7 de dezembro de 2011

E TUDO ISTO É FADO

“Perguntaste-me outro dia se eu sabia o que era fado. Disse-te que não sabia, tu ficaste admirado” – No meio da situação pantanosa em que caímos, e nos deixámos empurrar para o precipício, com culpa de todos nós, porque adormecemos com as canções de embalar, vai-nos valendo agora o FADO, proposto à Unesco para um dos sete Patrimónios Imateriais da Humanidade, e, na Indonésia, eleito com indubitável mérito.

Na indolência dos que, enlevados pelos “direitos adquiridos”, foram mandando às malvas todos quantos lhes sopravam aos ouvidos os exemplos dos políticos que enriqueciam depois de saírem do Governo; e aqueles que, com subterfúgios, levaram o que, duma forma geral, foi subtraído à classe média; vêm os mesmos a assustar-se só quando se aperceberam da mexida nas suas algibeiras, retirando os referidos “direitos”. E, então, a sua raiva pelo inaudito de muitos dos nossos políticos, numa autêntica forma de ganhar a lotaria.

“Sem saber o que dizia, eu menti naquela hora, disse-te que não sabia mas vou-te dizer agora” – Já anteriormente, numa então era de “scolarização”, quando o navio da nossa imaginação começava a mergulhar demasiado nas águas profundas do oceano da nossa impaciência, foi necessário um impulso de embandeirados, com a nossa selecção de futebol, para nos fazer levantar a cabeça e mostrar uns sorrisos, mais que não fosse para reaver a nossa auto-estima, perante os iluminados governantes, que então preferiram deitar fora a bússola e guiar-se pela estrela polar das suas visões mais convenientes. Fomos também caindo na canção do ceguinho, e, no nosso ego, desfraldámos e recalcámos o “direito a ter direitos”, mas esquecendo que, no reverso, também havia a faceta do “dever de cumprir os seus deveres”.

“Almas vencidas, noites perdidas, sombras bizarras” – Mas, por mais voltas que se dêem, não descortinámos como solucionar preocupações constantes, e delas ressaltam, por exemplo, as das injustiças, num vasto campo de várias vertentes, entre as quais o porquê de continuar a haver portugueses de primeira, portugueses de segunda e portugueses de lixo, na forma como têm direito a ser tratados nas suas doenças: uns não pagam nada, outros pagam uma parte e outros pagam tudo, ainda que fruto dos tais “direitos adquiridos” das suas actividades profissionais.

“Na Mouraria, canta um rufia, choram guitarras; amor, ciúme, cinzas e lume, dor e pecado, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado” – E isto para já não nos referirmos às empresas de transportes – Carris, Refer, Metro, e por aí fora –, denunciadas com altas regalias, algumas no luxo de serem extensíveis a outros familiares já fora da sua esfera de agregado familiar, numa vergonha nacional, agora com incomensuráveis dívidas.

“Se queres ser meu senhor, e teres-me sempre a teu lado, não me fales só de amor, fala-me também do fado” – Não houve nenhum dos nossos ilustres governantes que cumprisse a sua palavra. Alguns, economistas de meia-tijela, doutores à pressa para ficarem bem na fotografia, que diziam conhecer bem os dossiers antes de integrarem as suas funções governativas, apanharam-se no poleiro, e, bem depressa, as promessas foram dissipadas, porque, no já habitual “viemos encontrar uma situação diferente da que esperávamos”, levaram à tentativa de deitar areia para os olhos, aos parolos das suas mentes, mas que já não passam por ceguinhos… As contas públicas a apresentarem défice todos os anos, num endividamento diário, a que os portugueses se haviam vencido num hábito de convivência pacífica com esta realidade, tentaram desviar-nos da atenção deste país real.

“É o fado que é o meu castigo; só nasceu p’ra me perder. O fado é tudo o que digo, mais o que eu não sei dizer” – Viver acima das possibilidades era já uma normalidade. E agora, com a “troika”, ao se verificar que a Europa Unida afinal não é tão solidária como parecia ser, quando nos chegam verdadeiramente ao pêlo com os cortes salariais, se levantam as consciências do que andámos a fazer ou não andámos a fazer.

 Depois do deixa andar, da inveja do parceiro que fez pela vida, das lágrimas daqueles “pobres envergonhados” que o infortúnio lhes bateu à porta, do mouro de trabalho que, num ápice, viu surgir o fim do seu emprego; no sofrimento dos que não conseguem tratamento para os seus males porque não têm dinheiro para fazer face a um direito que lhe é negado, resta-nos deste embrenhado nesta amálgama de infortúnio, dizer que tudo isto é triste, tudo isto é fado.

(In “Notícias da Covilhã”, de 07.12.2011, e n’ ”O Combatente da Estrela”, n.º 89, de Dezembro 2011)

24 de novembro de 2011

NEM SEMPRE O TEMPO SIGNIFICA MUDANÇA

Beco das Lages, nº. 6

Tão perto mas paradoxalmente tão longe…

Vai já distante, no tempo, a data de 12 de Fevereiro de 1955, altura em que vim residir para a Covilhã, com nove anos, do lugar onde nasci – Pousadinha –, bem altaneiro, muito perto do pinhal, de ares menos carregados de poluição; árvores de fruto, sossego, contacto com a natureza, ainda no tempo da malha do trigo (o pão, como se designava) com mangual.

Electricidade inexistente, durante muitos anos. Resolvia-se o problema primitivo com fogões e candeeiros a petróleo ou a carboneto; lareiras em cozinhas graníticas, de tecto muito elevado, separadas da moradia, donde pendiam grandes correntes para pendurar as panelas de ferro, sobre os cavacos a arderem. Aqui se coziam alguns alimentos e se fazia o caldo; e também se aquecia comida para os animais (o “vivo”, como linguagem popular).

A família reunia-se à noite, em redor da lareira, para conversar, mas a “civilização” era um pouco mais adiante, alguns quilómetros, para as bandas da cidade, e aí se verificava a instrução.

Viemos, algo precipitadamente, residir para uma casa modesta, de um só piso, na Covilhã, freguesia de Santa Maria – o Beco das Lajes, n.º 6.

