Sou um leitor assíduo das crónicas diárias deste escritor no Público. Por vezes, por falta de tempo, algumas escapam-me na diagonal, mas as
de MEC, por serem de leitura tentadora, interessante e dotadas de um grande
poder de síntese, são, para mim, de leitura obrigatória – e sempre um grande
prazer.
Já lá vai o tempo em que comprava sempre o semanário O Jornal e o diário Público
em papel, deixando para segundo plano o Diário
de Notícias. Com a chegada da pandemia,
O Jornal desapareceu e passei a assinar O
Público, pela via digital.
Há mais de 60 anos que continuo a escrever em alguns periódicos, pro bono. Por vezes, surge a
dificuldade de falta de assunto – como aconteceu desta vez – já que remeti
artigos para dois deles e tenho uma cirurgia marcada para o dia 1 de julho.
Veio a propósito a crónica de MEC, publicada a 9 de maio, sob o título
“Vai um meio-século?”, onde recordava a sua escrita em O Jornal, há 50 anos. Transportou-me para memórias de quem por lá escrevia
e de alguns dos seus diretores. Lembrei-me também de facetas menos positivas da
chefia da empresa que representava, a qual, nos tempos do cavaquismo, via com
desconfiança tudo o que pudesse ter uma conotação política. Assim aconteceu comigo,
por estar associado a O Jornal,
identificado como um periódico de esquerda moderada e democrática, com uma
linha editorial crítica, independente e progressista. Destacou-se, sobretudo
nos anos de 1980, pelo seu jornalismo de investigação, por colaboradores
intelectuais de peso e pela sua independência face aos principais partidos
políticos, apesar de alguma proximidade editorial com setores mais à esquerda.
O primeiro número foi publicado em 16 de março de 1975, poucos meses após
o 25 de Abril de 1974, num contexto de intensa agitação política e grande
pluralismo na imprensa portuguesa.
O seu fundador e primeiro diretor foi o jornalista José Carlos
Vasconcelos. O último número de O Jornal foi publicado em 1992. Certo é
que, nos seus últimos anos, atravessou várias dificuldades financeiras e
mudanças de propriedade. O seu último diretor foi José Manuel Barata-Feyo, tendo
também passado pela direção figuras como Mário Mesquita e Joaquim Vieira.
Apreciava bastante a página onde escrevia o escritor, romancista e
cronista Augusto Abelaira – “Escrever na Água” – com o seu estilo irónico,
lúcido e crítico, que tanto prestígio deu ao jornal.
Outros escritores, intelectuais e cronistas de O Jornal incluíam:
- Eduardo Prado Coelho
- Ensaísta e crítico literário, colaborava com textos de análise cultural e
política.
- António Mega Ferreira – Jornalista e escritor, mais tarde ligado à Expo
98.
- José Carlos Vasconcelos – Já referido acima, também advogado e poeta.
- Helena Vaz da Silva – Jornalista e mulher da cultura, escrevia com enfoque
cultural e patrimonial.
- Fernando Assis
Pacheco – Jornalista e poeta, conhecido pelo humor e estilo irreverente.
- João Bérard da Costa – Crítico de cinema e ensaísta.
- Maria Augusta
Palla – Jornalista e ativista, escreveu sobre temas sociais e direitos das
mulheres.
- Fernando Dacosta –
Jornalista e escritor, autor de crónicas e textos de fundo.
Como diz Miguel Esteves Cardoso: “Digam o que disserem, não há nada como
ser publicado. Fica-se com a sensação de existir”.
Para terminar esta crónica, quero recordar um caso paradigmático ocorrido
no dia 18 de junho, na Clínica da Luz, na Covilhã. Aguardava a minha vez de ser
chamado quando alguém, que não reconheci de imediato, se aproximou e me
perguntou se o não conhecia. Estava, de facto, muito diferente (ele também só
me reconheceu quando ouviu o meu nome). Perante a minha perplexidade, recordou-me
um livro que publiquei e no qual surgia como líder do Sporting da Covilhã, assim
como uma notícia sobre o mesmo publicada no jornal El Adelanto, de
Salamanca. Foi então que nos abraçámos, passados mais de 30 anos. Era Manuel
Matias Vaz, que se encontrava acompanhado pela filha.
João de Jesus Nunes
(In “O Olhanense”,
de 01-07-2025)
Sem comentários:
Enviar um comentário