Falta um ano para as comemorações
do centenário do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes. Na véspera deste
marco histórico, a persistência da Direção da Instituição permitiu que um ato
de justiça fosse concretizado ainda antes da efeméride.
Assim, no dia 22 de junho de
2025, mais de meio século após o movimento revolucionário do 25 de Abril de
1974, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes inaugurou o Memorial aos
Combatentes da Guerra do Ultramar da Covilhã.
Era inegável a importância da existência
de um monumento autónomo que evocasse esse período marcante da nossa história.
O Memorial localiza-se junto ao
Jardim Público, ao lado do Monumento ao Soldado Desconhecido. Era uma aspiração
antiga do Núcleo da Covilhã. Segundo palavras do Presidente da Direção, João
Azevedo, esta homenagem é “significativa, edificante, elogiosa”, além de representar
“um reconhecimento do esforço” feito pelos antigos combatentes nas ex-colónias e
pelas respetivas famílias.
São 48 os covilhanenses que tombaram
na Guerra Colonial e que agora ficam perpetuados para a posteridade – tal como
os que regressaram feridos ou continuam a sofrer de stress pós-traumático. É,
portanto, essencial que se preserve a memória de todos os que foram enviados
para África e para a Índia.
Esta homenagem é imprescindível para
os covilhanenses – da cidade e do concelho. Foram homens valorosos que, no mais
longo conflito armado da história recente de Portugal, combateram em três
teatros de operações: Guiné, Angola e Moçambique. Viveram momentos profundamente
dolorosos – eles e as suas famílias. Foi, sem dúvida, um dos períodos mais
sombrios da nossa história.
Os nomes de quase meia centena de
jovens do concelho da Covilhã, que morreram em combate entre 1961 e 1974, estão
inscritos no Memorial. A obra representou um investimento municipal de 75 mil
euros. O projeto arquitetónico é da autoria de António Saraiva e Francisco
Oliveira, que utilizaram granito, mármore e aço corten, para simbolizar a
dureza do tema.
De acordo com os autores, o
grande pórtico em aço corten, com base triangular – formal e simbolicamente representando
a Serra da Estrela –, domina o espaço. Na base sólida e geométrica do murete em
granito amarelo estão quatro lápides – Angola, Guiné, Índia e Moçambique – em
aço, com os nomes dos militares mortos inscritos por ordem alfabética, de
acordo com as listas oficiais fornecidas pela Liga dos Combatentes da Covilhã.
“A frieza da geometria do
monumento é quebrada com uma imponente coluna central em mármore, que simboliza
a perenidade de Portugal e a sua continuidade através dos séculos”, afirmam os
arquitetos. As lajes em granito e mármore no solo representam as marcas físicas
e psíquicas que muitos trouxeram do conflito. Ao lado, erguem-se três mastros
com as bandeiras de Portugal, da Covilhã e da Liga dos Combatentes.
“É importante para quem esteve na
chamada Guerra do Ultramar, ter um monumento que evoque especificamente este
período, um reconhecimento do nosso esforço”, afirmou João Azevedo.
O Presidente da Câmara, Vitor
Pereira, declarou: “O município presta, em nome dos covilhanenses, uma homenagem
aos nossos combatentes. Este monumento simboliza a gratidão e o profundo reconhecimento
por tudo o que fizeram. Queremos homenagear os que estão entre nós, os que
partiram e os que tombaram no campo de batalha”. E concluiu, considerando este
gesto como um “ato de justiça” perante a dívida moral dos portugueses para com
os muitos jovens que foram combater “na flor da idade”.
João Azevedo salientou ainda a
“justiça desta homenagem aos antigos combatentes que continuam a ser esquecidos
e negligenciados pelo Estado e pela sociedade”.
Durante a cerimónia de
inauguração – marcada por toques militares e entrega de medalhas de campanha – foi
também prestada homenagem póstuma a Carlos Ramos, porta-estandarte durante
muitos anos, figura emblemática deste Núcleo, já evocada aquando do seu
falecimento em edição anterior.
É confrangedor constatar que, em
13 anos, Portugal mobilizou mais de um milhão de militares para a Guerra do
Ultramar, onde cerca de dez mil perderam a vida. Foram ainda causadas aproximadamente
120 mil vítimas entre feridos e deficientes físicos.
Fundado a 16 de fevereiro de 1926,
o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes conta atualmente com cerca de
novecentos associados. João Azevedo, o seu presidente, lidera esta instituição
há mais de quatro décadas.
João de Jesus Nunes
(In “O Combatente da Estrela”, nº. 139,
JUL/2025)
Sem comentários:
Enviar um comentário