Mas, de tão degradada, mais não nos restou que solucionar o problema, com a saída para a zona sul da cidade, juntinho à Escola Industrial, no dia 5 de Junho de 1955, ainda não eram concluídos quatro meses.

Tão perto mas paradoxalmente tão longe…por falta de vontade ou, diga-se, de não haver necessidade de visitar o local.

Na correria louca do tempo, na quase permanente utilização do automóvel em substituição da caminhada do dia, aquela zona, de ruas estreitas e casario antigo, não mais voltara a ser por mim visitada, não obstante ter o meu local de trabalho a uns trezentos metros…ainda que muitas vezes percorresse as suas redondezas.

Resolvi que surgisse a proximidade, visitando há algumas semanas aquele local, numa de nostalgia, de máquina fotográfica em punho, volvidos que foram 56 anos, mais de meio século!

Recordei-me de, criança que era, na Igreja de Santa Maria, ouvir cantar a Juventude Operária Católica (JOC) o seu hino jocista: “Sentido à voz de Cristo, avante! Jocista, em frente e sem temor; Responde em coro a voz pujante: Contigo, ó Deus Trabalhador”.

Mas também os estudantes do Liceu e da Escola Industrial, fardados da Mocidade Portuguesa, perfilados, para se integrarem na procissão que do mesmo templo saía, esperavam à porta, cantando o hino do tempo da outra senhora: “Lá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim, pela voz do som tremendo, das tubas, clangor sem fim”.

Nem sempre com o tempo significa haver mudança…

Quando esperava já não encontrar a casa onde residi, e as do seu reduto; quando deduzi ir ver o local com as casas demolidas de tão degradadas; encontrei o mesmo com quase tudo como há mais de meio século. Lá se encontrava, bem visível, o n.º 6 do Beco das Lajes, e as casas onde vivia a D. Ritinha e os Melchiores, vizinhança simpática e acolhedora ao nosso agregado familiar de sete pessoas, naquele altura.

Efectivamente, por ser uma zona de lajes, como o próprio nome indica, conseguiu manter intacta a degradação, ao longo destes anos, em plena zona urbana da cidade, ainda que aquele Beco se encontre quase num esconderijo. Até o Padre Pina, que tão perto ali vivia, se fosse vivo, ficaria estranho. No entanto, a edilidade, na sua transformação estrutural de melhoramentos na cidade e concelho, e de inovações, substituiu, e bem, algumas lajes por escadaria em pedra.

Mesmo assim, nesta indubitável revolução, alguns espaços próximos, como aquele, ficaram incólumes de qualquer transformação.

Embora nem tudo seja possível como se pensa, lá que há coisas que são de estranhar, lá isso há.

(In Notícias da Covilhã de 24.11.2011)

17 de novembro de 2011

MALOGRADA GLÓRIA DO SPORTING DA COVILHÃ – FRANCISCO MANTEIGUEIRO

Francisco Pinto Manteigueiro

Foi a sepultar na sua terra natal, no dia de S. Martinho, o covilhanense Francisco Pinto Manteigueiro, de 78 anos, velha glória do Sporting Clube da Covilhã (SCC).
Acometido de doença, há já algum tempo, em Elvas, onde vivia há vinte e cindo anos, veio a deixar de ter a sua presença amiga, entre nós. Era encontrado, várias vezes, nos eventos da colectividade serrana, e mormente tendo como origem as boas memórias da sua passagem pelo clube serrano. Representou o mesmo durante muitos anos, duma forma quão alegre como aguerrida, deixando marcas vincadas do seu real valor de atleta de excelência.


Iniciou-se no futebol num clube da então FNAT (hoje Inatel) – o extinto Estrela de S. Pedro, da Covilhã.

Em 1951 inscreveu-se nos juniores do SCC, tendo efectuado um único jogo. Dando de imediato nas vistas, no ano seguinte jogou logo na primeira equipa.

Com vinte anos ganhou um lugar na equipa principal do SCC, então na Primeira Divisão Nacional, emparceirando com atletas de renome, nomeadamente os irmãos Cavem (o Domiciano iria para o Benfica), Cabrita, Carlos Ferreira, Simony, Martin, Nicolau e Lanzinha.

E, assim, nas épocas áureas do SCC na I Divisão Nacional, desde 1953/54 a 1961/62, não deixou de ser escolhido para integrar as equipas principais, inclusive, participou na Final da Taça de Portugal, com o Benfica, em 02-06-1957, sendo um dos esteios da sua equipa.

Depois, seria ainda Campeão Nacional da II Divisão Nacional, na época 1957/58, e uma das suas pedras basilares, a par de Cabrita, Suarez, Rita, e outros.

Marcou 16 golos durante a I Divisão, não obstante ter grandes goleadores como seus parceiros, nomeadamente Simonyi. Domiciano Cavem e Suarez, mas, já na fase derradeira do SCC na I Divisão Nacional, Francisco Manteigueiro ainda ajudaria a sua equipa com golos, sendo o melhor marcador, com seis, na época 1960/61.

Veio depois a dar um grande contributo na II Divisão Nacional, jogando então com colegas mais novos, a quem terá incutido a sua garra e o seu exemplo, nomeadamente ao grande goleador, durante vários anos, do clube serrano – Fazenda.

Para além da final da Taça de Portugal, já referida, integrou quase todas as equipas nos jogos da Taça, desde a época de 1954/55 a 1969/70, tendo marcado alguns golos, como o do empate, a uma bola, contra o F C Porto, no Estádio Santos Pinto, no dia 27 de Março de 1960.

Foi pretendido pelos chamados clubes grandes do futebol nacional, com os quais não chegaria a acordo. Chegou a ser-lhe prometida a internacionalização pelo seleccionador Dr. Tavares da Silva, que, entretanto, falecera.

Terminou a sua carreira de atleta, sempre ao serviço do SCC, em 1972, após 21 anos de envergar a sua camisola, pela qual sempre teve grande amor.

Manteigueiro é o último, de pé curvado

A sua acção teve papel influente no comportamento da equipa. E, com todo este grande empenhamento, duma carreira brilhante, onde conheceu bons e maus momentos com a única camisola verde-branca, não teve qualquer festa de homenagem, depois de muitos anos de bons serviços, logo após terminar a carreira, ao contrário do que aconteceu com alguns dos seus colegas.

