10 de julho de 2025

UM ATO DE JUSTIÇA

 

Falta um ano para as comemorações do centenário do Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes. Na véspera deste marco histórico, a persistência da Direção da Instituição permitiu que um ato de justiça fosse concretizado ainda antes da efeméride.

Assim, no dia 22 de junho de 2025, mais de meio século após o movimento revolucionário do 25 de Abril de 1974, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes inaugurou o Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar da Covilhã.

Era inegável a importância da existência de um monumento autónomo que evocasse esse período marcante da nossa história.

O Memorial localiza-se junto ao Jardim Público, ao lado do Monumento ao Soldado Desconhecido. Era uma aspiração antiga do Núcleo da Covilhã. Segundo palavras do Presidente da Direção, João Azevedo, esta homenagem é “significativa, edificante, elogiosa”, além de representar “um reconhecimento do esforço” feito pelos antigos combatentes nas ex-colónias e pelas respetivas famílias.

São 48 os covilhanenses que tombaram na Guerra Colonial e que agora ficam perpetuados para a posteridade – tal como os que regressaram feridos ou continuam a sofrer de stress pós-traumático. É, portanto, essencial que se preserve a memória de todos os que foram enviados para África e para a Índia.

Esta homenagem é imprescindível para os covilhanenses – da cidade e do concelho. Foram homens valorosos que, no mais longo conflito armado da história recente de Portugal, combateram em três teatros de operações: Guiné, Angola e Moçambique. Viveram momentos profundamente dolorosos – eles e as suas famílias. Foi, sem dúvida, um dos períodos mais sombrios da nossa história.

Os nomes de quase meia centena de jovens do concelho da Covilhã, que morreram em combate entre 1961 e 1974, estão inscritos no Memorial. A obra representou um investimento municipal de 75 mil euros. O projeto arquitetónico é da autoria de António Saraiva e Francisco Oliveira, que utilizaram granito, mármore e aço corten, para simbolizar a dureza do tema.

De acordo com os autores, o grande pórtico em aço corten, com base triangular – formal e simbolicamente representando a Serra da Estrela –, domina o espaço. Na base sólida e geométrica do murete em granito amarelo estão quatro lápides – Angola, Guiné, Índia e Moçambique – em aço, com os nomes dos militares mortos inscritos por ordem alfabética, de acordo com as listas oficiais fornecidas pela Liga dos Combatentes da Covilhã.

“A frieza da geometria do monumento é quebrada com uma imponente coluna central em mármore, que simboliza a perenidade de Portugal e a sua continuidade através dos séculos”, afirmam os arquitetos. As lajes em granito e mármore no solo representam as marcas físicas e psíquicas que muitos trouxeram do conflito. Ao lado, erguem-se três mastros com as bandeiras de Portugal, da Covilhã e da Liga dos Combatentes.

“É importante para quem esteve na chamada Guerra do Ultramar, ter um monumento que evoque especificamente este período, um reconhecimento do nosso esforço”, afirmou João Azevedo.

O Presidente da Câmara, Vitor Pereira, declarou: “O município presta, em nome dos covilhanenses, uma homenagem aos nossos combatentes. Este monumento simboliza a gratidão e o profundo reconhecimento por tudo o que fizeram. Queremos homenagear os que estão entre nós, os que partiram e os que tombaram no campo de batalha”. E concluiu, considerando este gesto como um “ato de justiça” perante a dívida moral dos portugueses para com os muitos jovens que foram combater “na flor da idade”.

João Azevedo salientou ainda a “justiça desta homenagem aos antigos combatentes que continuam a ser esquecidos e negligenciados pelo Estado e pela sociedade”.

Durante a cerimónia de inauguração – marcada por toques militares e entrega de medalhas de campanha – foi também prestada homenagem póstuma a Carlos Ramos, porta-estandarte durante muitos anos, figura emblemática deste Núcleo, já evocada aquando do seu falecimento em edição anterior.

É confrangedor constatar que, em 13 anos, Portugal mobilizou mais de um milhão de militares para a Guerra do Ultramar, onde cerca de dez mil perderam a vida. Foram ainda causadas aproximadamente 120 mil vítimas entre feridos e deficientes físicos.

Fundado a 16 de fevereiro de 1926, o Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes conta atualmente com cerca de novecentos associados. João Azevedo, o seu presidente, lidera esta instituição há mais de quatro décadas.

 

João de Jesus Nunes

jjnunes6200@gmail.com

(In “O Combatente da Estrela”, nº. 139, JUL/2025)


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