Da mesma forma que o coração tem que trabalhar sem parar para que continuemos vivos, cada um de nós tem que exercer cidadania para que o país continue a existir”,

- Elísio Macamo, sociólogo moçambicano, no podcast do Público Na Terra dos Cacos.

Segundo o jornalista António Rodrigues, do Público, os alarmes sobre os jovens cidadãos começaram a soar em fevereiro, quando a Autoridade Australiana para a Avaliação e Relatórios Curriculares revelou os piores resultados no teste de cidadania desde 2004: apenas 43% dos alunos do 6º. Ano e 28% do 10º ano mostraram-se proficientes. Uma descida acentuada em relação ao estudo de 2019.

Para Riddle e Samantha Mostyn – esta última governadora-geral da Austrália, representante do rei Carlos III – o país corre o risco de criar uma geração mais vulnerável à manipulação política. “A desinformação e a informação errada são o grande flagelo do nosso tempo”, afirmou Mostyn  à ABC, no início da sua missão para contrariar o fraco desempenho dos estudantes em matéria de cidadania.

Um novo modelo de ensino começou a ser implementado nas escolas australianas para combater a desinformação e aumentar a literacia mediática entre crianças e adolescentes. O objetivo é que aprendam a discernir facto da ficção, avaliando se uma notícia, um programa de televisão, um vídeo online ou uma publicação nas redes sociais é credível.

Segundo Elísio Macamo, citado por António Rodrigues, é urgente “julgar menos e analisar mais”, combatendo a “arrogância moral” de nos acharmos melhores que os outros.  A cidadania exige humildade, e “ser cidadão de um país significa fazer tudo para merecer sê-lo”. Como dizia o historiador maliano Amadou Hampâté Bâ:

 “Se sabes que não sabes, saberás.”

La Vacuna Contra la Insensatez – a Vacina Contra a Insensatez – é o título do livro recentemente publicado em Espanha, que nos oferece ferramentas para melhor compreender a realidade. “Urge reabilitar o pensamento crítico porque é uma das supervacinas” contra decisões tomadas sem verdadeira compreensão, afirmou o autor em entrevista à revista Lecturas.

“Se somos tão inteligentes, por que caímos em tanta estupidez e atrocidade? Por que nos deixamos manipular por falsas crenças, teorias de conspiração e preconceitos?”

A partir destas duas questões, o autor de Ética para Náufragos concebeu uma “vacina para proteger dos agentes patogénicos externos”, uma verdadeira vacina contra a loucura – uma imunização do espírito, para reforçar o pensamento crítico e para desarmar clichés aceites como dogmas.

Vivemos um momento crítico para o futuro da humanidade. Se a convergência entre engenharia genética, nanotecnologia, inteligência artificial e neurociência não for guiada por pensamento ético e humanista, como alerta Marina em entrevista ao El Periódico, corremos o risco de ver nascer monstros tecnológicos e sociais.

É preciso, pois, estarmos vacinados – contra a loucura e a insensatez.

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P. S.: Recebi na minha caixa do correio a vossa revista “100 Anos do S. C. Olhanense Campeão de Portugal – 1924 – 2024”, pela qual agradeço a amável deferência.

Li com interesse a breve resenha da história do Clube. Muito obrigado.

 

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Olhanense”, de 01-06-2025)

 


 

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