Mas, não obstante este injusto esquecimento, Francisco Manteigueiro ainda serviu o SCC como treinador e dirigente, em vários mandatos, sempre de semblante alegre, como lhe era peculiar.

Viria ainda a treinar o Desportivo de Castelo Branco, o Belmonte, Teixosense, Benfica e Castelo Branco, Benfica do Tortosendo, Unhais da Serra e Associação Desportiva da Guarda.

Esteve também envolvido na vida autárquica e associativa, onde sempre granjeou muitos amigos..

Manteigueiro e Marcelino numa festa da APAE de homenagem

Manteigueiro e Lanzinha numa homenagem do SCC

O seu funeral, apesar de sentido pelos seus bons amigos e alguns colegas do futebol serrano, que marcaram presença – Pires, Lanzinha, Fazenda e Prata – e também duma voz do Brasil, que ocasionalmente foi objecto de um telefonema, durante o velório – Vitoriano Suarez Montero –merecia que tivesse mais covilhanenses, e por que não a edilidade covilhanense, para além de mais dirigentes antigos e actuais do clube serrano, sendo que alguns estiveram presentes e colocaram sobre a sua urna a bandeira do seu clube de sempre – o Sporting Clube da Covilhã.

( In “Tribuna Desportiva” de 15.11.2011, e no “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão” de 17.11.2011)

9 de novembro de 2011

QUANDO O PRIMEIRO AUTOMÓVEL SUBIU À SERRA DA ESTRELA



Há sempre uma primeira vez. E, assim, o primeiro automóvel a chegar a Portugal – um Panhard-Levassor, importado de Paris – ocorreu em 1895. Logo na primeira viagem, entre Lisboa e Santiago do Cacém, teve um acidente – o primeiro acidente de viação ocorrido em Portugal – tendo sido atropelado um burro.

As estradas, in illo tempore, estavam muito longe das comodidades de hoje.

Volvidos meia dúzia de anos, entrou na Covilhã o primeiro automóvel, em 1901, pelas mãos do comerciante João Alves da Silva, então com 21 anos, tendo nascido em Abrantes mas constituído família na Covilhã, onde se radicou.

Foi um homem de influência no meio citadino, tendo presidido à Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Covilhã, e depois como vogal, em Janeiro de 1912. Foi delegado e sócio fundador do Automóvel Clube de Portugal e fez parte da “Sociedade de Propaganda de Portugal”, do “Turismo – Comissão de Iniciativa Estância da Serra da Estrela” e do “Grupo de Propaganda da Serra da Estrela”.

Mas é ainda João Alves da Silva que em 1906, com um automóvel, Darracq de 10 HP e 2 cilindros, sobe, pela primeira vez, à Serra da Estrela, quando não havia ainda estradas, mas antes caminhos. Foi a primeira escalada à Serra, em automóvel, sem qualquer via de acesso a “não ser alguns escabrosos caminhos de pé feito, que dificilmente se trilhavam”, conforme referiu o meu antigo colega de profissão, Vasco Callixto, na revista ACP de Novembro/Dezembro de 1965.

“Façanha com foros de sensacional, rodeada hoje de todo o pitoresco dos feitos heróicos dos primeiros tempos entre nós, ficou a dever-se a um dedicado pioneiro do automobilismo, que foi também um incansável propagandista das belezas naturais da sua região, quando o turismo era ainda letra morta em Portugal. João Alves da Silva ousou meter ombros a um cometimento de vulto, que muito boa gente não hesitou em condenar a completo malogro. Se encosta acima só havia calhaus e penedos, como poderia um “carro sem cavalos” levar a bom porto essa aventura?”, continuou assim a referir-se Vasco Callixto na revista do ACP.



Naquela viagem de automóvel, João Alves da Silva levou como passageiros três amigos: António Pereira Barata, Diamantino Henriques Pereira e António Lopes Fazendeiro, igualmente grandes entusiastas do automobilismo.

Antes de iniciar a marcha, contactou o mecânico Gregório da Fonseca Mimoso, conhecido por “Marroca”, um dos mais hábeis mecânicos da Beira Baixa.

Preparado o “Darracq”, com maior ou menor dificuldade saiu vitorioso da espinhosa missão que lhe havia sido confiada. Serra acima, através de caminhos e veredas pedregosas e havendo-se com rampas muito respeitáveis chegou como um herói às Penhas da Saúde. João Alves da Silva e os seus companheiros de aventura deram largas à sua alegria, por terem levado a bom termo a sua façanha, não se fazendo esperar as felicitações.

No entanto, não tinham contado com as dificuldades da descida, tendo o regresso à Covilhã sido a parte mais penosa da jornada, ameaçando o automóvel, a todo o momento, despenhar-se no abismo com os seus destemidos ocupantes. Foi uma odisseia que constituiu a primeira descida da Serra da Estrela em automóvel.

Em 1912, os entusiastas beirões do automobilismo fizeram disputar uma prova que ficou conhecida por “Corridas da Covilhã”, embora lhe chamassem também, mais apropriadamente, “Circuito da Serra da Estrela”. Estas “Corridas” foram integradas nas Festas da Cidade.

Mas, este jovem de 86 anos – Vasco Callixto – esteve recentemente na Covilhã, com a esposa, cujo casal tive o prazer de o acompanhar numa visita à cidade e à Serra da Estrela, e foi, para além da sua profissão, jornalista e escritor. Escreveu recentemente o seu 50º livro sobre viagens, tendo percorrido o mundo em automóvel. E, na nossa região, donde já sentia uma nostalgia, Vasco Callixto havia visitado a mesma há muitos anos, tendo pernoitado na antiga Colónia Infantil da Montanha (actualmente Pousada da Juventude), a convite do professor António Esteves Lopes que leccionou na Escola Industrial e foi um homem que se dedicou ao turismo e à Serra da Estrela.

Estava longe de saber que um antigo colega de profissão, de outros tempos, ainda se mantinha com um grande vigor pelas letras.




( In Notícias da Covilhã de 09.11.2011)

3 de novembro de 2011


(In Noticias da Covilhã, de 03.11.2011)

PRAXES ACADÉMICAS

Sempre me irritaram. Não acho piada alguma. Deixo-me rir com a estupidez das mesmas, ou seja, dos seus artistas.

Há sessenta anos não havia ainda universidade na cidade. E, no País, só sabíamos da existência das mesmas em Coimbra, Lisboa, Porto e Évora. A sapiência até era outra. As oportunidades de continuar os estudos também só eram possíveis para quem tivesse possibilidades financeiras. Não havia as facilidades de hoje, com “Novas Oportunidades” pelo meio. Os estudantes do antigo 7.º ano do Liceu e do Colégio Moderno preocupavam-se também com o latim,

Mas já havia praxes no secundário, onde obrigavam os caloiros a beijar a colher de pau, e, na Escola Industrial, aos alunos nocturnos, depois de os agarrarem levavam-nos aos ombros, em algazarra, numa grande tropelia, para as râmolas da Escola, que ficavam à direita do edifício, frente à oficina de tecelagem, e aí infligiam o sacrifício ao caloiro, abrindo-lhe as calças pela portinhola e introduzindo pela abertura toda a sorte de detritos, sobretudo terra amassada com água.

A única praxe que suportei foi no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4, em Leiria, aquando da apresentação naquela unidade militar, juntamente com os restantes colegas “caloiros”, concretamente designados de “maçaricos”, depois da conclusão do Curso de Sargentos Milicianos, por obrigação. Para além do almoço intragável, com tomates podres de sobremesa, na messe, antecedido dum teste estúpido, que serviu para depois nos ridicularizarem, seguiu-se um exercício de campo nocturno, com fogo a apavorar os agricultores de Marrazes, que pensavam que andávamos a afugentar a caça.

Se muitos dos pais que, com sacrifício, lá longe, suportam as despesas com os seus filhos, vissem o espectáculo em que os mesmos se envolvem, muitos deles contrariados, num uníssono de asneiras e atitudes obscenas, com bebedeiras pelo meio, a que são forçados, certamente se sentiriam constrangidos.  

E são estes os homens e as mulheres de amanhã!...

As praxes académicas que, no seu sentido de práticas que se pretendem relacionadas com a integração dos novos estudantes nas instituições de ensino superior, humilham os novos alunos, no mote de Dura Praxis, Sed Praxis, baseado no latim Dura Lex, sed Lex, poderiam revestir-se, na sua tradição ancestral (com a sua génese na Universidade de Coimbra), por “sacrifícios” moderados, evitando assim atitudes comportamentais que levaram alguns caloiros à morte e alguns veteranos a serem sentenciados em tribunal, como já foi do conhecimento público, em Outubro de 2001 e Outubro de 2002, para além de lesões corporais irreversíveis noutros caloiros.

Já em 1727, devido à morte de um aluno no ano anterior, D. João V proibiu as investidas feitas pelos veteranos, deliberando: “Mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos”. E, já em Dezembro de 1916, no jornal “A Resistência” se lia o título, “Abaixo as praxes ridículas e inoportunas!”.

As contestações à praxe não deixaram de existir e já o antigo Presidente da República, Teófilo Braga, dizia que os estudantes do seu tempo faltavam às aulas para fugir à praxe, sendo certo que em 1903, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão assinaram, em conjunto com outros estudantes, um “manifesto anti-praxe”.

E, mais recentemente, em 2008 e 2009, o então Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, enviou uma carta a todas as universidades afirmando que “a degradação física e psicológica dos mais novos como rito de iniciação é uma afronta aos valores da própria educação e à razão de ser das instituições de ensino superior e deve pois ser eficazmente combatida (…)” e, depois, que “embora afirmando uma intenção de integração dos novos alunos, mais não são que práticas de humilhação e de agressão física e psicológica de índole manifestamente fascista e boçal, indignas de uma sociedade civilizada e inconcebíveis em instituições de educação”.

Já há universidades que apertam o cerco às praxes e admitem instaurar processos disciplinares. Dentre essas seis universidades, também se encontra a UBI, proibindo as mesmas dentro do campus universitário.

E, se em vez de muitos dos mandões bacocos das tradicionais praxes, alguns de ar boçal, envolvendo-se em bebedeiras, pensassem o quanto lhes reserva de sacrifícios este pobre País, despedaçado, e, antes de mais, se direccionassem nas preocupações de contribuir para um Portugal melhor, certamente que no amanhã poderiam evitar as mãos à cabeça, agora tonta, de terem tirado um curso para nada.


(In “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão” de 03.11.2011)

19 de outubro de 2011

MAIS UMA CONFERÊNCIA DA SOCIEDADE DE S. VICENTE DE PAULO DA COVILHÃ NO SEU CENTENÁRIO



A Covilhã, desde longos anos, mostrou ser solidária e com uma forte dedicação aos mais necessitados, já do tempo da monarquia, e, depois, no regime republicano vigente.

A Sociedade de S. Vicente de Paulo, no seu objectivo de “testemunhar a fé em obras, através de uma acção pessoal veiculada pela visita, em espírito de Justiça e Caridade” foi fundada em Paris, no ano de 1833, por um grupo de sete jovens universitários, entre os quais Frederico Ozanan, sendo patrono S. Vicente de Paulo.

Esta sociedade, de enorme mérito solidário, encontra-se disseminada pelo globo, em cerca de 150 países, e, em Portugal, desde 1859.

Na Covilhã, já quatro destas Conferências atingiram o centenário. A primeira foi a de Santa Maria, fundada em 12/11/1899; seguiu-se a da Conceição, fundada em 19/03/1903; depois a de S. Pedro, fundada em 29/06/1905; e, por último, a de S. Martinho, que no corrente ano está a celebrar o seu centenário, fundada em 22/05/1911.

Existem mais conferências vicentinas na Covilhã, e noutras freguesias do Concelho, e não só, que agrupam um designado Conselho de Zona, do Arciprestado da Covilhã.

Já é sobejamente conhecida a acção humanitária destas Conferências, com um meritório trabalho dos seus obreiros – os confrades – que, somando muitas horas de voluntariado, aí desenvolvem a sua acção na assistência à doença, problemas familiares e sociais, carências económicas, solidão dos idosos, desamparo das crianças, álcool e droga, marginalidade e desajustamento social, apoio a busca de colocações no trabalho, pagamento de rendas, água, luz, gás, material escolar, medicamentos, géneros alimentícios, peças de roupa, e material diverso, num vasto leque da sua presença de solidariedade humana.

A Conferência de S. Vicente de Paulo da Paróquia de S. Martinho da Covilhã, no âmbito das comemorações do seu centenário, reuniu vários elementos de outras Conferências do Conselho de Zona onde se insere, no passado domingo, dia 16 de Outubro, numa Eucaristia de acção de graças, na igreja de Nossa Senhora de Fátima, celebrada pelo assistente espiritual, Padre Agostinho Rafael, que, na sua homilia, referenciou a actividade das conferências, mormente nos dias difíceis que se atravessam, lembrando também quantos já partiram e que deram o seu melhor em prol dos necessitados.

Seguiu-se um almoço de confraternização.

Neste evento esteve presente o Presidente do Conselho Nacional, que há muitos anos se encontra radicado na Covilhã, e o Presidente do Conselho de Zona,

Memorizaram-se tempos e figuras antigas, no âmbito da longa actividade vicentina.
Neste formular de votos de parabéns à Conferência centenária, certamente que também irá o sentir de muitas famílias que aguardam pela sua acção benéfica na ajuda humanitária e que, mais não seja, uma palavra amiga de alento para os dias ainda mais difíceis que se aproximam.






(In Notícias da Covilhã, de 19.10.2011)

6 de outubro de 2011

SPORTING DA COVILHÃ E AS MARAVILHAS NOS NOVE DECÉNIOS

Está em voga seleccionar determinados prodígios da natureza, do património, das belezas, da gastronomia, num lançar de imaginação, como foi também o programa “Os Grandes Portugueses”, finalizado em 2007 pela RTP.

As “7 Maravilhas do Mundo” foram substituídas no dia 7 de Julho de 2007, pelas novas, tendo a cerimónia sido realizada em Portugal. Ao mesmo tempo, foram também eleitas as “7 Maravilhas de Portugal”, e, já em 10/06/2009, surgiram as “7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo”, para, em 12/09/2010, virem a surgir as “7 Maravilhas da Natureza em Portugal”. Foi já este ano que em 10/09/2011 surgiram as “7 Maravilhas da Gastronomia”.

Na Covilhã foram eleitas as “7 Maravilhas Naturais do Concelho da Covilhã”.

Com tanta maravilha, agora já numa situação nostálgica, viro-me para a vertente desportiva com a envolvente do Sporting Clube da Covilhã (SCC), ao voltar a ver, no mesmo escalão desportivo, alguns clubes de outrora, que emparceiraram com o clube serrano nos tempos áureos da então designada Primeira Divisão Nacional (hoje, Primeira Liga – detesto os nomes publicitários), como o Atlético Clube de Portugal, este resultante da fusão entre o União Futebol Clube de Lisboa e o Carcavelinhos Futebol Clube.

Mas, nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado, o SCC defrontou no escalão máximo do futebol português clubes que, exceptuando o Olhanense, Atlético, Leixões e Estoril, se encontram em escalões secundários, alguns mesmo tendo suspendido o futebol sénior: Barreirense, Cuf, Salgueiros, Elvas, Lusitano de VRSA, Oriental, Lusitano de Évora, Torreense e Caldas.

O SCC indubitavelmente continuará a ser o clube mais representativo desta região beirã. Para falar da sua história completa seriam necessárias mais pesquisas, já que muito se dissipou na espuma dos tempos, e, das fontes de figuras vivas, quase todas já desapareceram. Do que foi recolhido, algo teve que ser rectificado na altura, por distorção de informações, quantas vezes resultante do entusiasmo exacerbado no bairrismo.

Assim, dentre os factos registados deste clube histórico, poderemos considerar algumas das que poderão ser as principais “MARAVILHAS DO SCC NOS 9 DECÉNIOS”.

De 1923 a 1932 – Conquista da 1.ª Taça, em 06.01.1924, vencendo o Montes Hermínios por 2-1; depois, a conquista da Taça Carlos Veiga, em 24.01.1926, num importante jogo com o Montes Hermínios, a quem ganhou por 2-0.

1933 a 1942: Construção do Campo ao Cimo do Hospital, designado Estádio Municipal José dos Santos Pinto, iniciado em 1934. A dinâmica da sua construção partiu de António Canaveira e do grupo “capacetes de aço”, coordenados por José dos Santos Pinto. Foi o palco dos grandes feitos do SCC. Participação do SCC na final com o Carcavelinhos, para acesso à I Divisão Nacional, que viria a perder, em Santarém, no dia 30 de Abril de 1939.

1943 a 1952: - Conquista das Taças II Divisão Nacional e “O Século” e subida à I Divisão Nacional (1947/48). As Feiras Populares do Sporting (1949, 1950, 1951 e 1952). Digressão à Alemanha, França e Luxemburgo (1952).

1953 a 1962: - O 5.º lugar alcançado em 1955/56 e a Final da Taça de Portugal, no dia 02.06.1957, com o Benfica. A grande Campanha de Donativos (1955), com Ernesto Cruz à frente. Conquista da Taça da II Divisão Nacional (1957/58).

1963 a 1972: - Grande empenhamento na subida de divisão, e, depois, pela primeira vez na III Divisão, a força da resistência para ultrapassar a crise. Grandes disputas com o Alba e o Naval.

1973 a 1982: - Bodas de Ouro do SCC (1973). Uma equipa “de luxo”, na III Divisão Nacional, sobe à II Divisão (1974/1975). Jornadas de Amizade “Covilhã-Santarém” (1976 e 1977).

1983 a 1992: Arrelvamento do Estádio José dos Santos Pinto. As últimas duas subidas à I Divisão nacional (1984/85 e 1986/87). Conquista da Taça de Campeão da II Divisão (1986/87). Visita do Casal Simony (1990). Homenagem às Velhas Glórias do SCC, pela APAE.(1991). I Torneio Quadrangular Covilhã – Serra da Estrela, com a presença da Union Deportiva de Salamanca (1993).

1993 a 2002: - Bodas de Diamante. Subidas à Liga de Honra (1995/96, 1998/99 e 2001/2002) Entrega dos Silos-Auto ao SCC. Medalha de Mérito Desportivo para o SCC (1999).

2003 a 2012: - Subida à Liga de Honra (2004/2005 e 2007/2008). Comemoração dos 50 anos da Final da Taça de Portugal. (2007). Complexo Desportivo. Nova Sede do SCC. Homenagem a antigos atletas, treinadores e dirigentes do SCC, pelo blogue “Historias do SCC”.

 (In Notícias da Covilhã de 06.10.2011)

22 de setembro de 2011

A FACTURA

Segundo a religião católica, todo o nascituro quando vem à luz do mundo surge impregnado do pecado original.

Desta feita, em Portugal, nascerá com dois pecados, sendo que o segundo é o de ser devedor ao Estado duns milhares de euros.

Que culpa tem o recém-nascido destas vicissitudes da vida, logo na sua génese?

Antes deste documento existir – a factura – surgiram as dificuldades da escrita e as formas de comércio, muito antes de Cristo.

E, a sua origem – a escrita –, data de alguns milhares de anos antes de Cristo, sendo que, por força do destino, dois países que se encontram na génese da mesma – Egipto e Grécia – ainda hoje atravessam grandes dificuldades, sobejamente conhecidas.

Os estados de insuficiência, revelados por sensações desagradáveis de faltas – as necessidades básicas – surgem às resmas, mesmo em pessoas que jamais pensariam que um dia isto lhes acontecesse.

Com estes problemas de falta de recursos, pouco interessa que estejamos num país à beira-mar plantado; que a história nos tenha trazido grandes exemplos de um povo de afirmada valentia; que tenhamos muitos homens de génio; se, contra ventos e marés, não formos capazes de conseguir reduzir o número dos que, numa passividade do “deixa-andar”, se vão enfileirando nos grupos crescentes dos indígenas detestáveis, responsáveis pela irresponsabilidade.

Pelo andar da moeda, voltamos à altura de antes da Idade dos Metais, com as trocas directas, de produtos por produtos. E, então, no salve-se quem puder!...

Nunca tanto se falou de factura, deste documento que toda a gente sabe o que é.

“Já recebi a factura” – é, por vezes, de um grande calafrio, quando se alteram os meios para se conseguir a sua regularização, ou quando, inesperadamente, surgem adicionais à mesma, para além das alcavalas legais, e, então, olhamos para o País e desabafamos: “Isto é o preço da factura!”; “Lá vamos ter que pagar a factura!”

Depois, é preciso não irmos no engodo da simpatia e conferirmos as facturazinhas, já que nem sempre se consegue uma factura pró-forma, com exigência da resposta para serviços não prestados mas debitados, mormente quando é objecto de reembolso por entidades oficiais.

De muitos exemplos, cito os casamentos e os funerais. Dos primeiros, quando chega a altura do pagamento, lá surge o pedido de não facturar na totalidade…que isto não está a dar…

Dos segundos, dá para tudo. Na factura, lá surgem ramos de flores, sem terem sido pedidos; a missa do 7.º dia (que por vezes não é paga à igreja), e, até uma vez se descobriu “o toque do sino”, sem o haver…

Mas voltemo-nos para as facturas mensais dos serviços públicos essenciais que entram nas nossas casas e nos nossos escritórios e estabelecimentos comerciais.

Nestas facturas fazem o que lhes dá na real gana, e o Zé pagante não consegue reclamar porque é na generalidade.

ADC – Águas da Covilhã, EM: para além do que o consumidor gasta exclusivamente em água ainda tem que se pagar taxas para saneamento, resíduos, Taxa R.H. (Min. Ambiente), Taxa C.Q.A. (Min. Ambiente), Taxa RSU (Min. Ambiente), sem sequer informarem o que significam aquelas siglas. Só o conjunto das taxas adicionais são superiores ao consumo da água!

Vamos para a EDP – luxuosamente se incluiu uma contribuição áudio-visual!

Presenteou-nos recentemente a Galp Energia com uma carta a informar que a factura passaria a incluir a Taxa Municipal de Ocupação de Subsolo!

A Cabovisão tem a Taxa Municipal de Direitos de Passagem (TMDP) mas surge a custo zero…

A PT é um desastre com os contratos celebrados, com a oferta de condições, que, depois, se traduzem numa confusão de incumprimentos, levando os clientes a desistirem de reclamar!

Enfim, nesta confusão toda com os serviços indispensáveis, só nos resta o receio que surjam por aí mais algumas taxas: pelos espaços onde caminhamos, pelo ar que respiramos, pela arborização dos jardins, pela iluminação pública, e sei lá que mais, pelo que somos forçados ao grito de BASTA!!!


(In “Notícias da Covilhã” e “Jornal do Fundão” de 22.09.2011)

8 de setembro de 2011

A RUA DIREITA E O ESTACIONAMENTO INDEVIDO

Na intencionalidade de se encontrar uma solução financeira para os problemas comerciais que afectam e degradam a vida dos comerciantes da zona, cujo comércio tradicional foi fortemente abalado com o emergir das grandes superfícies, que, penso, se encontram em exagero nesta cidade, e em outras mais, decidiu a Câmara Municipal da Covilhã deixar que as viaturas estacionem na parte destinada aos peões, embora por um tempo determinado, na chamada Rua Direita, desta cidade.

Acontece porém que, se poucos cumprem o tempo previsível permitido pela edilidade covilhanense para ali se estacionar, a fim de se tratarem assuntos nos vários estabelecimentos comerciais ou de serviços, bem como acompanharem os familiares doentes aos consultórios médicos (penso que quinze minutos), outros usam e abusam do espaço destinado aos peões, no tempo e na sua ocupação, em horários de abertura dos mesmos estabelecimentos.

Os silos-auto, ali tão perto, com muitos espaços disponíveis, ainda são um receio ou confusão para uns quantos, apesar de alguns comerciantes possuírem bilhetes de oferta aos seus clientes, para algumas horas, naqueles silos, pelo que não se compreende que a Rua Comendador Campos Melo, vulgo Rua Direita, se veja forçada a ter que mudar de nome e passar a ser conhecida por “Rua da Bandalheira”.

E, se isto passa à situação de vir a “pagar o justo pelo pecador”, em certos casos, é inconcebível que as viaturas estacionem nos dois lados da rua, embora de um só sentido, a torto e a direito, por tempo indeterminado, obrigando os transeuntes a substituírem-se às viaturas, no local destinado à circulação das mesmas, com os perigos que dai possam advir.

Muitas vezes, na zona mais estreita, em frente ao Banco, alguns condutores estacionam ou param ali as suas viaturas para irem tratar de assuntos, embora perto, penso, sendo confrangedor que uma pessoa que caminhe por aquele sítio, e, encontrando o mesmo impedido, por vezes tenha que aguardar que passem os carros na rua para a mesma depois se ver forçada a ter que também passar a utilizar o mesmo indevido espaço.

A PSP lá vai passando, mas, como infelizmente tem fragilizada a sua autoridade pelos poderes públicos, o que é de lamentar, não pode actuar como devia, ou seja, impondo a sua autoridade numa missão de servir os cidadãos e punir ou admoestar os infractores.

Já lá vai o tempo da “outra senhora” em que a Polícia era vista com outros olhares, e  havia os ”famigerados 23 e 35”, de triste memória, e, já depois do 25 de Abril, uns quantos que abusavam da farda que nunca deveriam ter vestido, pois actualmente a Polícia está diferente, evoluída e com trato mais humano e compreensível.

Deveria, sim, ser investida de mais autoridade, a fim de, pelos seus próprios meios, poder meter na ordem quem transgride duma forma tão notória quão de falta de civismo para com os seus semelhantes.

Para documentar o que atrás me reporto, atentem bem na foto obtida do meu telemóvel, tendo sido forçado a ligar para a PSP da Covilhã, no passado dia 1 de Setembro, eram 17,50, para poder sair do meu escritório. Muitas pessoas e vizinhos presenciaram o espectáculo.

Um condutor, sem consciência alguma, e numa total falta de respeito por quem trabalha, marimbando-se, estacionou o seu automóvel, do lado esquerdo da rua, mesmo juntinho à porta do escritório, de tal forma que nem ele conseguiu sair pelo lado do condutor, nem permitiu que quem estava no escritório pudesse sair sem que tivesse que forçar a mesma, quase tendo que passar por cima do capot.


A PSP, chamada ao local, informou, e lamentou, que não podia fazer mais que autuar o infractor, não podendo rebocar a viatura.

Isto brada aos céus! Se tivesse necessidade de sair com algum volume, ainda que fosse uma pasta ou computador, não podia, por causa duma pessoa sem escrúpulos.

A Câmara Municipal da Covilhã, que tanto faz para que esta Cidade seja de cinco estrelas, não terá uma palavra a dizer, para disciplinar o estacionamento dos veículos nesta rua, e que sejam evitáveis situações como esta, cujo caso não é único, e, ao mesmo tempo, diligenciar para que a nossa PSP tenha também autoridade de cinco estrelas?

(In Notícias da Covilhã, do dia 8/09/2011)

31 de agosto de 2011

“OS BONS MALANDROS”


Não, não é o livro de Mário Zambujal, escritor que muito admiro de longa data; mas, inspirado pela sua veia literária, surgiu-me o tema para esta crónica, após uma breve semana de férias, cujo Verão foi pouco “silly season”.

A geração actual depara-se com uma montanha de problemas, jamais sonhada pelos avós, levando uns quantos jovens, e não só, ao desespero e a enveredar por caminhos ínvios dos quais não se conseguem libertar.

Mas já não são só os da década dos anos dez em que agora estamos que vêem as nuvens negras no pouco espaço laboral que lhes resta, são também as gerações precedentes que aspiravam ao desafogo de uma vida continuada de trabalho para a satisfação normal das suas necessidades básicas, a verem uma travagem forçada na continuidade depois de muitos anos de serviço, mas ainda o não suficiente para as suas reformas.

Os ventos da história trouxeram-nos exemplos de coragem dos portugueses; no enfrentar de grandes dificuldades, desde batalhas, invasões napoleónicas, perda da nacionalidade, governação filipina espanhola; contra toda uma malandragem.

E, até no pós-descobertas, somos confrontados com a doença do medo do nosso rei, fundador da cidade da Covilhã, e levamos com o Ultimato Inglês mas mantemos a Aliança Inglesa. 

Aquilo que se tem passado na Europa, como foi em França com protestos nefastos, e agora no país da rainha mais antiga e rica do mundo, são exemplos de malandros a soldo, não sei com que interesses, quando se fala de jovens e adolescentes na luta. Também o que se passou na Finlândia, país pacífico, foi um acto horrendo de um grande malandro.

E, no ano em que se comemoram tantos eventos, mesmo em período de férias, não se pode olvidar uma certa Primavera muçulmana contra os malandros dos conhecidos déspotas, líderes dos seus povos, como Kadhafi (Líbia),  Mubarak (Egipto), ou Assad (Síria). 

Mas, com novos senhores do mundo, vivemos momentos dramáticos – “erros nossos, má fortuna, ganância alheia” –, com uma dívida pública, a mais elevada dos últimos 150 anos, igual ao PIB, e a dívida externa a maior dos últimos 120 anos.

Neste cheiro a Verão com vento de crise, muitas famílias encontram-se sobreendividadas, mas, paradoxalmente, há uns quantos “malandros”, como administradores de capitais públicos a receberem de indemnizações por despedimentos o mesmo que um trabalhador com o salário mínimo receberia se trabalhasse 265 anos!!!

E num Portugal que terá mais de 900 mil pessoas sem trabalho no final deste ano! Comentários para quê? É pior que o “Muro da Vergonha” que neste mês completou 50 anos que começou a ser construído (Muro de Berlim), felizmente já destruído.

Todos os governos são vistos com os seus “colaboradores” como tendo sempre alguns “malandros”, e, por mais que o não desejássemos, somos confrontados, por vários meios, incluindo a Internet, de informação do recebimento de elevadas somas por isto e por aquilo, de avultadas quantias ilícitas, ordenados/subsídios/compensações; de elevados montantes por cada reunião a que assistem, e um rol de situações de conseguirem “dar a volta ao ceguinho”, que brada aos céus. E vêm para as televisões explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários… São todos sobejamente conhecidos… e não têm vergonha na cara, como dizem os brasileiros.

O actual governo também já tem cumplicidade de muitos dos seus apaniguados, com os bolsos bem servidos, e o que esperamos é que não se alonguem muito no desejo do vil metal, e que não passem para além de “bons malandros”.

Não queremos ser Velhos do Restelo, e, por isso, uma palavra de grande apreço e esperança pelo grande encontro em Madrid, dos milhares de jovens, incluindo portugueses e alguns covilhanenses, que ali estiveram com o Papa Bento XVI, neste mês de Agosto, na Jornada Mundial da Juventude, sintoma de que há que contar com eles; muitos, prontos já para ligarem o “turbo” para as suas vidas.

(In Notícias da Covilhã, de 31.08.2011)

18 de agosto de 2011

Na 73ª. Volta a Portugal em Bicicleta – 11ª Etapa Aveiro – Castelo Branco, no dia 11 de Agosto de 2011


A patrocinadora da Volta – Liberty Seguros – com o seu embaixador Cândido Barbosa


João de Jesus Nunes, Directores da Liberty Seguros, Gerente, Gestores de Negócios

e Gestoras de Clientes dos Espaços de Castelo Branco e Covilhã, e muitos Colegas de profissão desde Covilhã, Fundão, Castelo Branco e Sertã.


O entusiasmo da Liberty na Volta e o facebook.com/EuRespeitoaEstrada













QUE ENSINO EM PORTUGAL?

Posto Escolar Masculino da Borralheira - 1938-1940

Depois do rumo que o País tem levado em termos de cultura, fundado pelo iletrado mas aguerrido, vitorioso e espertíssimo D. Afonso Henriques, para uns, mas que sabia escrever e endereçou cartas ao Papa Inocêncio II, para outros, o que é certo e verdade é que, volvidos quase 868 anos sobre a independência de Portugal, e 900 anos sobre o nascimento do primeiro rei português, há que repensar o caminho menos certo no âmbito do ensino.

O facilitismo das “Novas Oportunidades” em que se conclui, num ápice, o 9.º e o 12.º ano, muitas vezes copiando tudo da Internet, em vez de se pesquisar e ir impregnando as pesquisas, com termos próprios e não plagiados, no âmbito dos conhecimentos adquiridos, é um exemplo de como o rei vai nu.

Mas a mesma permissividade encontra-se, de quando em vez, na obtenção de certas licenciaturas (com exames aos domingos…), mormente nos momentos políticos da sociedade de hoje. É um atentado sobre a real cultura em Portugal. Para altos cargos políticos, quem não for “doutor” fica incomodado, e, assim, vemos diplomas de licenciados a cair do céu.

A antiga 4.ª classe, o antigo 5.º ano liceal ou os equiparados cursos comerciais ou técnicos, dos anos 50 e 60 do século passado, eram um autêntico alfobre de conhecimentos, com as exigências nesse ensino, contrastando com o laxismo de hoje, em que se chega ao cúmulo de obrigar a passar um aluno que deveria ser reprovado!

Mas nos tempos actuais o que é preciso é reduzir o índice de iletrados de qualquer maneira, e manter um aparente valor percentual elevado em literacia, aos olhos dos europeus.

Voltei a consultar o livro da covilhanense Dr.ª Adélia Mineiro – “Valores e Ensino no Estado Novo, Análise dos Livros Únicos” – e, ainda que numa certa nostalgia da minha aprendizagem nos tempos d’outrora, não aceitando contudo as correntes da ditadura, voltei a ficar deslumbrado com a forma simples, esclarecedora e cronológica como apresentou a vivência dum tempo de ensino sem liberdade, e no séquito das intenções salazaristas nomeadamente no que á mulher dizia respeito.

Vale a pena ler este livro, para recordar o passado e verificar que, infelizmente, quando se esperava que volvidos 37 anos do 25 de Abril, a cultura tivesse levado um forte avanço, constatamos, afinal, ainda muitas lacunas.

Segue um exemplo de como eram as dificuldades do ensino nas décadas de 30 a 60 do século passado, com os professores auferindo vencimentos muito reduzidos. Empenhavam-se fortemente e com alma, no exercício duma actividade que adoravam, duma verdadeira vocação. José Martins Nunes, se fosse vivo completaria um século em Dezembro próximo. Ainda hoje, alguns seus antigos alunos recordam os tempos em que ele foi seu professor, quer pela via do ensino oficial quer particular, em cursos diurnos e nocturnos, na Casa do Povo do Bairro do Rodrigo, iniciando em 07/01/1938, depois no Posto Escolar Masculino da Borralheira, então recentemente criado, assim como em comissões de serviço, na Escola Central Masculina da Covilhã, em 1944; no ano seguinte em Aldeia do Carvalho (alguns seus alunos da Escola da Borralheira, das zonas da Pousadinha e Lameirão quiseram assistir ali às suas aulas), para de 1945 a 1948 ter sido colocado em Casegas. Aqui foi professor da 4.ª classe de três alunos que vieram a ser padres, entre os quais o antigo director do Notícias da Covilhã, Dr. José de Almeida Geraldes, assim como dos que vieram a ser jesuítas – José Gaspar Pires e António Costa e Silva.

Professor Martins Nunes com os alunos - 1938-1940

Como professor, terminaria a sua carreira em 1948/1949, na Borralheira (Covilhã), onde aqui, quando foi nomeado e iniciou as suas funções, não havia sala para a aula, nem carteiras para os alunos se sentarem, nem material didáctico nenhum, tendo ele que tratar de tudo, ficando o pagamento da renda da escola à sua responsabilidade, com o auxílio dos alunos.

Face a esta vida martirizada, de enormes sacrifícios, pediu a exoneração em 1/10/1949.

Durante muitos anos, até à sua aposentação, passou a desempenhar funções na antiga biblioteca municipal. Sempre com o gosto pelo ensino, veio a obter autorização para leccionar cursos nas suas horas livres, regendo um curso de adultos da Empresa Transformadora de Lãs, na Escola Central da Covilhã, durante três anos; e, por último, o Curso de Educação de Adultos na Cadeia Comarcã da Covilhã, durante doze anos, criado propositadamente para si.

Posto Escolar da Borralheira, em dia de festa da Escola, na mesma época da anterior
(In Notícias da Covilhã, de 18.08.2011)